Parto: o projeto atuou de forma a reorganizar o modo de trabalho das instituições participantes (Thinkstock/janzwolinski)
Agência Brasil
Publicado em 17 de novembro de 2016 às 14h55.
Um projeto da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) conseguiu aumentar em 43% a taxa de partos normais em 35 hospitais particulares de 11 estados.
Entre os nascimentos feitos nessas instituições, 23,8% eram normais, percentual que chegou a 34% após a participação na iniciativa. Com isso, foram evitadas, segundo a agência, 10 mil cesáreas sem indicação em 18 meses.
O programa, que deverá agora ser ampliado, pretende conter o crescimento do número cesáreas, verificado nos últimos anos e ampliar o número de partos não cirúrgicos.
"Em 2005 a gente tinha 75% de cesarianas [nos nascimentos em hospitais particulares], em 2015 nós estávamos com 85%. Era uma coisa crescente e a gente não conseguia baixar esse percentual", conta a diretora de desenvolvimento setorial da ANS, Martha Oliveira.
"A cesariana é uma cirurgia e enquanto cirurgia ela tem indicações, salva vidas. Mas a gente estava usando isso na saúde suplementar de uma forma completamente desorganizada", destaca a diretora sobre o fato de a cesárea ter se tornado a principal forma de parto na rede privada.
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, só existem duas indicações absolutas para o procedimento: a desproporção céfalo-pélvica e a apresentação prévia da placenta.
Nos últimos anos, entretanto, Martha diz que o sistema de saúde suplementar começou a dar prioridade aos partos cirúrgicos. "O trabalho do médico ficou mais facilitado quando ele agenda todas as cesarianas para uma mesma manhã, não precisa fazer cada uma em um momento. O hospital deixa de ter centro de parto normal e passa a ter só centro cirúrgico", exemplificou.
Por isso, o projeto atuou de forma a reorganizar o modo de trabalho das instituições participantes. "A gente precisou trabalhar a capacitação. A gente precisou trabalhar modelos para isso, resgatar o plantonista nos hospitais.
Resgatar o papel da enfermeira obstetra. Resgatar a equipe de profissionais", destacou Martha sobre as mudanças que foram feitas.
Também foi preciso, conta a diretora, dialogar com as gestantes. "Esse projeto também nasceu de um pleito das próprias mulheres que entraram com uma ação civil pública. Dentro do projeto, esses grupos de mulheres participaram. Não só elas viam quais eram os próximos passos, como a gente aprendeu com elas muito a linguagem, a forma de falar com as mulheres", acrescentou.
Além das mudanças organizacionais, foram feitas ainda diversas alterações nos procedimentos em relação à gestante. Evita-se o uso de medicamentos para diminuir a dor, com o uso de outros métodos, como a movimentação dentro do quarto.
Os apartamentos são equipados com banquinhos, bolas e banheiras para serem usados como alívio durante o trabalho de parto. As mulheres não precisam ficar em jejum e a presença de um acompanhante é obrigatória.
Não foi verificado aumento do índice de complicações decorrentes do parto, como morte materna ou asfixia do bebê. Em três hospitais houve, inclusive, redução desses eventos, de 73 casos por 1 mil nascidos vivos para 31 para cada 1 mil nascidos.
A partir dos resultados, o projeto-piloto Parto Adequado será expandido agora para 150 hospitais de todo o país. "A gente cresce em dimensão, em número de partos, para, em dois anos, conseguir atingir a saúde suplementar toda no Brasil", completou a diretora.