Braga Netto: nascido em Belo Horizonte, Braga Netto, 62 anos, cumpre o "perfil mineiro": prefere o trabalho ao verbo (./Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 16h53.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2020 às 17h57.
São Paulo — O escolhido do presidente Jair Bolsonaro para ser o novo ministro da Casa Civil, o general de Exército Walter Souza Braga Netto, ex-chefe da intervenção federal do Rio de Janeiro, é avesso à exposição e prefere ficar longe dos holofotes.
Atualmente Chefe do Estado-Maior do Exército, ele assume a pasta central para a articulação política do governo federal, tanto que o ministro responsável é chamado de "braço-direito do presidente".
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto, 62 anos, cumpre o "perfil mineiro": prefere o trabalho ao verbo.
Ao assumir o comando da intervenção no RJ, que lhe concedeu poderes de governador do Estado na área da Segurança Pública, determinou a seus subordinados e pediu aos familiares discrição nas redes sociais.
O general é tido como capaz de reconhecer talentos e limitações próprias e de sua equipe e não toma decisões tempestivamente. Prefere ouvir diversas opiniões.
Descrito como respeitoso, bem humorado e afável, o general tem carreira internacional — foi observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, e adido na Polônia e nos Estados Unidos.
Trouxe a tradição dos militares americanos de trocar e colecionar medalhas. Eles carregam uma espécie de medalhão com o emblema do local onde estão servindo para presentear os visitantes.
Entrou no Exército em 1974. Em 1994, ainda como major de Cavalaria, apresentou na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) uma monografia com propostas sobre como aproveitar melhor o pessoal na carreira militar, com foco nos oficiais.
Em uma espécie de prognóstico, dizia que "a sociedade, dentro do enfoque da qualidade total, cada vez mais cobrará da instituição a eficácia na consecução de sua destinação fim" e propunha a especialização, por causa das mudanças tecnológicas.
"O militar, em particular, deve ser orientado para a função em que apresente um melhor rendimento em prol da instituição. O Exército do ano 2000 necessitará, mais do que nunca, de uma otimização de seus valores humanos", escreveu.
O saldo da atuação de Braga Netto como interventor no Rio de Janeiro é objeto de disputa. Em seminário sobre o tema na Câmara dos Deputados em novembro de 2018, o general afirmou que o principal legado era “intangível” e que as instituições do estado foram fortalecidas pelo processo.
Entre fevereiro e dezembro daquele ano, houve uma redução de 5,5% nos números de homicídios dolosos em relação ao mesmo período do ano passado e de 14,4% do roubo de carga – um problema que estava inviabilizando a economia do Estado.
Durante a intervenção, o número de agentes de segurança feridos em operações foi de 92 – 15% a menos que os 108 registrados no mesmo período do ano anterior. O número de agentes feridos também caiu um pouco, de 200 para 180.
No entanto, dispararam o número de tiroteios (8.193 contra 5.238) e de mortos pela polícia (um total de 204 durante a intervenção). Nos dez meses da intervenção, 161 pessoas foram vítimas de bala perdida; praticamente uma a cada dois dias.
Dentre as funções que Braga Netto deverá exercer estão garantir maioria nas votações no Congresso, participar da coordenação e integração das ações do governo federal e avaliar a constitucionalidade e legalidade dos atos presidenciais.
Braga Netto vai assumir a pasta após um momento de dificuldade passado por seu antecessor, Onyx Lorenzoni.
Ele vinha sofrendo pressões depois que o secretário executivo da Casa Civil, Vicenti Santini, foi demitido por usar um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para uma viagem ao Fórum Econômico Mundial na Suíça e para a Índia. Santini seria readmitido em outro cargo, e demitido novamente, no mesmo dia.
Nesse período, a Casa Civil também perdeu força com a decisão de Bolsonaro de reduzir as atribuições da pasta. O Programa de Parceria de Investimento (PPI) foi transferido para o Ministério da Economia.