Fernando Haddad: "Se conseguirmos esclarecer o que se passou no Brasil (...), isso pode ajudar o mundo a encontrar o passo de uma democracia estável que não esteja sujeita aos solavancos promovidos por ações orquestradas em rede social" (Dario Oliveira/NurPhoto/Getty Images)
Reuters
Publicado em 21 de novembro de 2018 às 19h23.
Brasília - O PT planeja entrar com uma ação contra o Whatsapp nos Estados Unidos para que a empresa abra o acesso a dados da distribuição de notícias falsas pelo aplicativo durante as eleições brasileiras, disse nesta quarta-feira o ex-candidato petista à Presidência, Fernando Haddad.
O partido pretende procurar um advogado nos Estados Unidos para verificar a possibilidade de o próprio PT abrir a ação ou se será necessário encontrar um parceiro em solo norte-americano que possa fazê-lo em nome do partido.
"Falta um advogado nos dizer se temos legitimidade ou se alguém precisa nos patrocinar lá. Vou ver quem pode nos orientar", disse Haddad.
O Facebook, que controla o aplicativo WhatsApp, recusou-se a dar os dados de quem repassou mensagens, dentro do esquema pago de disparo de mensagens em massa que teria beneficiado a campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro alegando questões de privacidade dos clientes. Haddad esclareceu que o partido não pretende que a Justiça tenha acesso a microdados, o que feriria a privacidade.
"Eu penso que é uma ação de caráter universal porque tem relevância universal. Se conseguirmos esclarecer o que se passou no Brasil e que não pode ser investigado aqui, isso pode ajudar o mundo a encontrar o passo de uma democracia estável que não esteja sujeita aos solavancos promovidos por ações orquestradas em rede social", defendeu.
Haddad esteve em Brasília para um primeira reunião com as bancadas na Câmara e no Senado, incluindo novos parlamentares eleitos para a próxima legislatura.
O encontro serviu para o PT fazer mais uma análise dos problemas enfrentados na campanha e a ação do partido nos próximos anos, como oposição ao governo Bolsonaro. Uma das questões levantadas foi justamente a falta de preparo do partido para lidar com as mídias sociais e a avalanche de notícias falsas que dominou a campanha, além da necessidade do PT recuperar espaço entre setores da população em que perdeu apoio nos últimos anos.
"Há trabalho a ser feito. Se é verdade que a mentira foi disseminada, é verdade também que as pessoas de uma certa maneira estavam predispostas a acreditar naquilo. E se estavam predispostas é porque de alguma maneira nós não estávamos próximos alertando dessa possibilidade", disse o ex-candidato.
Considerado depois das últimas eleições a maior liderança do PT depois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, preso em Curitiba desde abril, tem sua ação limitada - Haddad deve tentar negociar uma frente de oposição para os próximos anos e que possa ir além dos partidos de centro-esquerda.
Segundo ele, há duas "trincheiras", a dos direitos sociais, e a dos direitos civis. Haddad defende que a defesa de direitos sociais como o SUS e a Previdência pública deve se concentrar mais em partidos de centro-esquerda, mas que a defesa dos direitos civis -como a ação contra o projeto escola sem partido- pode incluir parlamentares de centro e até centro-direita, em alguns casos, por ser mais ampla.
Logo depois do segundo turno, partidos como PDT, PSB e PCdoB começaram a articulação para uma frente de oposição, mas sem incluir o PT. Haddad pretende mediar as rusgas que ficaram de um processo eleitoral em que a direção do PT terminou por desagradar aliados em todos os lados. "Uma frente se constrói por programa, não se faz por simpatias e antipatias pessoais. Será uma frente em torno de direitos", disse.
O ex-prefeito de São Paulo anunciou também que começará, na semana que vem, uma série de viagens internacionais em torno de uma frente progressista mundial. Haddad foi convidado pelo senador norte-americano Bernie Sanders e pelo ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis, os dois articuladores da frente, para o lançamento, nos dias 28 e 29 deste mês, em Nova York.