Unicamp: o objetivo da proposta das estaduais paulistas é igualar os porcentuais definidos pelo governo Dilma Rousseff para as federais na Lei de Cotas (Divulgação/Antônio Scarpinetti)
Da Redação
Publicado em 27 de novembro de 2012 às 10h00.
São Paulo - A proposta de adoção de cotas que os reitores das três universidades estaduais paulistas (USP, Unesp e Unicamp) apresentarão ao governador Geraldo Alckmin nesta semana - revelada ontem pelo Estado em entrevista do reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan -, tem, entre suas políticas, uma inspirada no programa da Unicamp que acolhe alunos da rede pública e dá um curso de formação geral antes da graduação.
O Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis) existe há dois anos. As 120 vagas do curso são preenchidas pelos melhores alunos da rede pública, segundo seu desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Cada uma das 95 escolas de Campinas tem direito a uma ou duas cadeiras.
O Profis dura dois anos e dá certificado de curso sequencial de complementação de estudos. Com o documento, os alunos podem participar de concursos públicos que exijam somente formação em nível superior, mas são impedidos de fazer pós-graduação. A ideia da Unicamp é que os egressos do programa continuem os estudos em um dos 58 cursos que abrem vagas para o Profis, entre eles Medicina e Arquitetura - os mais concorridos do atual vestibular.
A primeira turma do Profis pegará o certificado em janeiro. Os alunos com melhor média ponderada nas 28 disciplinas obrigatórias têm direito a escolher antes os cursos universitários.
O objetivo da proposta das estaduais paulistas, criada a pedido de Alckmin, é igualar os porcentuais definidos pelo governo Dilma Rousseff para as federais na Lei de Cotas. Assim, USP, Unesp e Unicamp deverão reservar, até 2016, 50% das vagas para quem cursou integralmente o ensino médio na rede pública. Destas, metade será para alunos com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa; e 35% para pretos, pardos e índios. O restante vai para os demais egressos de escolas públicas, independentemente da renda.
Ao contrário da lei federal, que não prevê mais investimentos em assistência estudantil ou programas de acolhimento de cotistas, o projeto paulista tem como meta dar aos beneficiários uma bolsa de cerca de 1 salário mínimo e atividades de reforço.
O reforço poderia ser dado de duas formas. Parte dos estudantes receberia aulas extras já na universidade, nas disciplinas em que tiver tirado nota baixa no vestibular. Outro grupo faria um curso preparatório anterior, no estilo do Profis, e seria selecionado pelo Enem ou pelo Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), a ser definido por Alckmin.
Enquanto o Profis tem aulas presenciais e em tempo integral, o modelo das paulistas seria semipresencial, com avaliações presenciais e aulas a distância, pelo sistema da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Como no Profis, os alunos teriam de participar de projetos de iniciação científica.
Repercussão. O professor Francisco Magalhães Gomes, primeiro coordenador do Profis, elogiou a escolha do programa como base para a proposta das cotas, embora seja contra o critério racial. "O Profis só abrange Campinas, mas temos alunos excelentes em escolas públicas de todo o Estado", diz. "Passar o Profis para outras universidades é uma ideia que tem futuro."
O reitor da USP, João Grandino Rodas, disse que só se manifestará quando o projeto estiver finalizado. A mesma justificativa deu o secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, e o coordenador da Univesp, Carlos Vogt. O diretor da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, disse desconhecer o assunto. Ao Estado, o reitor da Unesp disse que a Fapesp poderia financiar parte dos R$ 31 milhões necessários para que 4,2 mil alunos recebam a bolsa de 1 salário mínimo.