Brasil

Promotor vê fraude de R$ 318 mi contra a Sabesp

Segundo a Promotoria, empresas se uniram para ganhar a licitação por um preço maior do que o necessário, o que teria causado dano ao patrimônio público


	O inquérito que baseou a ação civil pública foi provocado pela própria Sabesp, que tomou conhecimento do acordo entre as duas empresas e oficiou ao MP

O inquérito que baseou a ação civil pública foi provocado pela própria Sabesp, que tomou conhecimento do acordo entre as duas empresas e oficiou ao MP

DR

Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2012 às 09h58.

São Paulo - O Ministério Público Estadual quer que um ex-diretor da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e duas empresas acusadas de fraude em uma licitação da estatal devolvam um total R$ 318,9 milhões aos cofres públicos por causa de suposta irregularidade.

Segundo a Promotoria, as empresas se uniram para ganhar a licitação por um preço maior do que o necessário, o que contraria as regras do edital e teria causado dano ao patrimônio público.

A ação foi proposta pelo promotor Marcelo Camargo Milani e tramita na 3ª Vara da Fazenda Pública da capital. A suposta fraude ocorreu em 2007, quando a Sabesp abriu concorrência para contratar uma empresa para realizar as obras dos lotes do sistema produtor de água Mambu/Branco, na Baixada Santista.

A construtora Concic - que atualmente se chama Ônix Construções - ofereceu o menor valor para o terceiro lote, de R$ 59,6 milhões, e deveria ganhar o certame.

A empresa, porém, não apresentou os documentos necessários em tempo hábil e acabou desclassificada. Dessa maneira, foi contratada a segunda colocada, a Saenge Engenharia de Saneamento, que havia oferecido um preço de R$ 73,4 milhões.

Em vez de fazer as obras sozinhas, porém, a Saenge subcontratou a Concic para que ambas tocassem os trabalhos meio a meio - o que era proibido pelas regras do edital, que permitia subcontratação apenas de 30% das obras e apenas com anuência expressa da Sabesp.

Segundo o promotor, a associação das duas empresas foi combinada antes mesmo que a Concic desistisse de ser a contratada oficial. Isso significaria que o acordo serviria apenas para que a Sabesp tivesse de pagar um valor maior para a execução da obra, que seria dividido entre as duas empresas.

"A referida empresa desistiu do certame com nítido propósito de favorecer a segunda colocada, Saenge, para com ela constituir sociedade e dividir os lucros com contratação excessivamente onerosa", afirmou Milani.


O inquérito que baseou a ação civil pública foi provocado pela própria Sabesp, que tomou conhecimento do acordo entre as duas empresas e oficiou ao Ministério Público e outros órgãos pedindo a abertura de investigação. Além disso, a Sabesp cancelou o contrato e proibiu que a Saenge contratasse com o poder público e cobra na Justiça um ressarcimento de R$ 10 milhões da empresa.

Mesmo assim, Milani também colocou como réu na ação o ex-diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp Marcelo Salles Holanda de Freitas. Segundo depoimentos colhidos pelo Ministério Público, Freitas teria ciência do acordo entre as duas empresas desde maio de 2009 e teria inclusive dado anuência verbal ao contrato. As primeiras providências da Sabesp, porém, só foram adotadas em dezembro daquele ano. "(Freitas) manteve-se inerte, desprezando seu dever de fiscalizador e responsável pela execução do contrato de obras", afirmou o promotor.

A ação civil pública pede que os réus - as duas empresas, seus presidentes e o ex-diretor da Sabesp - devolvam a quantia equivalente à diferença entre a proposta da Saenge e a da Conciv, que era R$ 17,7 milhões mais barata, além do valor já que teria sido pago à Saenge pelos trabalhos prestados entre a assinatura do contrato e a sua anulação. O resto da quantia diz respeito aos prejuízos sofridos com a paralisação das obras e à multa civil prevista na legislação federal.


Procurada pela reportagem, a Saenge Engenharia de Saneamento e seu diretor presidente, Luiz Arnaldo Pereira Mayer, afirmaram que não poderiam comentar a acusação, por causa de cláusulas contratuais.

"Agradecemos a oportunidade concedida de manifestação. Devido à cláusula contratual, estamos impedidos de qualquer comentário. Oportunamente manteremos contato para posicionar nossa empresa", diz nota enviada pela empresa por e-mail.

A reportagem não conseguiu localizar o ex-diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp Marcelo Salles Holanda de Freitas. Ele deixou a companhia em setembro do ano passado, após revelação de que uma empresa da qual ele foi sócio até 2007 elevou em R$ 170 milhões os negócios com a Sabesp depois de ele se tornar diretor da estatal, em janeiro daquele mesmo ano. Na época, ele negou haver conflito de interesses. Também não foi possível localizar a Ônix Construções e seu representante legal, Marcos Assumpção Pacheco de Medeiros. 

Acompanhe tudo sobre:ÁguaEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasFraudesJustiçaSabespSaneamentoServiços

Mais de Brasil

Entenda 'fatiamento' de denúncia contra Bolsonaro e veja quem está em cada grupo

Rio cria canal para denúncias de trabalhadores em calor extremo

Senado aprova projeto que libera emendas bloqueadas em primeira sessão presidida por Alcolumbre

Entenda os argumentos da PGR para denunciar Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe