#EleNão: milhares se reuniram em São Paulo para protestar contra Bolsonaro (Nacho Doce/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 29 de setembro de 2018 às 23h01.
Última atualização em 30 de setembro de 2018 às 12h06.
São Paulo — O protesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) em São Paulo foi marcado pela união de adversários políticos. Manifestantes alinhados à direita, ao centro e à esquerda se mobilizaram para defender a "manutenção da democracia".
Essa foi a mensagem deixada pelos mais de 150 mil participantes, segundo estimativa dos organizadores, que se reuniram na tarde deste sábado (29), no Largo da Batata, em Pinheiros. Apesar de a convocação ter sido feita por um movimento independente de mulheres, na passeata havia também militantes de partidos do PT, PSOL, PDT e Rede.
Além disso, participaram também grupos organizados como o Coletivo Democracia Corinthiana (CDC), o APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e o a Rede Emancipa, um movimento social de educação popular.
A marcha saiu do Largo da Batata e terminou na Avenida Paulista, por volta das 21h30. No fim, as organizadoras do #EleNão leram um manifesto para afirmar que Bolsonaro é defensor da ditadura militar. "Nós não queremos ditadura ou fascismo e nem a ampliação da matança da Polícia Militar". Haverá um novo protesto em 7 de outubro, dia do primeiro turno das eleições, segundo as militantes.
A educadora Andrea Lopes levou seus dois filhos, de nove anos, para participar do ato deste sábado. "É pedagógico trazê-los para vivenciar esse momento histórico do Brasil. Alguns falaram que era muito arriscado por conta da quantidade de pessoas, mas eles precisam vivenciar essa experiência. Só assim para aprender o que nós mulheres enfrentamos", afirmou.
Apesar da quantidade de manifestantes, não houve nenhum conflito durante a passeata. A Polícia Militar esteve presente tanto no ponto de partida quanto no de chegada.
Cristiano Araújo Torres levou sua filha de seis anos para a marcha. Eleitor de Marina Silva (Rede), ele afirma que as ideias apresentadas por Bolsonaro e seu vice, o General Hamilton Mourão, não o representam. "Não gosto do que os dois falam e acredito no poder que a democracia brasileira tem", contou.
Candidatos à presidência também marcaram presença no ato. A presidenciável pela Rede, Marina Silva, reforçou que a possível eleição do capitão reformado é autoritária. Guilherme Boulos, do PSOL, parabenizou as mulheres por defenderem seus direitos e os da democracia brasileira. "É o início da derrota de Bolsonaro". As vices Manuela D'Ávila e Kátia Abreu foram representar seus candidatos, Fernando Haddad e Ciro Gomes, respectivamente.
No Largo da Batata, contra todas as formas de autoritarismo que tentam calar nossa voz. #Elasim pic.twitter.com/78x995vOjH
— Marina Silva (@MarinaSilva) September 29, 2018
O agrônomo André Gasparo fez questão de estar presente, assim como outros inúmeros homens. "A possível eleição deste candidato ameça toda a nossa sociedade. E é um fato que após períodos conturbados, como a crise econômica que enfrentamos, discursos contra a democracia sejam proferidos", afirmou.
A movimentação feminina contra a candidatura do pesselista entrou para história contemporânea da política brasileira. O protesto foi o maior das eleições deste ano no país.
Para a médica Célia Medina, membro do CDC e militante de esquerda, a candidatura de Bolsonaro é uma ameaça ao futuro dos jovens. "O Brasil corre o risco de cair em uma situação pior de retirada de direitos. E nós, mulheres, não podemos permitir que isso aconteça", disse.
As estudantes Bianca Guimarães e Jéssica Ferreira enfatizaram o perigo de retrocesso dos poucos direitos que as mulheres, principalmente as negras conquistaram até hoje. "Nós somos mulheres e negras, por isso precisamos enfrentar qualquer ação que queira cercear nossos direitos", relataram.
Mais de 40 cidades de 15 estados brasileiros também manifestaram suas opiniões contrarias à Bolsonaro. Para este domingo (30), mais atos estão marcados. Em São Paulo haverá uma manifestação a favor do candidato do PSL.
Os protestos "Mulheres no Exterior Contra Bolsonaro" aconteceram em 63 cidades espalhadas por 20 países. As manifestações se estenderam para Cidade do Cabo (África do Sul), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina) e Londres (Reino Unido).