Marcelo Calero, novo secretário nacional de Cultura, dia 18/05/2016 (Prefeitura do Rio / Divulgação)
Bárbara Ferreira Santos
Publicado em 26 de novembro de 2016 às 06h00.
Última atualização em 26 de novembro de 2016 às 06h00.
São Paulo —Marcelo Calero é o nome mais citado em todas as publicações de política do país nesta semana. Isso porque ele se tornou o personagem central de um escândalo que colocou o governo Michel Temer (PMDB) - e a figura do próprio presidente - no centro da crise.
Com suas denúncias, ele conseguiu enfrentar e derrubar o homem-forte do governo, o 6º ministro a cair em 6 meses. Mais do que isso: expôs a ferida aberta da corrupção em um momento em que o Brasil inteiro clama por honestidade, uma receita certa para colocar a credibilidade do governo e do próprio presidente sob mais escrutínio.
Calero chegou ao governo enfrentando uma onda de críticas. Assumiu o Ministério da Cultura (MinC), uma pasta que havia sido excluída e depois refeita diante de manifestações de artistas e militantes em todo o país. Ele foi escalado de última hora, depois da recusa de diversos nomes importantes no meio artístico, especialmente as mulheres, em um contexto em que Temer recebia protestos por não ter nomeado nenhuma mulher em seu time ministerial.
Foi escalado porque chegou a ser secretário de cultura municipal do Rio de Janeiro em 2015 sob a gestão de Eduardo Paes, do mesmo PMDB de Temer. À frente do cargo, ele resolveu se filiar ao partido.
Anteriormente, também na equipe de Paes, havia sido presidente do Comitê Rio450, um programa de aniversário do Rio de Janeiro.
Diplomata de carreira, Marcelo Calero é formado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Nasceu no tradicional bairro da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro. Estudou no Santo Ignácio, colégio tradicional da elite carioca.
Já trabalhou na Comissão de Valores Mobiliários (CMV) e na Petrobrás. Entrou para o Itamaraty em 2007, aprovado em quinto lugar no concorrido concurso do Instituto Rio Branco. Como diplomata, trabalhou na Embaixada do Brasil no México.
A sua trajetória política, contudo, se iniciou em 2010, quando concorreu ao cargo de deputado federal pelo PSDB do Rio de Janeiro, mas não conseguiu a quantidade de votos necessários para levá-lo à Câmara.
Calero: de "diplomata apaziguador" a "homem-bomba"
Em pouco mais de seis meses desde que assumiu o cargo de ministro, Calero passou de desconhecido ao centro dos holofotes, de "diplomata apaziguador" a "homem-bomba" do governo.
Ao pedir demissão do cargo, denunciou publicamente que teria sido "pressionado" pelo então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, a autorizar, por meio do Iphan, a construção de um empreendimento imobiliário em Salvador. Segundo Calero, o interesse do colega de cargo era pessoal, pois o braço direito de Temer tinha um imóvel na planta nesse condomínio.
Horas após deixar o cargo no Ministério da Cultura, denunciou publicamente, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, a pressão de Geddel.
Diante da recusa de Temer em afastar o ministro, o tom das críticas de Calero ficou ainda pior quando ele prestou depoimento na Polícia Federal na quinta-feira, 24. Ele disse aos policiais que o presidente da República o "enquadrou" para encontrar uma "saída" para a obra de interesse de Geddel. Segundo Calero, o presidente havia dito que "a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão".
Um dia depois da denúncia à PF, as declarações de Calero levaram ao pedido de demissão de Geddel, o 6º ministro de Temer a cair em 6 meses. O afastamento do braço direito de Temer ocorreu sob suspeitas de que Calero tenha gravado as conversas com Geddel e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Desde a quinta-feira, Temer cancelou compromissos para articular um plano para enfrentar mais essa crise. Apesar de Geddel ter aceitado ceder e ter deixado o cargo, o Planalto ainda não vê o fim da crise e teme o teor das supostas gravações.