"O ministro Guido Mantega pediu uma meta mais realista para o conselho de administração da Petrobras", disse Luciano Coutinho, do BNDES (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2011 às 09h07.
Londres e Rio de Janeiro - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, reforçou ontem o coro do governo para que a Petrobras reduza seu plano de investimentos para os próximos anos. Em entrevista em Londres, Coutinho disse que a Petrobras deve ter uma meta de investimentos mais "realista". Para ele, os planos atuais da empresa são muito ambiciosos e difíceis de serem colocados em prática.
Na sexta-feira, o conselho de administração da Petrobras - presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega - rejeitou a primeira proposta de revisão do Plano de Negócios para o período 2011-2015. A proposta previa investimentos de US$ 260 bilhões e o governo queria cortar cerca de US$ 30 bilhões, mantendo o valor do plano anterior de US$ 224 bilhões para o período entre 2010 e 2014.
"O ministro Guido Mantega pediu uma meta mais realista para o conselho de administração da Petrobras", afirmou Coutinho. Segundo ele, o conselho pressiona para que a empresa seja eficiente, para garantir o retorno dos projetos. Em nota à imprensa, a Petrobras informou que o conselho orientou a diretoria a prosseguir com estudos de "sensibilidade". "Um desses estudos incorpora a redução do investimento, mas não é a única questão a ser examinada, já que existem diversas variáveis em estudo."
Para Coutinho, a execução dos planos da Petrobras enfrenta desafios, como a forte necessidade de fornecedores e de mão de obra. As mesmas dificuldades estão sendo apontadas pela Vale, que sinalizou a redução de investimentos neste ano - dos US$ 24 bilhões previstos inicialmente para US$ 20 bilhões. "As duas empresas têm programas de investimentos muito ambiciosos e difíceis de implantar", disse Coutinho. "Talvez não sejam planos realistas hoje."
Ontem, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, passou o dia em Brasília discutindo os projetos. Cada diretoria tem "feito a lição de casa", segundo fontes, para definir cortes.
Dúvidas
Em relatório aos clientes, o analista do Credit Suisse, Emerson Leite, disse que "a rejeição do novo plano estratégico desencadeia dúvidas quanto as motivações do conselho". Para ele, a redução para o nível de US$ 224 bilhões é "improvável" e ele aposta que o investimento para os próximos cinco aumente, mas seja "favorável a uma abordagem mais conservadora". "Isso seria um bom sinal de disciplina de capital que não temos visto há algum tempo."
Leite acredita que a dificuldade de corte dos investimentos está principalmente nas áreas do pré-sal. Os planos de investimentos em novas refinarias no Maranhão e no Ceará, no valor de US$ 30 bilhões, foram duramente criticados pelo mercado e defendidos pelo governo como mecanismo de desenvolvimento do Nordeste.