Bolsonaro: o presidente eleito transferiu suas contas pessoais para a Secretaria de Comunicação (Jair Bolsonaro/Reprodução)
Clara Cerioni
Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 13 de janeiro de 2019 às 09h34.
São Paulo — Nas primeiras semanas do ano, o governo de Jair Bolsonaro já provou que o papel das redes sociais será determinante para entender as decisões oficiais dos próximos quatro anos.
Em dez dias, o presidente quebrou o protocolo e divulgou pela primeira vez na história do Brasil, a foto oficial de um presidente da República no Instagram e no Twitter.
Antes disso, por decreto, Bolsonaro transferiu a administração das “contas pessoais das mídias do presidente da República” para a Secretaria de Comunicação, como forma de manter os princípios de “legalidade, impessoalidade e moralidade".
A decisão causou polêmica entre os brasileiros, uma vez que Bolsonaro não usa suas redes apenas para anunciar medidas do governo.
Ele também tem bloqueado jornalistas e “curtido” perfis fakes — que simulam contas oficiais usando a mesma imagem e trocando apenas uma letra no nome do usuário, por exemplo.
O presidente parece seguir o exemplo do presidente americano Donald Trump, que usa o Twitter intensamente e de quem é admirador confesso.
Para acompanhar as movimentações partidárias e a repercussão dos assuntos do momento, será preciso ficar atento nas redes sociais. Para ajudar a direcionar os leitores, EXAME preparou uma lista de personalidades, confira:
Assim como o pai, os três filhos mais velhos de Bolsonaro também são bastante ativos nas redes sociais — principalmente no Twitter.
Os três mantêm um padrão de fazer publicações contestando reportagens que saíram na mídia, além de compartilhar conteúdos publicados em páginas que satirizam os veículos de imprensa.
Eles também costumam publicar imagens de agradecimento, sempre que o número de seguidores atinge patamares elevados.
Vocês nos dão essa força! 🙏🇧🇷👊 pic.twitter.com/QpyWjZ6ci0
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) January 5, 2019
Dentre os três, o deputado federal Eduardo (@BolsonaroSP) é campeão em seguidores, com 1 milhão de contas acompanhando suas postagens.
Entre publicações próprias e compartilhamentos, ele tuíta, em média, 12 vezes no dia, com picos que chegam a 27 tuítes.
Em seguida está o agora senador Flávio (@FlavioBolsonaro), com 904 mil seguidores. Suas publicações são mais espaçadas, com média de seis por dia.
Antes da revelação do relatório do Coaf, em dezembro, das movimentações atípicas do seu ex-assessor Fabrício Queiroz, ele costumava escrever mais na rede social. Agora, há períodos em que ele fica 10 dias sem postar no Twitter.
Apesar de ter sido o administrador das contas de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, além de vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos (@CarlosBolsonaro) é o que menos interage com seus 779 mil seguidores. Há uma média de cinco postagens por dia — a maioria retuítando conteúdos de terceiros.
A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também utiliza a rede social, com o usuário @ASCOMJMB, nome utilizado, normalmente, por assessorias de comunicação. Mas sem fazer publicações diárias, a maior parte de seu conteúdo é compartilhamento do que o presidente eleito publica em seu perfil.
Sob o usuário @OlavoOpressor, o guru filosófico da família Bolsonaro, Olavo de Carvalo, comenta sobre qualquer assunto que está em alta nas redes sociais.
Ele foi responsável pela indicação de pelo menos dois ministros do novo governo, Ernesto Araújo e Ricardo Veléz Rodriguez, e exerce bastante influência nas opiniões de seus 66,6 mil seguidores.
Pela milésima vez: Sentir-se ofendido é sinal de baixeza. Mesmo quando você foi ofendido realmente.
— Olavo de Carvalho (@OlavoOpressor) January 10, 2019
Com o Twitter caminhando para se tornar a rede social oficial de anúncios do novo governo, alguns membros da equipe de Bolsonaro decidiram ingressar na rede social.
O vice-presidente e general aposentado Hamilton Mourão (@GeneralMourao) é um dos mais ativos. Com 202 mil seguidores, ele costuma escrever sobre as decisões da gestão e também compartilha reuniões com autoridades e representantes de entidades.
Recebi no Gabinete de Transição, em Brasília, representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, quando conversamos sobre as possibilidades de comércio e investimentos no Brasil dos 22 países árabes representados pelo órgão. pic.twitter.com/gcEuDnUgZU
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) December 18, 2018
Dos 22 ministros empossados, nove são ativos no Twitter. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (@onyxlorenzoni), é o que tem o maior número de seguidores, 162 mil. A maior parte de suas publicações são retuítes da página oficial do governo, a @planalto, e do presidente.
