Quilombolas: segundo presidente da Associação dos Quilombolas, Valdir José Leite, duplicação da ferrovia vem trazendo impactos negativos para a comunidade (Valter Campanato/ABr)
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2014 às 16h49.
Sorocaba - Moradores do Quilombo do Carmo, em São Roque, querem ser compensados pelos impactos da ferrovia que há quase um século corta a região.
A questão será discutida neste sábado, 1º, numa reunião com representantes da Fundação Palmares e do Ministério Público Federal (MPF), que tutela os direitos dos quilombolas.
O projeto, da concessionária America Latina Logística (ALL), prevê uma nova linha ao lado da que foi construída em 1928 pela extinta Estrada de Ferro Sorocabana (EFS). O encontro será realizado na capela de Nossa Senhora do Carmo.
De acordo com o presidente da Associação dos Quilombolas, Valdir José Leite, a duplicação da ferrovia vem trazendo impactos negativos para a comunidade, como o aumento no nível de ruído e abalos na estrutura das casas.
"Não é seguro, os trens passam ao lado das casas e, depois que a obra for terminada, vão passar 80 trens por dia aqui", reclamou.
Segundo ele, além da mitigação dos impactos, os quilombolas querem uma compensação pelos transtornos que passaram a ter. "Por sermos uma comunidade quilombola, temos direito a sermos consultados sobre a obra e de sermos compensados por esses impactos todos. A reunião é restrita aos moradores da comunidade.
O superintendente de Segurança e Meio Ambiente da ALL, Evandro Abreu de Souza, disse que o traçado original da ferrovia já previa uma segunda linha.
O projeto de duplicação da ferrovia de Campinas a Santos começou em 2010 e vai aumentar a capacidade de escoamento de carga para o Porto de Santos.
Segundo ele, o projeto foi licenciado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Palmares estabeleceu programas de mitigação dos impactos na área quilombola que serão discutidos com a comunidade.
De acordo com o diretor da Fundação Palmares, Alexandro Reis, que participará do encontro, a comunidade alega estar sofrendo impactos que não foram considerados nos estudos já apresentados ao Ibama.
"Se houve novos impactos ou um agravamento naqueles que já foram objeto de estudo, vamos fazer uma nova avaliação e apresentar ao órgão licenciador e ao empreendedor", disse.
O Quilombo do Carmo é formado por descendentes de escravos da Ordem do Carmo, ordem religiosa que possuía, em 1723, uma fazenda em São Roque, somando 2.175 alqueires. A área foi repassada à comunidade. Com o passar dos anos, os quilombolas foram perdendo suas terras e atualmente possuem apenas seis alqueires.