O prefeito de São Paulo Fernando Haddad e a presidente Dilma Rousseff em cerimônia (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2016 às 11h24.
São Paulo - Em outubro deste ano, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, anunciou que a reeleição de Fernando Haddad é prioridade "número um" do partido. A análise do quadro atual permite dizer que a reeleição dele é essencial para o futuro do partido de Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad é prefeito da maior capital do País, terceiro maior orçamento (atrás da União e do Estado de São Paulo). Fora a capital paulista, o PT tem prefeitos em outras três capitais menos relevantes politicamente - Paulo Garcia, em Goiânia; Luciano Cartaxo, em João Pessoa; e Marcus Alexandre, em Rio Branco. Esses fatores já seriam suficientes para a priorização de sua campanha pelo partido, mas, além disso, o PT passa por uma crise profunda.
Com a presidente Dilma Rousseff sob ameaça de impeachment e o nome de pessoas próximas ao ex-presidente Lula ligado a denúncias de corrupção, o partido vê sua popularidade em queda livre. Pesquisa Datafolha em novembro mostrou que o partido tem a menor taxa de simpatia entre paulistanos em sua história: 11% (o recorde foi de 35%).
O prefeito de São Paulo tem uma cara jovem, moderna e com uma aparência de retidão na vida pública que poderia ajudar a melhorar a imagem do PT.
"Ele tem esse progressismo remoçado, que é importante em termos de carreira política atualmente, nessa fase de cansaço da população com a política", avalia Humberto Dantas, professor de ciência política do Insper, ao lembrar as políticas que são marcas do prefeito na cidade, como as ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, o fechamento da Paulista, as centrais de triagem e as sacolinhas para reciclagem de lixo. "São medidas ousadas, que conquistam mas também polarizam de forma extrema. As pessoas adoram ou odeiam as ciclovias, por exemplo."
Por outro lado, o especialista aponta que Haddad precisa evitar sua postura de arrogância. "Por vezes ele é extremamente arrogante, assume um perfil de acadêmico incontestável e se impacienta facilmente, isso é ruim em uma campanha. Não existe nada inquestionável em uma democracia", alerta o professor.
Em entrevista ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, em novembro, Haddad chegou a dizer que não há oposição à sua altura na cidade. Em outubro, ao jornal El País, o petista afirmou ser "um agente da civilização contra a barbárie". Dantas avalia que Haddad não tinha essa postura quando venceu em 2012. "Lá atrás quem tinha essa postura impaciente era José Serra (PSDB) e deu no que deu", lembra o professor. O tucano perdeu no segundo turno para o petista.
Adversários em 2016
Apesar de Celso Russomanno (PRB) vir despontando nas pesquisas, com mais de 30% da preferência do eleitorado, a avaliação tanto da equipe de Haddad como de analistas externos é que o deputado federal tem fragilidades e cairá sozinho. Nesse cenário, a maior adversária do prefeito seria a senadora Marta Suplicy (PMDB). Ex-petista, Marta é também ex-colega de Haddad. Ele participou da gestão dela enquanto prefeita (2005-2008). Os dois devem disputar o eleitorado historicamente ligado ao PT.
Ela recuperará marcas de sua gestão que se confundem com as de Haddad, como os Centros de Educação Unificadas (CEUs), faixas de ônibus e o bilhete único. Programas que Haddad argumentará ter ampliado e melhorado.
O fator partidário também mostra uma tendência de disputa com a senadora. Marta atropelou o acordo que PT e PMDB haviam acertado no início de 2015 e previa o hoje secretário Gabriel Chalita como vice na chapa de reeleição. Chalita segue firme em declarações de que tentará ser o candidato pelo partido, em uma tentativa de ajudar Haddad, impondo um obstáculo interno a Marta no PMDB. Especula-se que ele pode sair do partido pra ser vice do petista por outra agremiação, mas só deve fazê-lo no limite do prazo.
"A disputa de Haddad é com Marta, enquanto Russomanno, Datena (PP) e o candidato do PSDB tendem a disputar outra categoria de eleitor", avalia Humberto Dantas, do Insper.
A avaliação do especialista é que, se o debate se centrar em políticas na cidade e se Haddad controlar a arrogância, suas chances eleitorais aumentam. Se o debate girar em torno de PT e Lava Jato, sua viabilidade eleitoral cai. "Se for um debate centrado na cidade, ele vai ser tenso e intenso, mas com chances de Haddad convencer que as iniciativas do seu governo foram razoáveis. Se caminhar para o cenário partidário nacional, ele efetivamente estará em risco. Vai ser difícil pedir voto para o PT no ano que vem."
Se conseguir a reeleição, Haddad terá vencido resistências no Estado que mais deu votos ao tucano Aécio Neves na eleição presidencial de 2014 e é governado pelo PSDB há 20 anos e poderá sinalizar a possibilidade de renovação nos quadros petistas.
Periferia
A direção petista municipal disputa espaço nas decisões estratégicas de pré-campanha com o núcleo montado por Haddad e pressiona o prefeito a focar em ações na periferia. Reunidos no início de novembro, vereadores e a executiva municipal sugeriram que o prefeito "gaste sola de sapato" e "inverta prioridades" - em crítica indireta às medidas vistas por petistas como mais "estéticas", como as ciclovias, mas não tão efetivas como construção de escolas e hospitais.
Os números justificam a preocupação do partido com o setor da população que tradicionalmente sempre o apoiou. O mesmo levantamento do Datafolha de novembro mostrou que 15% dos paulistanos aprovam a gestão de Haddad. Entre os mais pobres, a taxa cai a 12%. Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo em julho mostrou que o prefeito cumpriu um quarto das metas de campanha. Para a periferia, prometeu três hospitais e dois deles (Parelheiros, na zona sul, e Brasilândia, na zona norte) tiveram as obras iniciadas apenas em 2015. Nas áreas de educação e urbanismo, a gestão também ficou devendo obras.
Nos últimos meses de 2015, Haddad passou a uma estratégia mais evidente para tentar recuperar espaço com o eleitorado historicamente alinhado ao PT. O prefeito programou cerca de 300 inaugurações para o fim de ano, a maioria em bairros mais distantes do centro. Na lista, hospitais, unidades básicas de saúde, de pronto-atendimento, creches, escolas, corredores de ônibus, obras de urbanização de favelas, parques, pontes, viadutos, canalização de córregos.
Marta, logo depois de entrar no PMDB, em setembro, vem trilhando o mesmo caminho. Em franca pré-campanha, a senadora tem usado praticamente todos os finais de semana em São Paulo desde então para circular na periferia, onde tem mais apoio. Faz de visitas a CEUs a participações em churrascos e casamentos comunitários. O ano de 2016 mal começou e a disputa já está acirrada.