Marcelo Miller, ex-procurador da Lava Jato (MPMG/Divulgação)
Luiza Calegari
Publicado em 5 de setembro de 2017 às 12h00.
Última atualização em 11 de setembro de 2017 às 08h41.
São Paulo – Marcelo Miller é o pivô do caso que pode enfraquecer as denúncias contra o presidente Michel Temer. Mas quem é ele e o que ele tem a ver com a história?
Miller era um procurador da República que trabalhava próximo de Rodrigo Janot, o Procurador-Geral, nas investigações da operação Lava Jato entre 2014 e 2016.
Sua função era negociar acordos de delação premiada, incluindo os de Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro, e de Delcídio do Amaral, ex-senador.
Ele deixou o cargo em abril deste ano para trabalhar no escritório Trench, Rossi e Watanabe, que representava a J&F nas negociações do acordo de leniência do grupo. O acordo de leniência é empresarial, mas também negociado com o Ministério Público.
No imbróglio iniciado na noite passada, quando Janot anunciou que a PGR suspeita de fraude no acordo de delação premiada, o nome de Miller apareceu em rede nacional sob suspeita, mas não pela primeira vez.
A primeira aparição de peso do nome de Marcelo Miller na Lava Jato foi em junho de 2016, quando o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi esclarecer as circunstâncias de gravações feitas por seu filho Bernardo Cerveró.
Bernardo gravou uma conversa em que Delcídio do Amaral oferece um acordo para que Nestor não feche delação premiada - envolvendo o pagamento pelo silêncio do ex-diretor.
Cerveró chega a afirmar que a gravação tinha sido sugestão do procurador (no caso, Marcelo Miller), mas imediatamente se corrige, dizendo que se referia ao fato de que a procuradoria não iria aceitar a delação sem provas.
Cerveró chega a afirmar que o então promotor foi a Brasília para instruí-lo no procedimento de delação, no que ele chamou de “doutrinação”.
Depois, quem jogou os holofotes sobre Miller novamente foi o presidente Michel Temer, em um pronunciamento no fim de junho deste ano.
Temer disse que “um assessor muito próximo ao procurador-geral da República (Rodrigo Janot), senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança” abandonou o MPF para “trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral”.
O presidente disse ainda que Miller “ganhou milhões em poucos meses”, garantindo “ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista”.
A delação citada por Temer é a dos executivos do Grupo J&F. Miller, após deixar o MPF, foi contratado pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a J&F durante parte das negociações do acordo com o MPF.
Quando foi citado pelo presidente, o ex-procurador já era alvo de um procedimento preparatório (PP) na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF), que é uma etapa antes da instauração de um inquérito.
Depois da acusação, ele deixou o escritório de advocacia.
Os áudios que os Batista anexaram por engano nos documentos enviados à PGR sugerem que os irmãos também foram "doutrinados" por Miller para fazer as gravações.
Mais grave, Joesley afirma que Miller estava atuando para influenciar Janot nas decisões sobre o acordo.
No despacho que determinou a revisão do acordo de colaboração, Janot disse que Miller “estaria auxiliando os interlocutores, inclusive a pretexto de influenciar a decisão do Procurador-Geral da República, em futura negociação de acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal”.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a saída de Miller do MPF para integrar a equipe do escritório de advocacia que representava a J&F surpreendeu os colegas pela rapidez, já que tudo ocorreu em abril deste ano.
“Essa sucessão de datas é importante porque sugere a participação de então membro do Ministério Público Federal em atividade supostamente criminosa e/ou improbidade administrativa”, afirma Janot, no documento.
Marcelo Paranhos de Oliveira Miller, de 43 anos, dedicou 13 deles ao Ministério Público Federal, onde investigou casos de lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro.
Com graduações em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997), e em diplomacia pelo Instituto Rio Branco (2000), era considerado um dos procuradores mais especializados em direito internacional e penal.
Em nota, à imprensa, a assessoria de Marcelo Miller afirmou que ele:
"Repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei.
Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016. Nunca atuou na Operação Greenfield, nem na Procuradoria da República no Distrito Federal.
Enquanto procurador, nunca atuou em investigações ou processos relativos ao Grupo J&F, nem buscou dados ou informações nos bancos de dados do Ministério Público Federal sobre essas pessoas e empresas.
Pediu exoneração em 23/2/2017, tendo essa informação circulado imediatamente no MPF.
Nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF.
Teve uma carreira de quase 20 anos de total retidão e compromisso com o interesse público e as instituições nas quais trabalhou.
Ressalta que sempre acreditou na justiça e nas instituições, e continua à disposição, como sempre esteve, para prestar qualquer esclarecimento necessário e auxiliar a investigação no restabelecimento da verdade."