Trem-bala: o projeto está cercado por polêmicas e adiamentos desde que foi anunciado, em 2007 (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2013 às 14h39.
Rio de Janeiro - Os protestos por melhores serviços públicos que ocorrem no Brasil desde junho e as eleições presidenciais de 2014 enchem de dúvidas a licitação do governo federal para o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, que nesta semana foi adiada pela quarta vez desde 2010.
Enquanto muitos permanecem nas ruas exigindo mais investimentos em educação e saúde e protestando contra o desperdício de recursos públicos, o governo dificilmente insistirá no que pode ser o primeiro trem de alta velocidade da América Latina, especialmente em plena campanha eleitoral, segundo fontes políticas e jurídicas consultadas pela Agência Efe.
'Sem dúvida o clima das ruas oferece um motivo adicional para que esse projeto seja arquivado. Não há clima para que seja iniciado neste governo', disse o deputado federal e ex-governador da Bahia Antonio Imbassahy (PSDB-BA).
'O novo adiamento lança mais dúvidas sobre o futuro do projeto. No debate político, surgirão novos questionamentos sobre sua conveniência devido a seu porte e ao impacto das eleições de 2014', afirmou o advogado Henrique Motta Pinto, um especialista em direito político do escritório Sampaio Ferraz.
Além da falta de um clima político adequado para a licitação, pesa o escândalo de corrupção que foi à tona nas últimas semanas e que envolve algumas das empresas interessadas em vencer a licitação do trem de alta velocidade.
Segundo informações vazadas de uma investigação em mãos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a alemã Siemens admitiu um conluio com outras empresas para fraudar licitações em São Paulo e no Distrito Federal.
A formação de um cartel ilegal para manipular as licitações e um acordo nos preços da leilão supostamente permitiu que as multinacionais dividissem contratos para a reforma de trens.
A francesa Alstom integra o grupo francês interessado no trem-bala Rio-São Paulo, e Siemens e a espanhola Caf negociam sua participação nos consórcios alemão e espanhol, respectivamente.
Apesar de o ministro dos Transportes, César Borges, ter garantido que o governo continua interessado no projeto e que o concurso será convocado novamente dentro de pelo menos 12 meses, políticos e juristas consideram que dificilmente poderá ser realizado antes das eleições de 2014.
'O assunto logicamente entrará no debate eleitoral, apesar de o governo não o mencionar e que fará todo o possível para que caia no esquecimento, já que se trata de algo muito impopular quando nas ruas se pede prioridade em outras áreas', segundo Imbassahy.
A decisão, além disso, passará a depender do vencedor das eleições presidenciais, já que o projeto é defendido pela presidente Dilma Rousseff, mas alguns de seus possíveis rivais o consideram desnecessário, custoso e inviável.
Dilma, que ainda não confirmou se tentará a reeleição, liderava com grande vantagem as pesquisas de intenção de voto, mas sua popularidade vem caindo desde que os brasileiros começaram a sair às ruas em grandes protestos.
O senador Aécio Neves, o mais provável candidato presidencial pelo PSDB, pediu que o governo arquive o projeto por considerá-lo um 'desatino' na atual conjuntura.
Marina Silva, segunda colocada nas pesquisas, também se opõe ao trem. 'Entre o trem-bala e educação de qualidade, prefiro investir na segunda', afirmou a ex-ministra do Meio Ambiente.
O projeto está cercado por polêmicas e adiamentos desde que foi anunciado, em 2007. A licitação já tinha sofrido dois adiamentos também para dar mais tempo aos consórcios interessados, e o governo chegou a realizar um leilão em julho de 2011. Porém, como nenhuma empresa apresentou oferta, teve que reformular todo o processo. EFE