Dubai: viagens ocorreram durante a campanha eleitoral de 2014, segundo a procuradoria (Anna Omelchenko/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de fevereiro de 2017 às 14h57.
São Paulo e Rio - Na nova denúncia apresentada na terça-feira, 14, contra o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), sua mulher Adriana Ancelmo e outras nove pessoas, a força-tarefa da Lava Jato no Rio aponta que viagens de helicóptero do peemedebista e seus familiares, e até viagens de avião dele com sua mulher para Dubai e Londres, em 2014, foram pagas com dinheiro de propina.
Foram identificados ao menos 21 voos de helicóptero entre 1º de janeiro e 22 de fevereiro de 2015, no valor de R$ 187,1 mil.
Dentre os destinos, aparecem o município de Mangaratiba, onde o peemedebista tem uma mansão, e até o Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense, atualmente sob a gestão de Luiz Fernando Pezão (PMDB) que foi secretário de Estado na gestão Cabral.
Também foram identificados pela Procuradoria da República ao menos 12 passagens de avião, incluindo ida e volta, adquiridas em nome Adriana Ancelmo, Sérgio Cabral e outros familiares para destinos como Londres e Dubai.
Segundo a documentação encaminhada ao MPF, o casal adquiriu passagens para viajar para Londres entre agosto e setembro de 2014.
Posteriormente, foram adquiridas passagens para Dubai, nos Emirados Árabes, entre 8 e 17 de outubro de 2014, durante as eleições presidenciais.
Neste período, segundo os registros, consta a reserva no hotel de luxo Atlantis The Palm em nome de Adriana Ancelmo.
A procuradoria chegou aos valores a partir da planilha entregue pelos irmãos Marcelo e Renato Chebar, operadores de contas no exterior de Sérgio Cabral e que fizeram delação premiada.
Além de cuidar dos recursos do peemedebista em contas secretas, eles também admitiram que faziam entregas de dinheiro em espécie para o grupo de Cabral.
Uma das planilhas dos irmãos indica a movimentação no Brasil de R$ 1.066.813,20 entre 7 de agosto de 2014 e 1 de junho de 2015 para um destinatário identificado como "Pierre".
Aos investigadores, Pierre Cantelmo Areas confirmou ter prestado, de 2004 a 2015, três tipos de serviços para Sérgio Cabral e seus familiares: i) fretamento de voos de helicóptero; ii) emissão de passagens aéreas junto a empresas de aviação comercial para voos nacionais e internacionais e; iii) serviços de embarque e desembarque. Ele ainda entregou uma relação de e-mails e das planilhas com as viagens de helicóptero e de avião da família Cabral.
"A utilização desses serviços, no entanto, era uma forma de lavar os recursos ilícitos auferidos pelo grupo criminoso, tendo em vista que, segundo Pierre, a forma de pagamento que Sérgio Cabral utilizava em remuneração aos serviços prestados era a entrega de dinheiro em espécie ou depósito de dinheiro em contas do depoente", diz a denúncia assinada por nove procuradores da República da força-tarefa do Rio.
Os investigadores apontam ainda que a acusação apresentada "não versa sobre todas as despesas pessoais de Sérgio Cabral e seus familiares, pois ainda estão sendo identificados todas as pessoas que movimentaram ou foram destinatárias dos recursos ilícitos da organização criminosa".