Rodrigo Maia, o presidente da Câmara dos Deputados (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de julho de 2017 às 09h52.
Última atualização em 2 de julho de 2017 às 09h54.
BRASÍLIA - A possibilidade de a Câmara dos Deputados autorizar a investigação e, consequentemente, poder afastar o presidente Michel Temer por um prazo de até 180 dias fez o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se descolar do Palácio do Planalto.
"O presidente da Câmara é presidente da Câmara, não de um governo. Não cabe ao presidente da Casa cumprir o papel de defensor de uma agenda porque essa não é uma agenda da Casa. Meu papel no caso da denúncia é ser o árbitro desse jogo. Não é ser defensor de uma posição ou de outra. Não tem como ter uma posição nem para um lado nem para outro", disse Maia ao Estado anteontem.
Caso Temer seja afastado, Maia assume a Presidência. Antes disso, é preciso que a Câmara autorize abertura de processo no Supremo Tribunal Federal (STF) e o plenário da Corte aceite a denúncia. Temer seria, então, afastado do posto.
Aliados do presidente da Câmara têm afirmado que, se for necessário, Maia estará preparado para uma eventual transição. Não vai, segundo eles, agir para derrubar o presidente.
Por outro lado, Maia é alvo de inquérito sigiloso no STF baseado em mensagens trocadas entre ele e o empresário Léo Pinheiro, dono da OAS, sobre uma doação de campanha em 2014. Maia nega prática de qualquer irregularidade.
A semana
Desde que a denúncia contra Temer foi apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira passada, Maia manteve a ambiguidade de mostrar lealdade ao governo ao mesmo tempo em que permite que a oposição, o baixo clero e seu grupo mais próximo defendam a aceitação da denúncia, a saída de Temer e sua posse.
Frequentador assíduo do Palácio do Planalto, ele evitou aparecer ao lado de Temer durante toda a semana. Não foi ao pronunciamento que o peemedebista fez na terça-feira contra a denúncia. Também decidiu, de última hora, não participar de uma cerimônia ao lado do presidente na quinta-feira. Em sua primeira declaração, contrariou a defesa de Temer e disse que cada denúncia apresentada por Janot deverá ter uma votação própria. Depois, os dois tiveram uma reunião privada.
Maia justificou ao Estado sua ausência. "Não estive no dia do discurso, primeiro, porque ele [Temer] não me convidou. E ele fez certo em não me convidar porque ele não podia convidar o presidente da Câmara ou do Senado para fazer um discurso tão contundente como o que ele fez. Não cabia a ele misturar as instituições naquele discurso", disse o deputado.
No entanto, durante a semana, Maia não ficou sem a companhia de seus pares. Na noite de segunda-feira, reuniu em sua residência oficial cerca de 20 deputados, entre os quais petistas. Na terça-feira, jantou com o embaixador da China, Li Jinzhang, e com Aldo Rebelo (PCdoB), cujo nome foi ventilado para ser seu vice há um mês.
"Ele quer ser presidente. Sabe que a chance de isso cair no colo dele é alta. Mas não vai fazer campanha. Não vai operar para derrubar. Vai estar assim, sempre presente, como está. Participa de velório, enterro, aniversário. Almoça e janta toda dia com deputados", disse o deputado Vicente Cândido (PT-SP), um dos principais interlocutores de Maia no PT.
No discurso, as principais lideranças do governo não veem chance de uma traição. "Há 100% de confiança", disse Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo. "Tem lealdade ao Michel porque Michel o ajudou a estar onde está", disse outro vice-líder, Beto Mansur (PRB-SP). "Ele não faz e não fará nenhum movimento", disse Heráclito Fortes (PSB-PI).
Movimento
Se Temer não cair, Maia ficaria com a imagem de leal no momento em que nutre a ambição de se reeleger presidente da Câmara. Por isso, seus movimentos hoje consideram todas as possibilidades.
Há atualmente na Câmara três grupos. Os governistas, em maioria, liderados pelo PMDB com as cúpulas das bancadas do PP, PSD e PR; a oposição, em minoria, formada por PT, PCdoB, Rede e PSOL; e um grupo do meio, formado majoritariamente pelo baixo clero com integrantes de praticamente todos os partidos que não seguem a orientação das lideranças e se entusiasmam com a chance de Maia assumir. Sentem-se alijados dos acordos de cúpula e estariam prontos para trair. Seu nome também é defendido pelo grupo oposicionista.
"Falar que a denúncia passa é precipitado e falar que não passa é presunçoso", afirmou o líder do Podemos, Alexandre Baldy (GO), um dos mais próximos de Maia na Casa. Quem convive com Maia avalia que ele não fará nenhum movimento brusco para detonar o governo, mas também não "morrerá abraçado" com Temer.
Como disse o deputado Paulinho da Força (SD-SP) a Maia nesta semana: "Se tudo der errado agora, você vira presidente da República".