Brasil

Reforma Tributária: Parlamentares do PT se dividem em relação a isenção fiscal e irrita Lula

Sem apoio integral de petistas do Sul e Sudeste, benefício ao setor automotivo do Norte e Nordeste foi retirado por um voto

Dos 68 deputados petistas, 17 foram contra o benefício ou se ausentaram, contribuindo para a derrota (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Dos 68 deputados petistas, 17 foram contra o benefício ou se ausentaram, contribuindo para a derrota (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 23 de julho de 2023 às 09h39.

Com apoio de parlamentares do PT, a retirada de benefícios fiscais para a indústria automotiva nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, no âmbito da Reforma Tributária, gerou fogo amigo no partido e irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As isenções foram um pedido do próprio Lula e atenderiam especialmente o parque industrial de estados como Bahia e Pernambuco, mas caíram na reta final da análise do texto na Câmara, por um voto. Dos 68 deputados petistas, 17 foram contra o benefício ou se ausentaram, contribuindo para a derrota.

Segundo um interlocutor da cúpula do PT, Lula externou sua insatisfação ao líder do partido na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR), por ter liberado a bancada na votação deste item. O próprio Zeca foi um dos cinco deputados que não depositaram voto.

No Paraná, a também deputada Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, que rivaliza com o colega nas articulações para concorrer à prefeitura de Curitiba e a uma futura vaga ao Senado, votou a favor das isenções.

O benefício à indústria automotiva foi alvo de um destaque supressivo do PL. Eram necessários 308 votos na Câmara para manter a versão original do relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que previa as isenções, mas houve 307.

Lideranças do PT no Nordeste reclamam que os votos contrários no partido vieram principalmente de parlamentares do Rio, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, estados que têm parques automotivos.

Nos três casos, assim como no Paraná, os governadores fazem oposição a Lula, mas têm diálogo com parlamentares petistas. Nesses estados, mais da metade da bancada do PT ajudou a derrubar as isenções para outras regiões; considerando todos os partidos, apenas dois em cada dez deputados apoiaram o benefício.

" Talvez os deputados desses estados quisessem ficar bem com seus governadores. O PT teve um número grande de deputados que se ausentaram e votaram contra, mas isto será tratado em um segundo momento — afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Articulação no nordeste

Aliado do governador da Bahia, o petista Jerônimo Rodrigues, e membro da federação partidária capitaneada pelo PT, o deputado federal Bacelar (PV-BA) afirmou que colegas do Sul e do Sudeste tomaram o lado de montadoras de veículos nos seus estados.

" Lula não ficou satisfeito e fez censuras a deputados da nossa base que votaram contra o Nordeste"— disse Bacelar.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), já articula com a bancada da Bahia e de outros estados do Nordeste para incluir novamente as isenções fiscais na reforma, com validade até 2032. Em caso de modificações da reforma no Senado, o texto volta para a Câmara. A aposta de petistas é que o senador Eduardo Braga (MDB-AM), relator do texto no Senado, estará aberto à inclusão, já que o Amazonas também é beneficiado pela medida.

O tema é caro à bancada baiana por conta do esforço, com aval de Lula, para atrair ao estado a montadora chinesa BYD, que produz carros elétricos. A empresa negocia a compra da antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA), desativada em 2021.

"Tenho o compromisso do relator e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de que vão recolocar os incentivos, até porque não é só a BYD "— declarou Wagner.

Como o peso de cada estado é igual no Senado — diferentemente da Câmara, onde as bancadas estaduais seguem a proporção populacional —, até mesmo parlamentares contrários ao benefício reconhecem que os colegas do Norte e do Nordeste tendem a formar maioria.

Há críticas dentro do PT, no entanto, à mensagem sinalizada pelas isenções.

— Não acho que isso vá se transformar numa guerra interna, nem demandará muito esforço do governo para passar. Só que o texto é ruim, porque vai na contramão do espírito da reforma, de acabar com essa guerra fiscal entre os estados — avaliou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributáriaLuiz Inácio Lula da Silva

Mais de Brasil

Defesa de Collor reitera pedido por prisão domiciliar com atestado de Parkinson e transtorno bipolar

Gilmar Mendes retira pedido e julgamento de Collor segue no plenário virtual

Bolsonaro segue na UTI, 'sem febre ou alterações da pressão', diz boletim médico

Desaceleração no fim de 2024 faz Brasil cair seis posições em ranking global da produção industrial