Ernesto Araújo (@ernestofaraujo), das Relações Exteriores, reúne 151 mil seguidores. Ele é um dos que faz anúncios oficiais, como a demissão do ex-presidente da Apex, Alex Carreiro, neste semana.
O demitido continuou indo trabalhar alegando que não havia pedido para sair, como disse Araújo, e que sua demissão só poderia ser feita pelo presidente, gerando uma crise no governo.
O Sr. Alex Carreiro pediu-me o encerramento de suas funções como Presidente da APEX. Agradeço sua importante contribuição na transição e no início do governo. Levei ao PR Bolsonaro o nome do Emb. Mario Vilalva, com ampla experiência em promoção de exportações, para Pres. da APEX. pic.twitter.com/e15qc5BAaa
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) January 9, 2019
90 mil pessoas acompanham as poucas publicações que Marcos Pontes (@Astro_Pontes), ministro da Ciência e Tecnologia, faz no Twitter. O astronauta costuma divulgar as entrevistas que concede para a imprensa.
Ricardo Vélez Rodriguez (@ricardovelez), chefe do MEC, tem 69,9 mil seguidores. Ativo na rede social, ele publica as decisões de sua gestão, normalmente em terceira pessoa. É provável que sua conta seja administrada por um assessor.
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, decidiu tornar sem efeito o 5º Aviso de Retificação do edital do PNLD 2020, publicado no dia 2 de janeiro, tendo em vista os erros que foram detectados no documento cuja produção foi realizada pela gestão anterior do MEC.
— Ricardo Vélez (@ricardovelez) January 9, 2019
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (@rsallesmma) é acompanhado por 38 mil pessoas. Ele não usava a rede social desde outubro, mas em 5 de janeiro voltou a fazer publicações.
Na semana passada, uma de suas postagens, sobre o processo de licitação de veículos do Ibama, levou a presidente do instituto a se demitir.
Quase 30 milhões de reais em aluguel de carros, só para o IBAMA.... pic.twitter.com/flxvD7GoF1
— Ricardo Salles (@rsallesmma) January 6, 2019
Ainda com a capa de sua vitória como deputada federal, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (@TerezaCrisMS), reúne 33 mil seguidores. Pouco ativa no Twitter, ela costuma compartilhar apenas reuniões pontuais com representantes do exterior.
Outro ministro que utiliza a rede social é o da Cidadania, Osmar Terra (@OsmarTerra). Com 28 mil seguidores, a maior parte de suas poucas postagens envolve críticas em torno da legalização da maconha.
Quem não vê relação entre o aumento de mortes violentas e a liberação da maconha deve procurar todas as declarações do Presidente Mujica na época em que patrocinou a liberação, todas sem exceção, garantindo que liberando a maconha diminuiria a violência no Uruguai!!..
— Osmar Terra (@OsmarTerra) January 4, 2019
Tarcísio Gomes (@tarcisiogdf), que chefia o Ministério da Infraestrutura, inaugurou o perfil em 28 de dezembro, para "divulgar seu trabalho à frente da pasta". Com poucas publicações, ele é seguido por 15 mil pessoas.
Com apenas 7 mil seguidores, Marcelo Álvaro Antônio (@Marceloalvaroan), do Turismo, usa a rede social mais para compartilhar publicações do presidente.
Um grande prazer integrar este time de pessoas comprometidas com o Brasil e seu povo. Faremos tudo o que for possível para mudar de verdade o país. Deus nos abençoe nesta missão, que se inicia hoje, com a posse do nosso Presidente Jair Bolsonaro! #PossePresidencial #Feliz2019 pic.twitter.com/32S84SN5je
— Marcelo Álvaro Antônio (@Marceloalvaroan) January 1, 2019
Os outros ministros do governo, incluindo Sérgio Moro e Paulo Guedes e Damares Alves, não utilizam o Twitter como fonte de informação oficial.
Com a popularização do Twitter, outras figuras do espectro político também têm lançado mão da ferramenta para compartilhar suas opiniões sobre o país e decisões do novo governo.
Com 559 mil seguidores, o candidato derrotado à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes (@cirogomes), divulga, na maioria das vezes, as entrevistas que concede à imprensa.
