Sergio Moro: ministro deixou uma entrevista coletiva após ser questionado sobre a PF (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de setembro de 2019 às 13h28.
Última atualização em 4 de setembro de 2019 às 16h08.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deixou uma entrevista coletiva convocada pelo pasta nesta quarta-feira, 4, sem responder a uma pergunta sobre se haverá uma troca no comando da Polícia Federal (PF).
Nesta quarta-feira, ele participou por cerca de 3 minutos da entrevista coletiva sobre a 5ª fase da Operação Luz da Infância.
Fez um panorama geral sobre a operação, que investiga autores de crimes de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados na internet, e disse que precisava deixar o auditório porque tinha um outro compromisso.
Foi quando, perguntado sobre o comentário do presidente relacionado a uma troca do diretor-geral da PF, Moro manteve o silêncio e foi embora.
O presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao jornal Folha de S Paulo na terça-feira, 3, chamou de "babaquice" a reação de integrantes da PF a declarações dele sobre trocas na corporação.
Ele disse que já conversou com Moro sobre possível mudança na direção da PF, que afirmou precisar de uma "arejada".
"Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar o diretor-geral, Maurício Valeixo quando quiser", disse o presidente.
Na semana passada Moro defendeu Valeixo, disse que estava realizando um trabalho "extraordinário", ao mesmo tempo que defendeu Bolsonaro, que vinha sendo alvo de críticos apontando afastamento do presidente das pautas de combate a corrupção que marcaram a campanha eleitoral.
O comentário de Bolsonaro torna clara a continuidade da pressão sobre Moro para que aceite a troca no comando da PF desejada pelo presidente, que não gosta de ser contrariado.
Entre a cruz e a espada, se o ministro atender à solicitação do presidente e concordar com a saída de Valeixo, perderá o controle sobre a corporação. Nem o Ministério da Justiça nem a PF comentaram a declaração do presidente.
Nos bastidores da PF, o clima segue sendo de apreensão quanto a uma mudança. Aliados de Valeixo na cúpula do órgão admitem reservadamente que podem entregar o cargo em caso de demissão.
A Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF) já se posicionou contra uma possível interferência de Jair Bolsonaro na PF.
A associação disse que uma mudança imposta pelo presidente causaria instabilidade e que é preciso fortalecer a instituição por meio da aprovação no Congresso da autonomia da PF.
"Já falamos o que tínhamos para dizer. Agora é aguardar se vai vir o ato de troca concreto e, a partir daí, sim, nos manifestarmos", disse nesta quarta-feira o presidente da ADPF, Edvandir Paiva.
Contexto
Bolsonaro provocou uma crise com Moro e a PF no mês passado ao indicar uma troca na chefia da Superintendência da PF no Rio de Janeiro, unidade que investiga seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Depois, questionado sobre uma possível ingerência no órgão, o presidente disse que era ele quem mandava na PF e, se fosse o caso, poderia mudar o diretor-geral. O presidente posteriormente usou um evento no Planalto para elogiar Moro e tentar acalmar o desgaste, que agora se renova.
No mês passado, a ADPF divulgou a chamada Carta de Salvador, na qual defende que "é necessário e urgente que a Polícia Federal conquiste garantias constitucionais e legais para se tornar, de fato e de direito, uma polícia de Estado e não de governo".
Na entrevista à Folha, Bolsonaro disse que mudanças feitas em superintendências da PF foram a razão de sua crítica à direção da polícia. "O motivo foi a troca de 11 superintendentes sem falar comigo. Fui sugerir para o Rio um de Manaus, aí teve essa reação toda. Isso é babaquice", afirmou.
O presidente ainda negou que sua interferência na PF tenha relação com investigações envolvendo seu filho Flávio. "Já investigaram a vida da minha família inteira e não acharam nada".
Segundo a Folha, Bolsonaro disse que não há, por enquanto, nenhuma definição sobre prazo de troca na PF, apesar de sua insatisfação.
(Com Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília)