João Doria: estratégia do novo governador foi associar o Márcio França ao PT e a políticas públicas de esquerda (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 20h46.
São Paulo - João Doria Júnior, 61 anos, foi o candidato eleito pelos paulistas para assumir o governo do Estado a partir de 1º de janeiro, com 51,77% dos votos com 97% das urnas apuradas. Com uma carreira construída principalmente no mercado empresarial e na TV, Doria entrou na política em 2016, quando foi eleito prefeito de São Paulo, no primeiro turno.
Apesar das críticas de quase todos os adversários pelo fato de ter deixado a Prefeitura de São Paulo para disputar as eleições 2018, Doria liderou a corrida ao Palácio dos Bandeirantes praticamente de ponta à ponta. Os únicos momentos de alternância na liderança das pesquisas de intenção de voto aconteceram ainda no primeiro turno, mas sempre com o tucano tecnicamente empatado com Paulo Skaf (MDB).
Com a derrota do emedebista do páreo no final do primeiro turno, Doria enfrentou o atual governador Márcio França (PSB) na segunda fase da disputa estadual. Em sua bem sucedida estratégia, o tucano declarou apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e procurou associar a imagem de seu adversário a movimentos de esquerda.
O momento mais crítico para Doria aconteceu já na reta final da campanha eleitoral, com a divulgação de um vídeo com cenas de sexo nas redes sociais, no qual um dos personagens foi associado ao governador eleito. Ao lado da esposa, o tucano negou ser o homem nas gravações e afirmou que o material se tratava de uma montagem "grotesca".
A vitória deste domingo, 28, assegura a hegemonia do PSDB no Estado de S. Paulo. O partido acumula vitórias nas disputas pelo governo paulista há 24 anos.
Nos últimos dois anos, o governador eleito deixou a prefeitura, foi acusado de tentar substituir seu padrinho político Geraldo Alckmin na vaga de candidato à presidência nessas eleições 2018 e recebeu críticas de líderes tucanos, dividindo o partido em São Paulo.
Filiado ao PSDB desde 2001, as polêmicas no caminho político do tucano começaram ainda nas prévias do partido para a definição do candidato a prefeitura de São Paulo, em 2016. Doria era apoiado por Alckmin. Já seus concorrentes, Andrea Matarazzo e Ricardo Trípoli, tinham a benção de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes.
Durante a escolha do candidato, a equipe de Doria foi acusada de fraudar urnas nas convenções do partido. O fortalecimento da candidatura do tucano fez com o vereador Andrea Matarazzo, filiado ao partido por 25 anos, mudasse de sigla, e desistisse de concorrer ao segundo turno das prévias.
Pela primeira vez, em 2016, a prefeitura de São Paulo foi definida no primeiro turno. Na época, Doria tinha o apoio, inclusive, do atual governador Márcio França (PSB), na época vice.
Com o palanque dividido entre França e Doria, Alckmin apoiou oficialmente o companheiro de partido no primeiro turno nas eleições 2018.
Desde o início da campanha, a polarização mais forte acontecia entre os dois candidatos, apesar do fraco desempenho do atual governador nas pesquisas. A estratégia de Doria foi associar o Márcio França ao PT e a políticas públicas de esquerda.
França acusou Doria de "fazer Geraldo Alckmin chorar", após o tucano não ter feito um apoio enfático ao candidato tucano nas eleições presidenciais. Em uma reunião do PSDB em Brasília, após o resultado do primeiro turno, Alckmin insinuou que Dória teria cometido uma traição.
O curto período de Doria a frente da Prefeitura foi marcado, principalmente, por três projetos do então prefeito: Cidade Linda, Corujão da Saúde e Alimento para Todos. Vestido de gari, Dória lançou o primeiro programa no começo de 2017 com o objetivo de revitalizar áreas degradadas de São Paulo.
As polêmicas começaram quando grafites começaram a ser pintados de cinza nos muros da cidade. O prefeito prometeu endurecer o combate às pichações. Apesar de ressaltar que tinha políticas diferentes para o grafite e para a pichação, Doria teve sua imagem desgastada, principalmente entre os artistas de rua.
O programa Corujão da Saúde foi uma das bandeiras do então prefeito. A ideia era utilizar a rede privada em horários com pouca procura para conseguir a diminuição da fila de exames na rede pública. No começo, o programa ajudou a alavancar a popularidade de Dória, mas uma auditoria do Tribunal de Contas do Município apontou que as filas não diminuíram de tempo depois que o projeto foi encerrado.
