Luciana Genro: em 2014, ela conquistou 1,55% dos votos para o cargo (Divulgação/PSOL)
Marília Almeida
Publicado em 18 de dezembro de 2016 às 16h20.
Uma das fundadoras do PSOL e candidata derrotada na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre (RS) deste ano, Luciana Genro defende que o partido tenha um candidato próprio para disputar a Presidência da República em 2018.
Em 2014, ela conquistou 1,55% dos votos para o cargo. Em outubro, na disputa pela capital gaúcha, apesar do bom desempenho nas pesquisas iniciais, a candidata contabilizou apenas 12% dos votos no primeiro turno e ficou em 5º lugar.
Integrante da legenda que pediu o impeachment de Michel Temer na Câmara, a socialista aposta na mobilização social para que o pedido vá em frente, mesmo diante da 'blindagem' da base.
"Nossa expectativa é que se possa mobilizar o povo, que esse pedido de impeachment tenha respaldo social e possa dessa forma superar a blindagem que vem sendo feita por parte da maioria dos partidos, da grande mídia, em relação ao Temer", afirmou em entrevista ao HuffPost Brasil.
Luciana Genro criticou ainda o projeto de abuso de autoridade em tramitação no Senado e a tentativa de anistia ao caixa dois na Câmara.
Para a socialista, a Operação Lava Jato colocou "a nu que a corrupção não era um fato isolado de um governo, mas sim um método de governar que vem sendo utilizado desde sempre no Brasil".
Leia a íntegra da entrevista:
HuffPost Brasil: Apesar da denúncia envolvendo o ex-minsitro Geddel Vieria Lima, o presidente Michel Temer mantém uma base no Congresso, incluindo o presidente da Câmara, que tem a atribuição de aceitar o pedido de impeachment apresentado pelo PSOL. Qual a perspectiva desse processo seguir adiante?
Luciana Genro: Há um clima de insatisfação muito grande na rua contra o governo. Há uma crise política muito profunda e tem a ver com o fato de que o governo não tem uma legitimidade popular. Ao mesmo tempo ele tem apresentado propostas perante o Congresso que são totalmente impopulares, como a reforma da Previdência e a PEC do teto de gastos. E a corrupção continua evidenciada como um método de governo. Aquelas pessoas que foram às ruas indignadas com a crise econômica, com a corrupção durante o governo Dilma, elas continuam tendo as mesmas razões para irem às ruas porque a crise continua profunda e a corrupção continua funcionando no governo. Portanto nossa expectativa é que se possa mobilizar o povo, que esse pedido de impeachment tenha respaldo social e possa dessa forma superar a blindagem que vem sendo feita por parte da maioria dos partidos, da grande mídia, em relação ao Temer.
Uma renúncia seria mais difícil de acontecer?
Nada é imposssível, mas tudo depende dessa pressão externa. Se o povo permitir que as castas políticas se protejam, se acertem e possam driblar os problemas, eles vão driblar. Seja através da manutenção do governo, seja através de políticas cada vez mais duras contra o povo.
A crise política pode ter um impacto direto na aprovação de medidas como o teto de gastos públicos e a reforma da Previdência?
Sem dúvida vai ter. Outro elemento imponderável na situação política é a Operação Lava Jato, que ao meu ver é muito importante. É muito importante que ela seja respaldada. Apesar de erros ou eventuais abusos que possam ter sido cometidos, a essência dessa operação é muito importante porque ela está colocando a nu que a corrupção não era um fato isolado de um governo, mas sim um método de governar que vem sendo utilizado desde sempre no Brasil. Ao desnudar tudo isso ela dá oportunidade ao Brasil de rever essas políticas, essas práticas. Mas há um operativo para tentar impedir que, não só a operação Lava Jato, mas qualquer outra operação de combate à corrupção possa ter sucesso. Esse operativo vem sendo encabeçado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele próprio um réu que quer, através daquele projeto de abuso de autoridade, intimidar o Ministério Público. E ao mesmo tempo essa manobra toda em torno da anistia ao caixa dois, que é uma forma de esvaziar as ações da Lava Jato. É muito importante que se esteja atento a esses movimentos para abafar qualquer tentativa de seguir na investigação da corrupção. E junto com isso intensificar a pressão contra essas medidas que atacam diretamente os direitos dos trabalhadores, como a reforma da Previdência e a PEC do teto. E eu acredito que essa crise política já está dificultando bastante o operativo de anistia ao caixa dois. A coletiva dada pelo presidente e pelos presidentes dos Poderes no domingo refletiu isso.
Além do teto de gastos da União, foi firmado um pacto de ajuste fiscal com os governos estaduais. No caso do Rio Grande do Sul, o governador, José Ivo Sartori (PMDB), anunciou um pacote de medidas. Qual o impacto dessas ações para os trabalhadores?
São medidas que vão no caminho do modelo neoliberal, do modelo que privilegia os interesses do capital financeiro em detrimento dos interesses da população. E os interesses dos servidores públicos são, em grande medida, também interesses da população. Porque não há serviços públicos de qualidade sem um servidor público bem remunerado, bem qualificado. Então a lógica de seguir submetendo o País a altas taxas de juros, a um processo de financeirização da economia que é brutal e que inibe os investimentos produtivos - porque é muito mais vantajoso para as empresas colocar seu dinheiro na ciranda financeira do que gerar empregos - é o modelo neoliberal que tanto se combateu e que revive com muita força nesse momento em que Michel Temer assume a Presidência da República sem nenhuma legitimidade porque não foi esse o programa eleito nas urnas em 2014.
Nomes como Ciro Gomes e Flavio Dino defendem que a esquerda caminhe para o centro para conseguir votos. Qual será o papel da esquerda em 2018? O PSOL já tem pré-candidato?
O partido não discutiu isso ainda. Temos em dezembro uma reunião que vai fazer as primeiras discussões a respeito disso, mas eu não tenho dúvida que nós precisamos unir não só a esquerda mas todos que queiram enfrentar esse avanço da direita e da extrema direita. Mas é preciso unir em cima de um programa, e esse programa a meu ver começa pela necessidade de derrotar essas medidas do ajuste fiscal: a reforma da previdência, a reforma trabalhista, o teto de gastos. Ele precisa também ser um programa que apoie a luta contra a corrupção e portanto não aceite manobras para impedir que as investigações e punições continuem. E é preciso também um programa que rediscuta a estrutura tributária do País, que faça o grande capital pagar a conta dessa crise e não os trabalhadores. Em cima de um programa com essas características, eu acho fundamental que nós possamos nos unir de forma mais ampla possível e cada partido deve apresentar o seu pré-canditato. Eu acho que o PSOL deve ter o seu pré-candidato e, a partir das candidaturas colocadas, que se faça uma discussão e se tente chegar a algum tipo de encontro. E que, se não se conseguir, que se saiba onde reside a diferença, para que as políticas se expressem claramente em 2018, no processo eleitoral.