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Referência a Mussolini feita pelo Brasil na OIT fica de fora de ata

Governo fez referência a ditador italiano para falar sobre sindicatos durante reunião para decidir se reforma trabalhista viola convenções trabalhistas

Reforma trabalhista: ministro do Trabalho mandou um recado aos sindicatos brasileiros: "vão ter de trabalhar muito mais" (Veja/Dedoc)

Reforma trabalhista: ministro do Trabalho mandou um recado aos sindicatos brasileiros: "vão ter de trabalhar muito mais" (Veja/Dedoc)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de junho de 2018 às 15h33.

Última atualização em 7 de junho de 2018 às 17h50.

Genebra - A referência que o governo brasileiro fez a Benito Mussolini durante a reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para se referir aos sindicatos não consta da ata da reunião, preparada pela entidade.

Na terça-feira, dia 5, num encontro com vaias, aplausos, acusações e duras ameaças, o Brasil foi avaliado pelo Comitê de Normas da OIT, depois que a reforma trabalhista do País foi alvo de uma denúncia. Nesta quinta-feira, 7, uma conclusão deve ser anunciada pela OIT se a entidade considera que o Brasil viola ou não as convenções trabalhistas.

A participação do governo brasileiro gerou uma polêmica entre os trabalhadores. Num discurso duro, o ministro do Trabalho, Helton Yomura, atacou os peritos da OIT, alertou sobre o risco de a entidade se tornar "irrelevante" e mandou um recado aos sindicatos brasileiros: "vão ter de trabalhar muito mais".

Mas foi sua referência explícita ao regime fascista italiano que despertou um mal-estar entre os sindicatos. "Não são os trabalhadores que estão sendo prejudicados pela modernização, mas alguns sindicatos acostumados a viver à sombra do Estado e sem nenhum compromisso com os trabalhadores que dizem representar", insistiu o ministro.

Para ele, "pôs-se fim, com a reforma trabalhista, a uma provisão que foi criada nos anos 1940 por um governo que queria os sindicatos sob seu controle e que se inspirava, para tanto, na experiência da Itália de Mussolini". "Para alguns, isso parece ser uma situação defensável ainda hoje", disse o ministro.

Durante a reunião, os sindicatos protestaram. "Isso é um insulto, mencionar Mussolini. Não podemos aceitar e pedimos que o governo brasileiro se retrate", disse Fernando Gambera, sindicalista uruguaio. O ministro brasileiro, em suas conclusões finais, não tocou no assunto e não se retratou.

Na quarta-feira, 6, porém, ao publicar um rascunho da ata do encontro, a referência explícita a Mussolini não constava. "A reforma acaba com a provisão que foi criada nos anos 1940 por um governo que queria manter os sindicatos sob controle", se limita a dizer a ata, quando se refere ao discurso oficial do Brasil.

O documento da OIT tampouco faz referência ao protesto do sindicalista uruguaio e nem seu pedido para que o ministro se retratasse.

Também em protesto ao discurso do governo, as centrais sindicais presentes em Genebra decidiram "de forma unânime e unitária" que não participariam de um encontro programado com o ministro do Trabalho e marcado para ocorrer nesta quarta-feira.

Procurado, o Ministério do Trabalho afirma que não fez qualquer tipo de solicitação sobre a ata e indicou que o documento apenas traz extratos do discurso.

Já a OIT não respondeu aos pedidos da reportagem para explicar o motivo da ausência do trecho sobre Mussolini em sua ata da reunião.

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