Ernesto Araújo: "Estamos muito preocupados (..) com a repressão por parte do regime contra a oposição democrática" (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 10 de maio de 2019 às 10h18.
Última atualização em 24 de maio de 2019 às 13h30.
Paris — O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não conseguirá reverter a transição democrática que está acontecendo no país, mas os militares também precisarão apoiar essa mudança, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil nesta sexta-feira.
O líder opositor Juan Guaidó conclamou os militares a mudarem de lado no mês passado, mas só um punhado de soldados atendeu seu apelo de 30 de abril. Já o governo Maduro iniciou uma repressão a parlamentares da oposição supostamente ligados ao levante.
"O processo que está em curso desde janeiro... é irreversível, com todo o apoio internacional a uma transição democrática. Não há caminho de volta para o regime Maduro permanecer no poder indefinidamente", disse Ernesto Araújo à Reuters em Paris.
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) se uniu a mais de 50 outras nações ao reconhecer Guaidó como o líder legítimo da Venezuela.
"A questão hoje são os arranjos necessários para os militares venezuelanos aderirem ao governo legítimo. Sentimos que é necessário os militares aderirem, mas a forma que isso tomará cabe aos venezuelanos", disse Araújo em inglês.
Apesar das sanções dos Estados Unidos, a alta cúpula militar da Venezuela vem praticamente ignorando os apelos da oposição e de Washington para que se volte contra Maduro. Pouco mais de mil soldados desertaram, a maioria para a Colômbia e o Brasil.
Araújo, que está em Paris para uma reunião da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) agora que Brasília se aproxima de uma filiação, disse que não acredita que uma intervenção estrangeira seja necessária na Venezuela e que os esforços econômicos e diplomáticos estão isolando Maduro.
"As forças dentro da Venezuela estão ganhando ímpeto contra o regime Maduro, e a percepção crescente é que é só uma questão de tempo", afirmou.
Assim como a Colômbia, o Brasil apoiou uma iniciativa da oposição para levar ajuda humanitária norte-americana ao seu vizinho em fevereiro, mas Maduro fechou a única passagem de fronteira formal.
Por causa do fechamento, centenas de venezuelanos subornavam membros da Guarda Nacional diariamente para tentar chegarem ao Brasil por meio de trilhas. A fronteira foi reaberta desde então.
O colapso econômico da Venezuela deixou cerca de um quarto da população de 30 milhões de habitantes necessitada de assistência humanitária, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
A tentativa de levar socorro "fracassou porque a ajuda não entrou, mas politicamente mostrou que é um regime que não se detém diante de nada", disse Araújo.