Nesta semana, diante da onda de violência que atingiu o Ceará, onde foi governador de 1992 a 1994, ele divulgou uma nota de repúdio a integrantes do MBL, que gravaram vídeos dizendo que os atos são uma manobra manobra petista para desgastar o governo Bolsonaro.
Nota de repúdio pic.twitter.com/Xn4a5Hlz8g
— Ciro Gomes (@cirogomes) January 8, 2019
Atual presidente da Câmara dos Deputados, que tenta neste ano a reeleição para o cargo e já garantiu apoio do partido do presidente, Rodrigo Maia (@RodrigoMaia) é pontual em suas publicações. Seguido por 47,6 mil pessoas, ele fala sobre as propostas em andamento na Câmara.
Fernando Haddad (@Haddad_Fernando), que conta com 1,1 milhão de seguidores, adotou um tom mais clássico aos seus tuítes quando era candidato, mas mudou de postura após a derrota, elevando as críticas e ironias ao presidente.
Livro Didático: Bozo recua em menos de 24h. Recorde! https://t.co/kdmBDwlSyA
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) January 9, 2019
Em mensagem fixada em seu perfil no Twitter, Marina Silva (@MarinaSilva) se apresenta na rede social: "Reitero minha posição de estar na oposição ao governo Bolsonaro de maneira responsável e democrática".
A ambientalista conta com 1,9 milhão de seguidores e por enquanto tem focado em comentar as decisões do governo federal envolvendo temas do meio ambiente.
Deputado federal eleito pelo PSOL, Marcelo Freixo (@MarceloFreixo), é uma das figuras de oposição ao governo Bolsonaro que estará no Congresso nos próximos quatro anos e foi apresentado pelo partido como candidato à presidência da Casa.
No Twitter, ele reúne 959 mil seguidores, e faz publicações diárias sobre decisões de seu partido além de comentar as do governo.
Quem está dizendo é a Constituição! "As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lados nelas existentes" #ÉaLei pic.twitter.com/WBvku3RvNW
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 11, 2019
O juiz federal Marcelo Bretas (@mcbretas), conhecido por seu trabalho à frente da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, tem 110 mil seguidores. Ele faz publicações comentando sobre o poder judiciário e o trabalho da Lava Jato.
Um cacique político que está no Twitter é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (@FHC). Com 87,5 mil seguidores, ele comenta, em boa parte, o que está em alta nos noticiários.
O presidente do STF tem razão: chegou a hora dos juízes deixarem de decidir sobre controvérsias propias do Congresso. Assim como cabe ao Executivo propor a agenda do país e submete-la ao Congresso, que não se deve omitir. Simples e sensatos princípios básicos da democracia.
— Fernando Henrique Cardoso (@FHC) December 5, 2018
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (@gleisi), usa o Twitter para fazer anúncios sobre decisões do partido e também para comentar sobre a atuação do novo governo. Em sua conta, 482 mil acompanham suas publicações.
Peça chave no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Janaína Paschoal (@JanainaDoBrasil), que agora também é deputada em São Paulo, mostra seu ponto de vista sobre inúmeros assuntos que envolvem política.
Aos 332 mil seguidores, a advogada que foi cotada como possível vice de Bolsonaro costuma falar sobre decisões do sistema judiciário.
Eleição sigilosa para os Presidentes do Legislativo constitui triste retrocesso!
— Janaina Paschoal (@JanainaDoBrasil) January 9, 2019
O senador Renan Calheiros (@renancalheiros), que pode entrar novamente na disputa pelo comando da Casa, conta com 122 mil seguidores e aborda temas diversos em suas postagens, que vão desde comentários sobre Lula até divulgação de decisões que o Senado debate.
1) Quero dar uma sugestão para que libertem o Lula. Mas libertem o Lula inteiro. Mesmo que seja por etapas. Não falo com ironia; eu mesmo fui visitá-lo em nome do Senado, com Armando Monteiro, Requião, Jorge Viana e Edison Lobão. Dirijo-me àqueles
— Renan Calheiros (@renancalheiros) December 26, 2018
Com 12,7 milhões de seguidores, o apresentador de TV Luciano Huck (@LucianoHuck) aproveita seu alcance para trazer à luz debates sobre política e cultura. Ele havia considerado disputar a Presidência neste ano.
O projeto de lei arrastava-se e foi preciso perdermos um relevante museu - Museu Nacional do Rio de Janeiro - para que a lei avançasse. Agora a sociedade civil, tem mais um bom caminho p/ dar eficiência e fomentar a cultura de doação no Brasil.
— Luciano Huck (@LucianoHuck) January 8, 2019