Brasil

Propriedades geridas por mulheres são cerca de 5% da área rural

A posse dos estabelecimentos rurais dominada por homens pode ser um fator que acentua as desigualdades de gênero no país

Campo: a autarquia garante às mulheres assentadas a titularidade do lote ocupado pela família (Philippe Huguen/AFP)

Campo: a autarquia garante às mulheres assentadas a titularidade do lote ocupado pela família (Philippe Huguen/AFP)

AB

Agência Brasil

Publicado em 1 de dezembro de 2016 às 09h36.

A agricultora, Ana Maria Azevedo dos Santos, 50 anos, produz legumes e verduras orgânicos há mais de dois anos para fins comerciais. A propriedade, localizada em Pedro do Rio, na região serrana do Rio de Janeiro, é da família, mas está no nome do irmão, que é seu sócio.

"A maioria dos produtores da região não é dona da propriedade e os donos são todos homens. Em geral, as mulheres não se metem nessa questão financeira, o homem é o provedor e a mulher é a mantenedora. Acho que é cultural", comentou Ana Maria.

"Acho que o homem, dentro dessa visão patriarcal, tem medo de perder o seu papel, sua função, se a mulher passar também a ter a posse da terra e das finanças e se tornar provedora", afirmou.

Para a diretora executiva da organização não governamental (ONG) Oxfam Brasil, Katia Maia, a posse dos estabelecimentos rurais dominada por homens tanto em número quanto em tamanho da terra acentua as desigualdades de gênero no país.

"Metade da população brasileira é composta por mulheres, que também têm papel importante no mundo rural. Não ter a propriedade significa uma relação de poder do homem sobre a mulher. Essa desigualdade diminui um pouco quando passa para as propriedades menores, mas ainda é grande", disse ela. "A reforma agrária tem papel fundamental de ajudar a enfrentar essa distorção de gênero, ao incluir a mulher na posse da terra".

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a autarquia garante às mulheres assentadas a titularidade do lote ocupado pela família.

"Também é possibilitado o acesso ao Fomento Mulher, linha de crédito voltada à implantação de projeto produtivo sob responsabilidade da mulher titular do lote, no valor de até R$ 3 mil, em operação única, por família assentada", informou o instituto por e-mail.

O Incra citou ainda ações de assistência técnica, na organização de grupos femininos, para ampliar a renda nos assentamentos e consolidar a participação das mulheres no planejamento e gestão de empreendimentos da reforma agrária.

O estudo também mostrou que menos de 1% das propriedades agrícolas detém quase metade da área rural brasileira e que o Brasil ocupa o quinto pior lugar no ranking da América Latina do coeficiente de Gini, que mede a desigualdade na distribuição de terra.

Acompanhe tudo sobre:AgriculturaDados de BrasilMulheresTerras

Mais de Brasil

Governo Lula se preocupa com o tom usado por Trump, mas adota cautela e aguarda ações práticas

Lula mantém Nísia na Saúde, mas cobra marca própria no ministério

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático