Ex-presidente Lula: PT quer se unir a antigos adversários para enfrentar Centrão (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2016 às 09h04.
Brasília - Na tentativa de quebrar a hegemonia do grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a ala majoritária do PT negocia o apoio ao candidato do DEM, Rodrigo Maia (RJ), para a sucessão à presidência da Câmara. Acompanhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu nos últimos dias com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), a articulação política já divide o PT.
A ideia é que a nova oposição - PT, PCdoB e PDT - se una a antigos adversários, como DEM, PSDB e PPS, para enfrentar o Centrão, bloco que abriga cerca de 270 deputados e foi fundamental para aprovar o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A negociação também envolve o PSB.
Para dirigentes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo de Lula, somente com essa estratégia será possível se contrapor ao presidente em exercício, Michel Temer. Nos bastidores, o comentário é que Maia seria o único nome capaz de enfrentar o candidato do Centrão, que deve ser Rogério Rosso (PSD-DF), ligado a Cunha.
A bancada do PT, porém, rachou. Integrantes da tendência Mensagem ao Partido - segunda maior força no espectro ideológico do partido - e de outras correntes mais à esquerda não aceitam apoiar um nome do DEM. Argumentam que Maia votou a favor da deposição de Dilma e sempre fez oposição a Lula.
Esse grupo defende a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI), que foi ministro da Saúde de Dilma e ficou contra o impeachment. Há também os que têm simpatia por Fernando Giacobo (PR-PR). "A nossa preferência é por um candidato que tenha votado contra o impeachment, mas isso não é condicionante. Vamos apresentar uma agenda de pauta social e queremos um candidato com potencial de ir para o segundo turno", disse o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).
Articulações
Não é apenas no PT que a articulação a favor de Rodrigo Maia causa polêmica. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), pré-candidata à Prefeitura do Rio e adversária de Maia, é contra o acordo. Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), está conversando com o candidato do DEM. Ao mesmo tempo, Aécio emitiu sinais para o Planalto ao dizer que o PSDB pode não lançar concorrente a mandato-tampão na Câmara, desde que o governo apoie os tucanos para a presidência da Casa, em 2017.
A proposta não foi vista com bons olhos no Planalto. Ministros do PMDB alegam que o partido não pode correr riscos - lembram que a gestão Cunha provou ao PT o quanto um presidente da Câmara pode desestabilizar o governo.
Waldir Maranhão fechou acordo com Rodrigo Maia. O presidente interino da Câmara demitiu o secretário-geral da Mesa Diretora, Silvio Avelino, porque não gostou de ver publicada no Diário da Câmara a decisão do colégio de líderes que antecipou de quinta-feira para terça a eleição de seu sucessor.
Para o lugar de Avelino, Maranhão nomeou Wagner Soares Padilha, que foi assessor da liderança do DEM. O secretário adjunto será Lourimar Rabelo, que é próximo de deputados do PT, como José Guimarães (CE).
Governo
O Planalto vê com preocupação o movimento para dividir a base aliada. Em conversas reservadas, ministros dizem que o governo não deixará Maia ir para "o lado de lá". Embora o discurso oficial seja o de que o Planalto não vai interferir na disputa da Câmara, nos bastidores há muitas negociações de cargos em andamento.
"Diante desse quadro, não faz sentido lançarmos uma candidatura apenas para marcar posição", afirmou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que defende o aval a Maia. "Não vamos eleger o líder do governo Michel Temer. O que está em discussão aqui é quem defende a política feita à luz do dia e quem prega os métodos de Eduardo Cunha."
Para o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), não é hora de definir os candidatos à sucessão de Cunha por ideologia partidária. "Nós queremos que o nome represente o conjunto da Casa", comentou.
Maia disse ao Estado que só formalizará sua candidatura depois de costurar o apoio dos partidos de esquerda. "Eu posso ser o nome que vai unificar a Câmara", observou ele.