Cabo Daciolo: candidato sabe que tem apenas 1% de chance nas pesquisas, mas acredita que conta com "100% de chances com Deus" (Facebook/Reprodução)
AFP
Publicado em 18 de setembro de 2018 às 11h12.
Última atualização em 4 de outubro de 2018 às 18h33.
Ele sabe que tem apenas 1% de chance nas pesquisas, mas acredita que conta com "100% de chances com Deus".
O deputado evangélico Cabo Daciolo não se destaca nas intenções de voto, mas é uma atração à parte em uma campanha em que não faltam elementos excêntricos.
O deputado concordou em falar com a AFP quando se afastou da campanha para "rezar e jejuar por 21 dias nas montanhas pelo país e por Jair Bolsonaro", candidato da extrema direita com quem possui fortes afinidades.
O anúncio do afastamento foi anunciado a seus 264 mil seguidores no Facebook. Embora quase não faça aparições públicas, costuma se dirigir a seus seguidores na internet com a Bíblia e discursos contundente, que começam com um enfático "Glória a Deus!".
"Não sou um político, sou um enviado de Deus", afirma em seu Instagram o ex-bombeiro militar de 42 anos, de físico atlético e que quer, mais do que tudo, expulsar o Demônio do Congresso em Brasília.
"Todo mundo diz: Daciolo, você é louco de se lançar nessa campanha", declarou à revista Época.
"Para os homens, minha chance é menor que 0,001%. Mas, para Deus, é de 100%", assegurou.
Para ele, "as pesquisas mentem", a fraude eleitoral será em massa, mas a vitória está assegurada.
Daciolo encontrou em sua esposa Cristiane uma assessora de imprensa devota.
"Sua ausência é só física, pois as redes sociais estão a mil por hora em campanha por Daciolo", afirmou ela à AFP através de mensagens por WhatsApp.
Mas ele não teme se arriscar a ser penalizado nas urnas por causa de uma ausência tão longa na campanha?
"Ele crê que esta campanha será vencida com jejum e oração. Da mesma forma que Deus, após o primeiro debate, fez dele de um anônimo a uma pessoa agora conhecida nacionalmente", explicou.
Depois de oito horas de escalada, Cabo Daciolo se isolou no alto de uma montanha em Campo Grande, na zona oeste do Rio, com um grupo de bombeiros e pastores evangélicos.
Em 12 de setembro, em um longo vídeo postado no Facebook, o candidato, usando uma camisa de lenhador, proclama diante da fogueira do acampamento.
"Sou o próximo presidente da República", grita enquanto pula, depois de ter lido uma passagem da Epístola aos Efésios: "Desperta tu que dormes".
Com o Novo Testamento na mão, critica as elites políticas "ligadas à maçonaria", a mídia e ao "sistema corrompido por algumas famílias como os Rockefeller".
E, para lutar contra a criminalidade, é preciso resgatar os traficantes de drogas por meio da religião.
No Instagram, a foto do candidato lendo a Bíblia em uma rede desperta comentários pouco cristãos.
"Esse cara está mentalmente perturbado. Acha mesmo que se vence na política com essa loucuras?", pergunta um internauta.
"Esse senhor tem um programa político? O que ele vai fazer pela saúde, a educação, os aposentados, a segurança", questiona outro.
O Cabo Daciolo nem sempre foi um santo. "Eu bebia muito, era mulherengo", admitiu à Época, onde contou como frequentava a igreja Bola de Neve, criada por um surfista, com um altar em forma de prancha.
Depois, ganhou notoriedade ao liderar uma greve dos bombeiros em 2011 no Rio de Janeiro. Passou nove dias na prisão.
Depois virou deputado federal pelo PSOL, um partido de esquerda laico, que o expulsou no início de 2015 por querer trocar o artigo 1 da Constituição: passar de "todo o poder emana do povo" para "todo o poder emana de Deus".
Foi para o Partido Patriota, que o aceitou como candidato à presidência porque não conseguiu recrutar Bolsonaro.
Filho de coronel, mostra uma afinidade ideológica com seu adversário, principalmente seu militarismo.
Bolsonaro sempre cita Deus, mas o fervor de Daciolo, evangélico membro da Assembleia de Deus, não tem comparação.
É o primeiro candidato a ler a Bíblia durante um debate televisionado. Sugeriu uma semana nacional de adoração a Deus para começar o ano com o pé direito.
O Cabo Daciolo encontrou um nicho entre os brasileiros enojados com a política nacional, um terreno em que prosperam as igrejas Evangélica no país.