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Quase metade das mortes no trânsito em SP tem relação com álcool

O dado é parte da conclusão de uma pesquisa de pós-doutorado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Mortes no trânsito: a maior parte das vítimas de mortes violentas no trânsito associadas ao consumo de álcool são homens brancos, com mais de 30 anos e baixo nível de escolaridade (Marcos Santos/USP Imagens)

Mortes no trânsito: a maior parte das vítimas de mortes violentas no trânsito associadas ao consumo de álcool são homens brancos, com mais de 30 anos e baixo nível de escolaridade (Marcos Santos/USP Imagens)

AB

Agência Brasil

Publicado em 9 de novembro de 2016 às 22h09.

Última atualização em 9 de novembro de 2016 às 22h10.

Apesar do consumo de álcool no trânsito ser proibido em todo o país, 42,9% das vítimas de acidentes fatais de trânsito na cidade de São Paulo entre junho de 2014 e dezembro de 2015 haviam ingerido álcool.

O dado é parte da conclusão de uma pesquisa de pós-doutorado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), feita por Gabriel Andreuccetti com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O número inclui motoristas, pedestres e passageiros.

Para o pesquisador, apesar da existência da lei que proíbe o consumo de álcool no trânsito ter sido um grande avanço, ainda é preciso melhorar os mecanismos de fiscalização para mudar a cultura brasileira sobre o assunto.

"Se você apenas credita à lei ao que a lei diz, é muito difícil que isso mude a cultura da população. O que a gente sabe, que é um dos fatores primordiais, é a fiscalização. Você tem a lei, que ajuda a ação policial e judicial para colocar em prática aquilo. Mas se a sensação da pessoa ao dirigir é de que ela não será pega, não adianta nada. Sua legislação pode ser a melhor do mundo mas você não vai conseguir pôr aquilo em prática. A fiscalização é o principal fator que precisa ser aprimorado para que a lei seja implementada e a cultura mude."

Segundo Andreuccetti, não foi possível comparar os dados para dizer se o número cresceu ou diminuiu na comparação com outros períodos.

"Essa metodologia é a primeira vez que estamos aplicando no Brasil como um todo, embora a gente só tenha feito em São Paulo. Então não temos um comparativo para dizer se está crescendo, se está maior. No caso de acidentes de trânsito, podemos, com certeza, dizer que é um número alto porque se tem quase metade das vítimas que chegam atropeladas ou de acidentes de trânsito com nível de álcool", disse o pesquisador em entrevista à Agência Brasil.

A pesquisa, feita em parceria com a Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, coletou amostras de sangue de 365 vítimas que foram levadas a unidades do Instituto Médico Legal (IML) na capital paulista para avaliação da taxa de alcoolemia em pessoas que morreram em decorrência de mortes violentas ou por causas externas, seja por acidentes de trânsito, homicídio ou suicídio e demais causas, como envenenamento, afogamento e quedas.

Segundo o estudo, em cerca de 30% das mortes violentas ocorridas nesse período foi notado consumo de álcool pelas vítimas, sendo 34,6% entre as vítimas de homicídio e 13,6% entre os casos de suicídio.

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A maior parte das vítimas de mortes violentas no trânsito associadas ao consumo de álcool, de acordo com o pesquisador, são homens brancos, com mais de 30 anos e baixo nível de escolaridade.

Segundo Andreuccetti, a taxa de alcoolemia observada entre as vítimas de morte violenta foi, em média, 1,10 grama de álcool por litro de sangue, o que corresponde ao consumo de cinco doses-padrão de álcool para um homem de cerca de 70 quilos.

Cada dose-padrão, explicou o pesquisador, corresponde a uma latinha de cerveja, uma dose de destilado ou uma taça de vinho.

Entre as vítimas de acidentes de trânsito, a maior parte apresentou alcoolemia nos finais de semana e no período noturno.

Para o autor do estudo, a pesquisa pode ajudar a orientar políticas de saúde pública e até ações de fiscalização do trânsito.

"A maior contribuição deste estudo não é a prevalência em si, mas sim a cultura do como fazer e de como medir de forma correta, para que um dia a gente possa dizer que tal política está funcionando ou não", disse.

O pós-doutor pretende estender a pesquisa para a análise de uso de drogas e outras substâncias pelas vítimas.

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