Aedes aegypti: 38% do total de cidades avaliadas seguem com risco do mosquito (Luis Robayo/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de novembro de 2017 às 09h33.
Brasília / Recife - Doenças transmitidas por um mosquito marcaram, para sempre, a vida da família da professora Gisela Duarte, de 34 anos.
Moradora do Recife, no fim de 2015 ela viu a mãe, Dulcimar, de 72, morrer vítima de dengue hemorrágica. Sete meses depois, o sobrinho recém-nascido, Gustavo, foi diagnosticado com microcefalia por zika.
Casada há pouco mais de um ano, Gisela decidiu adiar qualquer plano de gravidez. "Vivemos um verdadeiro pesadelo provocado pelas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti."
Levantamento do Ministério da Saúde indica que 1.496 cidades brasileiras ainda estão em situação de alerta ou de risco para surto de dengue, zika e chikungunya - doenças causadas pelo mosquito - neste verão.
Isso representa 38% do total de cidades que fizeram a avaliação, batizada de Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa).
Esse grupo apresentou altos índices de criadouros do mosquito, vetor das três doenças. E os números podem ainda aumentar, porque há cidades que não repassaram dados.
É considerada área de alerta para as doenças aquela em que o índice de infestação do mosquito varia entre 1% e 3,9% dos domicílios visitados. São classificados como de risco os municípios que apresentam ao menos 4% de índice de infestação.
Neste ano estão em alerta, entre as capitais, Maceió, Manaus, Salvador, Vitória, Recife, Natal, Porto Velho, Aracaju e São Luís.
Já Belém, Boa Vista, Porto Alegre, Florianópolis, Campo Grande, Cuiabá, Brasília e Rio Branco não informaram os dados. Também não há registros de São Paulo, embora o Estado tenha informado já ter remetido as informações.
Técnicos do ministério dizem não ser possível fazer comparação com 2016. No ano passado, fizeram o LIRAa 2.282 cidades. Desta vez, foram 3.946 (aumento de 73%).
Anteriormente, o levantamento era feito por adesão. Agora, todos os municípios são obrigados a apresentar os dados.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que locais em situação de risco deverão receber uma atenção prioritária, mas a redução de casos não depende apenas de ações governamentais.
O armazenamento de água em barris, por exemplo, foi o principal tipo de criadouro achado no Nordeste e no Centro-Oeste.
No Norte e no Sul, o maior número de criadouros foi no lixo. No Sudeste, predominam depósitos móveis, como vasos e frascos com água.
Até o dia 11 de novembro, foram notificados 239.076 casos prováveis de dengue em todo o País, uma redução de 83,7% em relação ao mesmo período de 2016.
Na mesma data, haviam sido registrados 184.458 casos prováveis de febre chikungunya, também uma redução de 32,1%. Por fim, de zika são 16.870 casos prováveis, redução de 92,1% em relação a 2016 (com 214.126).
Para especialistas na área de Infectologia, com a queda do número de casos, população e autoridades sanitárias relaxaram nas ações de contenção.
"As pessoas e até alguns gestores são, infelizmente, reativos", avalia Celso Granato, professor de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, o governo não deu atenção, nos últimos anos a outras políticas necessárias para enfrentar as doenças.
"Enquanto não enfrentarmos as questões de urbanização e saneamento básico, o mosquito vai continuar se proliferando." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.