Sérgio Moro: o juiz citou, na decisão, um trecho do diálogo travado por Joesley e Aécio (Rafael Marchante/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de julho de 2017 às 22h01.
São Paulo - Ao mandar prender em regime preventivo o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, nesta segunda-feira, 31, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que pedir propina é "uma prática corriqueira" para o executivo.
"De particular gravidade, a solicitação e o recebimento, em cognição sumária, de vantagem indevida em dois momentos temporais e circunstanciais distintos. Teria solicitado vantagem indevida no cargo de Presidente do Banco do Brasil e teria reiterado a solicitação depois de assumir o cargo de Presidente da Petrobras", afirmou Moro, no despacho em que converteu a prisão temporária de Bendine em preventiva, ou seja, sem prazo para terminar.
Bendine e os irmãos André Gustavo e Antonio Cláudio Vieira da Silva, seus supostos operadores financeiros, foram presos temporariamente na quinta-feira, 27, pela Operação Cobra, 42.ª fase da Lava Jato.
O ex-presidente da Petrobras é suspeito de receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht.
Para o magistrado, é "especialmente assustador" que Bendine tenha recebido duas parcelas de propina em 24 de junho de 2015 e 1.º de julho de 2015, "após a efetivação da prisão preventiva do presidente do Grupo Odebrecht (Marcelo Odebrecht) em 19 de junho de 2015".
O juiz da Lava Jato citou, na decisão, um trecho do diálogo travado pelo empresário Joesley Batista e pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG).
A conversa foi gravada por Joesley e entregue à Procurador-Geral da República como parte do acordo de delação premiada do executivo.
"Também relevantes, mais recentemente, o fato de o empresário Joesley Batista, em diálogo gravado, teria indicado o nome de Aldemir Bendine para a Presidência da Vale em troca de compensação financeira a seu grupo e a agentes políticos, acordo criminoso este que contaria com o conhecimento de Aldemir Bendine", lembrou Moro.
"Essa sucessão de fatos sugere que a solicitação e o recebimento de vantagem indevida por Aldemir Bendine não foram algo ocasional em sua vida profissional, mas uma prática corriqueira."
Em seu depoimento à Polícia Federal nesta segunda-feira, 31, Bendine negou que tenha recebido propina de R$ 3 milhões da Odebrecht. Ele afirmou que não recebeu valores ilícitos de qualquer empresa.