A mensagem repassada pelo presidente foi interpretada por lideranças do Congresso como mais um ataque à classe política (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de maio de 2019 às 09h55.
São Paulo e Brasília - Após compartilhar um texto que descreve o País como "ingovernável" se não existir "conchavos" políticos, o presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado, 18, que quem divulga este tipo de mensagem é "parte do povo" e que "devemos ser fiéis a eles e ponto final".
O texto, revelado pelo jornal O Estado de São Paulo, foi compartilhado na sexta-feira por ele pelo WhatsApp. Bolsonaro foi questionado sobre a repercussão da mensagem em frente ao Palácio da Alvorada, após se encontrar, à tarde, com crianças de um colégio paulista - pela manhã ele havia tirado fotos com crianças de uma escola de Brasília.
"Eu passo muita mensagem no WhatsApp, muita, e boto no Facebook. E, geralmente, eu não boto ali a minha opinião. Eu boto "assista, tire suas conclusões". Esse pessoal que divulga isso faz parte do povo. Esse pessoal a quem devemos ser fiéis a eles e ponto final. Quem tem de ser forte é o povo. Quem tem de dar o norte é povo. Não sou eu", afirmou. Mais cedo, o presidente havia dito que tinha repassado a mensagem para "meia dúzia de pessoas".
O texto diz que o presidente sofre pressões de todas as corporações, em todos os Poderes, e que o País "está disfuncional", mas não por culpa de Bolsonaro. O analista da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Paulo Portinho assumiu a autoria do texto e negou que sua intenção tenha sido criticar o governo ou o Congresso Nacional.
A mensagem repassada pelo presidente foi interpretada por lideranças do Congresso como mais um ataque à classe política. Questionado sobre se acreditava na tese do texto, Bolsonaro respondeu que se reservava ao direito da não emitir sua opinião. Diante da insistência da imprensa, o presidente disse: "Leia de novo o texto".
No Twitter, o presidente escreveu que "somente com o apoio de todos vocês poderemos mudar de vez o futuro do nosso Brasil!"
Bolsonaro defende aprovação de MP e volta a criticar manifestantes
O presidente também defendeu a aprovação integral da medida provisória que reestrutura a administração pública e voltou a falar que os manifestantes que foram às ruas na quarta-feira passada são "idiotas uteis".Se a medida provisória que trata da reforma administrativa não for aprovada até 3 de junho pelo Congresso, perderá a validade. Nesse cenário, o governo poderá ter de recriar até dez ministérios. Editada em janeiro por Bolsonaro, a MP 870 diminuiu o número de pastas de 29 para 22. Questionado, Bolsonaro disse estar confiante de sua aprovação.
"Para que aumentar os ministérios? Tem 22, eu queria que tivesse menos", afirmou o presidente. "Espero que aprovem as medidas provisórias do jeito que eu mandei para lá. O Congresso é soberano para decidir, mudar, rejeitar. A bola está com eles, e isso é bom porque se tudo que eu fizer tiver que ser acolhido, não é bom. O Congresso tem que dar o polimento, melhorar. Mas o foco é Brasil, juntos."
Sobre as manifestações contra o contingenciamento do orçamento do Ministério da Educação, que reuniu milhares de pessoas em mais de 200 cidades, o presidente voltou a chamar os manifestantes de "idiotas úteis". Ao comentar o assunto, acabou utilizando a palavra "corte", em vez de contingenciamento. "E esse movimento do pessoal que eu cortei a verba. O que vocês acharam? É uma minoria que manda na escola. Pessoal faz aí porque alguns (professores) (estavam) oferecendo pontos, facilidades. E o pessoal (os alunos) nem sabe o que foi fazer nas ruas", afirmou o presidente. "São idiotas úteis. É verdade."
Anistia a partidos políticos
Bolsonaro também voltou a criticar a imprensa e disse ser "mentira" que tenha anistiado os partidos políticos. Na sexta-feira, o presidente assinou a sanção do projeto de lei que anistia multas aplicadas a partidos políticos. A estimativa é a de que o perdão possa chegar a R$ 70 milhões, valor dos débitos dos diretórios municipais de quase todas as legendas. O texto deve ser publicado na edição desta segunda-feira, 20, do Diário Oficial da União.
"Sei que vocês são funcionários (se dirigindo aos repórteres) e não têm poder junto aos editores. Mas a imprensa está dizendo que eu sancionei uma lei para anistiar multas de R$ 60 milhões de partidos políticos. É mentira. Eu vetei. Grande parte da mídia só vive disso. Desinformando e atrapalhando. A mídia, se for isenta no País, que mostre. Se eu errei, que mostre a verdade".
O teor do texto sancionado foi confirmado pelo Porta-voz da Presidência da República em entrevista coletiva no Palácio do Planalto. É a primeira vez que um presidente autoriza o cancelamento deste tipo de punição às siglas desde 1995, quando a Lei dos Partidos foi criada.
A nova lei sancionada por Bolsonaro altera a Lei dos Partidos. Entre outros pontos, ele estabelece que as siglas que tenham direcionado dinheiro do Fundo Partidário para candidaturas femininas entre 2010 e 2018, ainda que não tenham cumprido o mínimo de 5%, não poderão ter suas contas rejeitadas ou ser alvo de qualquer outra penalidade.
Bolsonaro vetou apenas um artigo do projeto aprovado pelo Congresso. Ele retirou do texto o item que desobrigava as legendas de devolver aos cofres públicos as doações que receberam de servidores comissionados filiados às próprias siglas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.