Homens jogam futebol em Copacabana: alguns brasileiros vão torcer contra (AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2014 às 17h53.
Rio de Janeiro - No país onde o futebol é "paixão nacional", alguns brasileiros sonham em fugir para o exterior durante a Copa do Mundo e alguns chegam até a torcer por um fracasso da Seleção.
É o caso do contador carioca Marcus Toledo, 42 anos. Ele engrossa o coro dos que detestariam ver o capitão da Seleção, Thiago Silva, segurar a taça da Copa no próximo 13 de julho, quando o Maracanã será palco da final.
Com a ajuda de vários amigos que sentem o mesmo que ele, organizou um evento de boicote ao time de Luiz Felipe Scolari: em dia de jogo do Brasil, torcida organizada para o time adversário.
"Como sou louco por futebol, me sinto traído por essa Copa que só ricos e privilegiados poderão assistir", desabafa o carioca de 42 anos.
"Sem nenhum remorso, espero que a derrota na Copa e o fracasso na organização do evento sirvam como lição sobre quais são as nossas prioridades por aqui", admitiu Marcus.
"A herança da Copa é uma população insatisfeita com o governo e os governantes, e muito dinheiro no bolso de quem participou das obras", avalia o aposentado João Carlos de Lima, 64 anos, após um longo suspiro. João reflete mais um pouco, e confessa: "Eu quero mesmo é que o Brasil nem chegue às quartas de final, que é pra não ter festa nenhuma".
Apaixonado pelo Flamengo, não torcer pela Seleção foi a forma que Lima encontrou para extravasar seu descontentamento com o governo da presidente Dilma Rousseff.
"É que a gente sabe que vitória do Brasil em Copa, em pleno ano eleitoral, é uma grande ajuda para quem está no poder", argumenta.
A presidente, porém, parece não acreditar que seu destino político esteja ligado à vitória do Brasil na Copa.
"Não acho que a Copa vai decidir minha eleição. Não vai me ajudar nem me prejudicar. O Brasil pode ser campeão e eu perder a eleição, o Brasil pode perder a Copa e eu ser reeleita", disse Rousseff em meados de abril.
Favorita às eleições do próximo 5 de outubro, Rousseff passou de 37% das intenções de voto em maio para 34% em junho, segundo a última pesquisa Datafolha. Seu maior rival, Aécio Neves (PSDB), também caiu de 20% para 19%, enquanto aumentaram os indecisos e os votos em branco.
- Fugir do Brasil -
Depois de ficar presa no trabalho por causa de uma manifestação contra a Copa do Mundo em junho de 2013, no centro do Rio de Janeiro, a advogada carioca Cecília Menezes Castro decidiu quando e onde iria passar as próximas férias: entre os dias 12 de junho e 13 de julho ela e o marido estarão nos Estados Unidos, fugindo do Mundial.
Enquanto cerca de 600 mil turistas estrangeiros e 800 mil brasileiros circularão pelo Brasil durante a Copa do Mundo - segundo as cifras da Embratur - existe um grupo que, assim como Cecília, quer estar bem longe da movimentação dos jogos.
"Eu sabia que não iria aguentar estar aqui durante a Copa", explica à AFP Cecília, enumerando o trânsito e as manifestações como principais motivos para sua fuga.
Algumas agências de viagem até estão oferecendo pacotes promocionais para fugir durante a Copa, e Castro aproveitou uma destas oportunidades.
A operadora Hotel Urbano, por exemplo, disse à AFP ter notado um aumento de 20%, em relação ao ano passado, na procura por pacotes de viagem e hospedagens com check-in entre os dias 12 de junho e 13 de julho para municípios num raio de até 300 km das cidades-sede.
Assim como Cecília, foi a vontade de evitar transtornos que levou a psicanalista Anna Beatriz Medici, 37 anos, a fugir - ainda que temporariamente - da Copa. Com viagem estrategicamente marcada para o dia 10 de junho, ela passará 20 dias na Itália, na companhia da mãe. "Marquei dois dias antes do início do evento prevendo o caos no aeroporto", conta Anna à AFP.
Louca por futebol, Anna não perde uma partida de seu time, Fluminense, e é frequentadora assídua do Maracanã. Lá da Itália, ela pretende acompanhar os jogos e entrar para a torcida com os italianos.
"É claro que vou torcer pelo Brasil, mas acho que vai ser uma experiência interessante fazer isso longe de casa", diz Anna, que lamenta a falta de seriedade com que a organização da Copa foi tratada.