Rodrigo Maia e Eunício Oliveira: Eunício dedicou boa parte de sua fala ao tema da segurança pública (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de fevereiro de 2018 às 20h49.
Brasília- O Congresso retomou os trabalhos nesta segunda-feira após o recesso parlamentar com todas as atenções voltadas à reforma da Previdência e com um novo o foco direcionado a medidas de reforço da segurança pública, em reação a recentes episódios de violência urbana.
Os discursos dos presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e a mensagem presidencial encaminhada ao Congresso demonstraram a insistência do governo e de seus aliados em aprovar a reforma da Previdência, apesar de controversa e difícil. Mas também apontaram novos temas caros à população, como a segurança pública, a serem perseguidos.
"Na sessão legislativa que ora se inaugura, nossas atenções estão voltadas para a tarefa urgente de consertar a Previdência. O atual sistema é socialmente injusto e financeiramente insustentável", afirmou a mensagem assinada pelo presidente Michel Temer, lida em plenário pelo primeiro secretário do Congresso, deputado Giacobo (PR-PR) a um plenário esvaziado.
"O texto que apresentamos ao Congresso foi amplamente discutido ao longo do ano que passou. Também aqui, o diálogo tem sido nosso método. Fizemos ajustes para atender a preocupações legítimas, para criar regras de transição mais suaves. Chegou a hora de tomar uma decisão",afirmou a mensagem.
Na mesma linha, o presidente da Câmara defendeu a votação da reforma da Previdência --para ele, se não for a voto em fevereiro, a reforma não será mais votada-- e alertou ainda que sem uma discussão sobre as despesas do Estado brasileiro, não há como governar o país.Maia disse ainda que o papel dos parlamentares "é difícil" e que às vezes não recebe a "compreensão devida".
"Mas se esse Parlamento não entender que reformar as despesas do Estado é o único caminho para que a gente possa garantir ao brasileiro mais simples as mesmas condições... ninguém governará o Brasil no próximo ano se as reformas das despesas não forem feitas", discursou o presidente da Câmara.
"Fevereiro, fevereiro, se a gente ampliar prazo não vota nada. Fevereiro e ponto final, acho que tem tempo e todo mundo tem clareza do seu problema fiscal, os governadores, os parlamentares também têm clareza da necessidade e das dificuldades", disse Maia a jornalistas após a cerimônia, referindo-se ao prazo de votação da reforma.
Já Eunício, que ainda não se deparou diretamente com o desafio de votar a reforma no Senado, também fez defesa veemente da proposta como um instrumento para eliminar privilégios, "muitas vezes injustificáveis".
"Não podemos admitir uma reforma que prejudique aqueles que têm menos condições, o agricultor, a pessoa com necessidades especiais, a pessoa que recebe um salário mínimo e todos aqueles que dependem da Previdência para sobreviver", afirmou, acrescentando que os privilégios "desequilibram o sistema previdenciário".
O governo enfrenta uma batalha para garantir os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência. Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), a medida precisa de 308 votos dentre os 513 deputados, em dois turnos de votação. Depois, ainda será submetida à análise no Senado.
Pouco antes do início da cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos, o relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), disse que a emenda aglutinativa da reforma só poderá ser apresentada oficialmente no momento de discussão do projeto em plenário.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, no entanto, disse que o ideal seria que a tal emenda pudesse ser apresentada ainda nesta semana.
Em outra frente, Eunício dedicou boa parte de sua fala ao tema da segurança pública. Em suas primeiras palavras, afirmou que é "imperioso estabelecer um confronto com a violência", e externou o desejo de transformar 2018 em um ano que será estabelecido como "marco zero" de um sistema de segurança pública "nacional e unificado".
"É preciso que os três Poderes unifiquem esforços", disse. "Para não ficar apenas nas palavras, proponho a este Congresso a partir desta semana a prioridade que chamarei reforma da Segurança Pública no Brasil", afirmou, referindo-se ao tema como uma "nuvem cinza que turva os horizontes do Brasil".
O Ceará, Estado de Eunício, passou por recentes episódios de extrema violência, como rebeliões em presídios provocadas por brigas entre facções e uma chacina em uma casa de forró.
A segurança pública também foi abordada por Maia em seu discurso, ao citar diretamente a crise de violência urbana em seu Estado, o Rio de Janeiro, onde tiroteios interditaram via de intensa movimentação na capital.
"A situação de todos é cada vez pior e quem paga a conta é o cidadão comum", afirmou, referindo-se também às dificuldades fiscais enfrentadas pelos governos estaduais.
Não só os parlamentares mas também a mensagem presidencial encaminhada ao Congresso voltou as atenções ao tema.
"É também imprescindível, para o Brasil que queremos, prover segurança para nossos cidadãos. Muitos são os brasileiros que têm a sensação de viver sitiados. O nível a que chegou a violência em nosso país é intolerável.Quero reafirmar que o combate firme e consistente ao crime organizado é prioridade de nosso governo", afirmou a mensagem de Temer.