Abertura a outros pontos de vista ajuda a ocnter polarização (twinsterphoto/Thinkstock)
Colunista
Publicado em 22 de setembro de 2024 às 13h54.
"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”, já dizia o saudoso Ariano Suassuna. Porém, confesso que, dadas as atuais circunstâncias da polarização política brasileira, estou mais para um realista desesperançoso.
Li um artigo recente cujo título é “Polarização enrijecida” do professor Marco Aurélio Nogueira, no Estadão, em 27/07/24. Reproduzo a seguir um trecho do texto: “As polarizações não se distinguem pela apresentação de projetos consistentes de sociedade. Movem-se, sim, por elucubrações fantasiosas, desinformação e narrativas passionais, com as quais buscam excitar e seduzir mentes e corações. Numa polarização enrijecida, o antagonismo é estreito: nós contra eles. Não há um terceiro termo com capacidade de dissolver a contraposição dos pólos. Por esse motivo, quase não se tem avanços, porque a energia se desperdiça na negação que um pólo faz do outro. Não sobra espaço para a formulação de projetos consistentes”.
Me valho aqui também das reflexões do ex-ministro Pedro Malan, ao citar o escritor Norberto Bobbio, no Estadão em 10/08/23: “É preciso respeitar as ideias alheias, deter-se diante do segredo de cada consciência, compreender antes de discutir, discutir antes de condenar e rejeitar todo o tipo de fanatismo”. Segundo Malan, a lição de Bobbio se encaixa perfeitamente no Brasil e em vários outros países que se enredaram numa pobre e calcificada polarização política.
O que fazer então para mudar este quadro? Com a palavra os cientistas políticos, os sociólogos e os antropólogos. Porém, tentarei contribuir com algumas reflexões extraídas do livro Think Again (Pense de Novo) de Adam Grant, o renomado professor e autor americano.
De acordo com Grant, num mundo turbulento e em constante mudança, a capacidade de repensar e reaprender pode ser tão ou mais importante do que a própria inteligência.
Segundo Grant, muitas vezes hesitamos em reavaliar as nossas convicções exatamente para não sentirmos a angústia da incerteza. A consequência é criarmos pensamentos e hábitos arraigados que acabam nos trazendo prejuízos: podemos permanecer ilusoriamente seguros no emprego, manter um casamento desgastado, fazer um investimento desastroso ou adular cegamente líderes políticos demagógicos.
Grant defende o constante autoquestionamento, o que não significa que se deve abandonar convicções. O importante é evitar a arrogância. É preciso chegar num estado que Grant chama de “confiança com humildade”. Isto é, acreditar na própria capacidade, porém estar sempre aberto para a possibilidade de não se ter a solução do problema.
Trocando em miúdos, é preciso ter a capacidade de repensar e reconsiderar as nossas opiniões; aceitar que nem sempre devemos priorizar o conforto das convicções em detrimento do desconforto das dúvidas; buscar as informações que desafiem as nossas ideias, e não apenas aquelas que as confirmam; e, por último, mas não menos importante, desenvolver a habilidade de nos colocar no lugar do nosso interlocutor, a fim de tentar entender seus argumentos, e não apenas combatê-los.
Você pode não concordar com as ideias expostas neste texto, porém o simples fato de lê-lo até o final e, quem sabe, poder refletir um pouco sobre o seu conteúdo, já faz reacender a minha esperança.
Fernando Goldsztein é fundador do The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Childrens National Foundation