Enem: delegado acredita que entre 100 e 150 pessoas tenham sido beneficiadas pelo esquema mediante pagamentos que variavam entre R$ 70 mil e R$ 100 mil (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2013 às 15h35.
Belo Horizonte - A Polícia Civil mineira constatou indícios de que a quadrilha que fraudava vestibulares de faculdades particulares de Medicina de Minas e do Rio de Janeiro também teria vendido gabaritos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O caso foi encaminhado à Polícia Federal (PF) para que as investigações sejam aprofundadas, mas a polícia mineira já apurou que integrantes da quadrilha teriam vendido em Barbacena, no Campo das Vertentes, gabaritos com o resultado das provas do caderno amarelo.
A quadrilha foi desbaratada por meio da operação Hemostase, desencadeada no início de dezembro, com execução de 21 mandados de prisão preventiva e que já resultou no indiciamento de 36 pessoas por envolvimentos nas fraudes de vestibulares de Medicina. Mas, segundo o responsável pelas investigações, delegado Fernando Barbosa Lima, de Caratinga (MG), o suspeito apontado como chefe do grupo, José Cláudio de Oliveira, de 41 anos, teria tido também acesso às provas do caderno amarelo.
De acordo com a polícia, os chamados "pilotos" faziam as provas e depois repassavam os gabaritos a outros integrantes da quadrilha, que enviavam as respostas a outros suspeitos.
Em seguida, os gabaritos eram passados por mensagem ou ponto eletrônico - espécie de escuta que fica no ouvido - para os estudantes que faziam as provas. Segundo Fernando Lima, o sistema de aplicação do Enem é "vulnerável" porque pessoas com cabelos compridos não são obrigados a prendê-los durante o exame.
O delegado acredita que entre 100 e 150 pessoas tenham sido beneficiadas pelo esquema mediante pagamentos que variavam entre R$ 70 mil e R$ 100 mil.
A polícia mineira encaminhou à PF diversos documentos, incluindo dois cadernos de provas apreendidos com José Cláudio, cerca de 30 horas de gravações de telefonemas entre ele e outro chefe do grupo, Quintino Ribeiro Neto, de 63 anos, além de interceptações de mensagens eletrônicas com parte dos gabaritos e comemorações pelo índice de acerto das questões das provas.
Para o delegado Paulo Henrique, da PF, há indícios de terem ocorrido ao menos fraudes "pontuais" no Enem.
Por meio de nota, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, informou que está "acompanhando" as investigações mas que, segundo a PF, "não existe qualquer elemento que indique, mesmo de forma pontual, que qualquer candidato tenha sido beneficiado".
O órgão defende o rigor nas investigações, mas não respondeu sobre a possibilidade de o Enem 2013 ser cancelado caso sejam comprovadas as fraudes.