Deputado Wadih Damous (PT-RJ): "vamos defender eleições gerais, porque não reconhecemos no vice-presidente condições morais e jurídicas para vir a presidir o Brasil". (Maryanna Oliveira/ Câmara dos Deputados/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2016 às 09h33.
Brasília - O PT e o governo planejam uma campanha nacional de coleta de assinaturas em apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para convocar novas eleições, caso o Congresso aprove o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A ideia, que até agora era cogitada apenas em conversas reservadas, passou a ser defendida abertamente por aliados próximos à petista.
"Se o impeachment de fato for decretado, (se) passar pelo Senado, nós vamos defender eleições gerais, porque não reconhecemos no vice-presidente (Michel Temer) condições morais e jurídicas para vir a presidir o Brasil. O caminho para isso é apresentar uma PEC com amplo apoio popular, recolher milhões de assinaturas", afirmou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), um dos principais articuladores da reação anti-impeachment.
"Eu vou defender isso dentro do PT e acredito que o PT vai defender também. Nós vamos conviver com um golpe? Não. Assim como não convivemos com a ditadura."
A tese é corroborada por ministros palacianos e ganha adeptos entre aliados de Dilma. Na quarta-feira, em conversa com jornalistas, a presidente admitiu "respeitar" uma proposta alternativa que passe pelo voto popular.
As poucas divergências são quanto ao momento em que a campanha deveria ser deflagrada. Alguns petistas defendem que seja logo após a votação na Câmara, em caso de derrota do governo.
Eles apostam que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai "esfriar" a disputa quando o impeachment chegar a suas mãos e retardar o processo, o que daria tempo para a coleta de assinaturas.
Aliados de Dilma se fiam em pesquisas de opinião que mostram aversão a Temer igual ou maior à da presidente por parte da população e acreditam que não seria impossível, com ajuda dos movimentos sociais ligados ao partido, coletar milhões de assinaturas em poucas semanas para pressionar o Congresso a aprovar a PEC.
No Palácio do Planalto e entre aliados de Dilma, a ideia tem sido chamada de "contragolpe" contra Temer, alvo da fúria de petistas que prometem desestabilizar um eventual governo do vice.
"Se o impeachment for admitido aqui, acho muito difícil que o doutor Michel Temer tenha condições de governar, porque obviamente terá se tratado de um golpe. Ele, da nossa parte, não merecerá o tratamento de presidente, ele é um usurpador, um conspirador, um traidor", disse Damous.
Na conversa com jornalistas, Dilma acusou Temer de "se associar" ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu na Operação Lava Jato, para derrubar o governo.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a interlocutores que preferiria ver o País nas mãos do PSDB, em uma derrota eleitoral do PT, a vê-lo entregue ao grupo do vice.
Damous acusou Temer de oferecer o fim da Lava Jato em troca de votos pelo impeachment. "Ele tem conseguido virar votos aqui na Câmara, dizendo que, se se eleger, acaba com a Lava Jato."
Temer foi procurado por meio de sua assessoria para comentar a acusação, mas não respondeu.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.