Divisão: PT e PSL terão, em 2020, as maiores fatias dos fundos públicos que financiam as campanhas eleitorais (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de julho de 2019 às 11h42.
Última atualização em 16 de julho de 2019 às 11h49.
Disposto a atuar como cabo eleitoral em 2020, o presidente Jair Bolsonaro aposta na polarização com a esquerda para ajudar seu partido, o PSL, a ganhar o comando de capitais, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
A ideia é repetir a estratégia que elevou a bancada da sigla na Câmara de oito para 52 deputados em 2018. Enquanto isso, a oposição ainda se organiza e avalia que pautas apresentar ao eleitorado descontente com o governo.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, aprova o envolvimento do pai nas campanhas. "Seria um aproximação com as bases e uma ajuda para o crescimento do partido e das ideias do Jair Bolsonaro. O que a gente não quer é uma maioria de prefeitos de viés socialista, a gente não vê isso como algo saudável", disse Eduardo ao Estado.
Nomes governistas já sinalizam que vão seguir o tom do Palácio do Planalto e incentivar o embate com siglas de esquerda, numa tentativa de anular candidatos de centro. "Ainda há uma polarização no Brasil. Não adianta ter um cara mais ou menos. Tem que ser um para cá e outro para lá", afirmou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), pré-candidata do partido à Prefeitura de São Paulo.
PT e PSL terão, em 2020, as maiores fatias dos fundos públicos que financiam as campanhas eleitorais.
A estratégia de nacionalizar o debate é um desafio, pois não costuma haver uma vinculação entre o resultado das eleições presidenciais e o das municipais. "Tem de tomar cuidado para não polemizar em algo que não é a agenda do cidadão", disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nos 13 anos de PT no Planalto, o partido só elegeu prefeito uma vez em Belo Horizonte (Fernando Pimentel) e uma vez em São Paulo (Fernando Haddad), quando considerados os quatro maiores colégios eleitorais do País. Rio e Salvador nunca foram administradas por petistas.
Destas quatro capitais, o PSL já tem pré-candidaturas em São Paulo, com Joice, e no Rio, onde o deputado estadual Rodrigo Amorim, notabilizado por ter quebrado uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL), figura como principal nome.
Em Salvador, há chances de o partido indicar o vice na chapa de Bruno Reis (DEM), atual vice-prefeito de ACM Neto (DEM), presidente da legenda. Em Belo Horizonte, a investigação que envolve o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, presidente do diretório mineiro, deixa o partido em situação mais delicada.
Movimentos de direita apoiam a candidatura do deputado estadual Bruno Engler, mas o ministro busca uma alternativa com apelo popular. "O cenário ainda está indefinido. Temos um nome forte que está filiado, um apresentador de TV", disse o ministro, sem revelar quem é a "carta na manga".
O presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), disse que o partido quer ter candidato próprio a prefeito em cidades com mais de 100 mil habitantes.
A legenda inicia uma campanha de filiação a partir do dia 17 de agosto e quer usar a imagem de Bolsonaro e dos parlamentares eleitos para crescer. A principal disputa, porém, é a Prefeitura de São Paulo, terceiro maior PIB do País. "Minha candidata é a Joice, mas não está definido", afirmou Bivar.
Apesar de ter o apoio da direção nacional e da bancada, inclusive de nomes com os quais já se desentendeu, como o deputado Alexandre Frota (SP), Joice enfrenta resistências no partido, principalmente no clã presidencial.
Ela é vista com desconfiança por causa da proximidade com o governador paulista, João Doria (PSDB), potencial adversário de Bolsonaro na disputa pelo Palácio do Planalto em 2022.
"Não vou tomar essa decisão sozinho. Joice teve mais de 1 milhão de votos, tem notoriedade em São Paulo e poderia ser um nome para a Prefeitura, sim", afirmou Eduardo Bolsonaro, que convidou o apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena para ingressar no partido e ser uma opção para disputar o cargo que hoje é de Bruno Covas (PSDB).
Do outro lado, o PT passará por um momento de definição de prioridades no segundo semestre. Pesquisas internas detectaram que a crescente desaprovação a Bolsonaro não transferiu simpatia ao partido, a ponto de reabilitar a legenda. A depender da evolução de indicadores econômicos, o PT poderá "bater de frente" com Bolsonaro ou fazer uma campanha sobre "buracos de rua".
Derrotado por Bolsonaro em 2018, o ex-prefeito Fernando Haddad disse a correligionários que não deseja disputar a Prefeitura paulistana novamente. Numa estratégia inédita no Rio, o PT deverá abrir mão da cabeça de chapa em prol do deputado Marcelo Freixo (PSOL).
Em Salvador, os caciques petistas avaliam a conveniência de, a exemplo de 2016, abdicar de enfrentar o DEM e apoiar um aliado do governo de Rui Costa (PT), como o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante-BA).
"O PT deve ter um projeto para o País com início, meio e fim. E não tem. Se não mudar, o PT vai perder em 2022. A partir disso, defendo que tenha candidato em todas as cidades", disse o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que tentará, novamente, disputar a prefeitura de Belo Horizonte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.