Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro e novo homem-bomba que assusta o Congresso e o Palácio do Planalto (.)
Talita Abrantes
Publicado em 25 de maio de 2016 às 13h36.
São Paulo – Até pouco tempo, o cearense Sérgio Machado ostentava em seu currículo o “feito” de ser o mais longevo presidente da história da Transpetro, o braço logístico da Petrobras.
A trajetória de 11 anos e 4 meses no comando da estatal foi interrompida em novembro de 2014, quando ele pediu licença do cargo após ter seu nome envolvido no escândalo de corrupção da petroleira, investigado pela Operação Lava Jato. Três meses depois, ele pediu renúncia.
Hoje, entra para a história como o homem cujas gravações (e revelações) apavoram Congresso e Palácio do Planalto.
Nesta terça, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki homologou a delação premiada de Machado. A expectativa é de que os depoimentos apontem detalhes ainda mais graves sobre os bastidores da corrupção no setor público e privado.
Por ora, diálogos gravados por ele mesmo já derrubaram um dos principais ministros do governo interino de Michel Temer (PMDB), o senador Romero Jucá (PMDB), e colocaram o também peemedebista e presidente do Senado, Renan Calheiros, em maus lençóis - no mínimo.
De acordo com coluna do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, e segundo sugerem as gravações, Machado também teria registrado áudios de conversas privadas com o ex-presidente da República José Sarney, presidente emérito do PMDB e pai de um dos ministros de Temer.
Dado o conteúdo dos diálogos revelados até agora e dos contatos do ex-presidente da Transpetro em Brasília (DF), é de se esperar que mais gente para além de Jucá, Calheiros e Sarney esteja com a pulga atrás da orelha diante do que pode estar por vir.
Trânsito fácil em Brasília
“Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan”, afirmou Machado durante encontro com Renan Calheiros, cujo conteúdo foi divulgado nesta quarta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo.
Peemedebista desde 2002, a carreira política de Machado começou muito antes da indicação de seu partido para ocupar a presidência da Transpetro em 2003.
Foi no primeiro mandato do tucano Tasso Jereissati como governador do Ceará, no final da década de 1980, que o hoje delator da Lava Jato fez seu debute na gestão pública como secretário de governo. Entre 1991 e 1995, foi deputado federal pelo PSDB. Na legislatura seguinte (1995 – 2002), assumiu uma cadeira no Senado, onde foi líder do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Já filiado ao PMDB, foi derrotado na disputa pelo governo do Ceará em 2002. O apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência e o auxílio de Renan Calheiros, apontado como seu padrinho político, o conduziram à presidência da subsidiária da Petrobras no ano seguinte.
Machado deixou a empresa no final de 2014, depois que a PriceWaterhouseCoopers (PwC), auditora dos resultados financeiros da Petrobras, ter se recusado a aprovar o balanço do terceiro trimestre da petroleira. Um dos motivos seria sua permanência na presidência da Transpetro, já que ele fora citado nas denúncias da operação Lava Jato.
Os investigadores trabalham com a hipótese de que Machado é um elo importante para entender a real atuação do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras.
A Lava Jato chegou ao nome do ex-chefe da Transpetro depois que o ex-diretor da petroleira Paulo Roberto Costa relatou ter recebido 500 mil reais das mãos do hoje delator. Ainda segundo Costa, o presidente do Senado só teria mantido Machado no cargo porque a subsidiária da Petrobras teria contratos com valores "canalizados" para o esquema.
Paranoico
A gestão de Machado na Transpetro ficou marcada, entre outras coisas, por sua “paranoia” com grampos. De acordo com relato da coluna Expresso da revista Época, o ex-presidente tinha o hábito de gravar as conversas que considerava como “delicadas”. Já segundo o jornal El País, ele não começava nenhum diálogo sem antes se certificar que não estava sendo gravado.
Depois dos últimos acontecimentos – que envolvem desde os registros de Machado e a gravação que levou o hoje senador cassado Delcídio do Amaral à prisão preventiva -, é de se esperar que Brasília comece a tomar providências semelhantes.