(UM BRASIL/Divulgação)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 9 de junho de 2023 às 08h01.
Ao olhar as imagens dos protestos de junho de 2013 que mobilizaram o país, a frase "fim da corrupção" era o que mais aparecia em faixas, cartazes e discursos. Dez anos depois do movimento, que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o tema corrupção deixou de ser a pauta de insatisfação da população em um contexto pós-pandemia de covid-19 e inflação alta, diminuindo o poder de compra dos brasileiros.
Para Angela Alonso, professora de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), ao olhar para o passado, o processo de inclusão do tema corrupção como principal assunto na mente do brasileiro começou muito tempo antes de junho de 2013.
"Depois do escândalo do mensalão durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva [PT], em 2005, só se falava em corrupção. Ele sofreu o escândalo, mas foi a Dilma que viveu o julgamento. Ali, virou praticamente o único assunto. Depois que o esse ciclo todo acabou, e houve a troca de poder, o assunto sumiu de pauta. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro [PL], mesmo com alguns escândalos, o assunto não teve tanta magnitude", explicou ela durante entrevista ao Canal UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, realizada em parceria com EXAME.
A pesquisadora se debruçou sobre os protestos de junho de 2013 em seu livro recém-lançado 'Treze: a política de rua de Lula a Dilma'. Para ela, há várias formas de categorizar o que ocorreu: crise de representação, reação contra o sistema político e tese do “sequestro” (uma das mais predominantes atualmente), que defende que se tratava de um protesto de esquerda, mas que a direita tomou conta. No entanto, avalia, nenhuma dessas definições pode existir sozinha.
“O ponto que defendo é que não foi só nem uma coisa nem outra. Todas essas forças estavam, ao mesmo tempo, nas ruas”, afirma.
A socióloga pondera que junho era um mosaico com muitos grupos e movimentos, com objetivos e agendas diferentes que estiveram ao mesmo tempo nas ruas, pois tinham em comum o partido do governo federal — mas não havia um projeto e uma direção em comum. “Nos anos seguintes, as ruas foram tomadas por movimentos de feições mais liberais e conservadoras, e outros francamente reacionários”, afirma.
Angela ainda destaca que no dia em que foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-deputado Deltan Dallagnol trouxe em um pronunciamento um dos assuntos que mais esteve em voga nas duas últimas eleições: a pauta mora e de costumes.
Para ela, as ideias mais conservadoras conversam com uma parcela grande da sociedade, que continua para além do pleito. “Essa retórica da moralização passou a dominar o debate político, de que são os bons governantes que devem ser valorizados, e não as boas instituições e as boas políticas”, diz.