No fim de 2017, quando já existiam especulações sobre uma possível candidatura de Doria ao governo ou à presidência, a Prefeitura lançou o programa Alimento para Todos, que utilizaria farinatas - composto processado a partir de produtos próximos da data de vencimento - nas merendas das escolas municipais. Após questionamentos de especialistas e do Ministério Público, o projeto foi descartado.
Entre a eleição e a saída da prefeitura, a aprovação de Dória caiu de 44 para 18%, segundo pesquisas do Datafolha.
João Doria nasceu na capital paulista em 1957, filho do publicitário e político João Agripino da Costa Doria. Quando era criança, morou por dois anos em Paris com a família, depois de seu pai ser obrigado a se exilar pela ditadura militar. Doria voltou ao Brasil com a mãe e o irmão.
O governador eleito começou a trabalhar com 13 anos na fábrica da família. Como sua família tinha boas relações, conseguiu um estágio em uma agência de propaganda e começou a estudar comunicação social na Faap, formando-se aos 21 anos.
Depois de formado,assumiu cargos de chefia nas extintas TV TUPI e Bandeirantes, além da agência de propaganda MPM, na época a maior do Brasil. Em 1983, assume a primeira função pública, como secretário municipal de turismo na gestão de Mário Covas.
Durante o governo de José Sarney, foi presidente da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo. Nos anos 1990, montou a produtora Videomax e começou a produzir o programa Sucesso, da Bandeirantes, dando início a sua carreira na televisão. Além do Sucesso, Doria apresentou o programa Business, que passou pela Manchete, pela RedeTV, onde teve o nome alterado para Show Business.
Doria também fundou um grupo composto por seis empresas: Doria Administração de Bens, Doria Internacional, Doria Editora, Doria Eventos, Doria Marketing & Imagem e Lide - Grupo de Líderes Empresariais, que reúne mais de 1.600 empresas, representando cerca de metade do PIB privado do país.Ao TSE, Doria declarou um patrimônio de R$ 180 milhões.
Em 2010 e 2011, o futuro governador apresentou os programas Aprendiz Universitário e Aprendiz Empreendedor. Em 2015, comandou o programa de entrevistas "Face a Face", na Band, mas saiu do talk show para ficar à frente da campanha para prefeito de São Paulo.
O plano de governo do ex-prefeito de São Paulo não enumera um plano de ações para a educação do Estado, mas traz quatro metas principais. São elas: educação integral, uma nova escola, políticas governamentais que deem continuidade aos estudos e alfabetização de crianças até sete anos de idade. Essa última medida já uma prioridade dentre os objetivos da Secretaria de Educação estadual. No restante do país, a idade máxima é 8 anos.
O tucano afirma que saúde é uma das prioridades de seu governo. Mas, assim como acontece na área de educação, o plano também não traz muitos detalhes sobre formas de implementação. As propostas são resumidas em dois pontos: apoio às ações de assistência e a manutenção dos serviços do Estado.
O caminho para isso, segundo o programa, é fortalecer a rede de hospitais de São Paulo e apoiar os municípios, principalmente nos atendimentos mais complexos. Adotar recursos mais atualizados de tecnologia da informação e comunicação é visto como um meio necessário para melhora da saúde.
A primeira das cinco propostas principais de Doria para a área da segurança frisa repetir o sucesso no combate ao crime organizado e aumentar a integração operacional, com a adoção de banco de dados e sistema compartilhados.
Os demais pontos falam de valorizar e redistribuir os policiais, enfrentar crimes contra a mulher, e apoiar a aproximação com as Guardas Municipais. A última proposta trata do aumento de vagas nas penitenciárias, também com as parcerias público-privadas (PPDs), para que o detento trabalhe para permitir a sua reinserção na sociedade e diminuir a reincidência.
Na campanha, Doria também prometeu a criação de novos Batalhões de Ação Especial (Baeps).
No programa de governo, Doria trata da dificuldade em manter o orçamento do Estado equilibrado. Aponta que há resistência em aumentar as receitas e rigidez das despesas públicas.
Para não onerar o cidadão e os cofres públicos, o candidato propõe medidas como incentivar o desenvolvimento da atividade econômica, gerar empregos, simplificar a abertura de empresas, estimular o empreendedorismo, intensificar o uso de parcerias com o setor privado, atração de capital estrangeiro e racionalização de recursos públicos.
Em seu plano de governo, a criação de mais empregos e oportunidades em todas as regiões do Estado é classificado como o principal compromisso do governo tucano.
Para gerar trabalho, são propostos apoio ao empreendedorismo, atração de capitais para economia de São Paulo, estímulo especialmente para micro e pequenas empresas e amplo programa de desestatização.