Eduardo Paes: o prefeito vive "uma boa maratona de pesadelos de quatro anos", ao final da qual espera deixar uma nova cidade de legado para sua população. (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2013 às 16h51.
Os eventos que o Rio de Janeiro receberá - e que começam com a Copa das Confederações em junho e a visita do Papa em julho, passando pela Copa do Mundo de 2014 e culminando com os Jogos Olímpicos de 2016 - fazem o prefeito Eduardo Paes viver "uma boa maratona de pesadelos de quatro anos", ao final da qual espera deixar uma nova cidade de legado para sua população.
A virtude destes grandes eventos é dar "ao Rio e ao Brasil a cultura de estabelecer prazos para que as coisas sejam feitas e entregues a tempo", declarou o prefeito de 43 anos, em uma entrevista concedida a jornalistas da AFP.
Estes eventos não representam um desafio muito pesado para uma única cidade, para um prefeito sozinho?
Eduardo Paes: "É ao mesmo tempo um sonho e um pesadelo. Mas é um bom pesadelo. O Rio vive hoje um doce problema. É como um sonho de uma maratona de quatro anos em que você chega suado no final. É evidente que é uma responsabilidade enorme, mas acredito que estes eventos são complementares. Do ponto de vista logístico, os Jogos Olímpicos são o maior desafio, e é bom que eles venham por último. Ninguém está dizendo que o Rio vai virar um paraíso e que todos os problemas serão resolvidos. Mas a cidade passa por um processo de transformação muito intenso".
Quais são os principais obstáculos?
Paes: "Ainda faltam muitas coisas, mas tudo já está nos trilhos, nos prazos, o que é o mais importante. A implantação de três BRT (sistema de veículos articulados que trafegam em vias específicas, nr), que pressupõem desapropriações em áreas totalmente urbanizadas, a modernização da zona portuária, a construção de um Parque Olímpico: são todos projetos monstruosos, de enorme complexidade, a um custo muito elevado. Se não foi simples para Londres, que tem muito mais infraestrutura do que a gente, imagine para o Rio..."
Qual é o seu exemplo de cidade olímpica?
Paes: "Eu diria Barcelona. Diria que a gente vai fazer mais do que Barcelona. Os Jogos de Barcelona transformaram completamente a cidade. Aqui vamos mexer também com a qualidade de vida do carioca. Hoje menos de 20% dos cariocas têm acesso a transportes de alta capacidade. A maioria da população passa parte de sua vida engarrafada em ônibus. Daqui a quatro anos vamos ter 60% dos cariocas utilizando transportes de alta capacidade". (trem, metrô, BRT, nr). "A vida de várias Marias e Josés vai mudar porque eles vão levar menos tempo nos transportes".
Alguns estão preocupados com a capacidade hoteleira, com o aeroporto ultrapassado do Rio...
Paes: "Temos um problema de oferta, mas estamos trabalhando nisso. Vamos chegar a 16.000 quartos a mais, quase o dobro da capacidade hoteleira. Também vamos utilizar os motéis. Isso é novidade. Para um casal de turistas, pode ser uma boa ocasião para novas experiências..." (risos). Quanto aos aeroportos, finalmente o governo resolveu privatizar. Mas, de novo, não me preocupo com o evento. Para os 15 ou 30 dias de eventos, vai funcionar. O problema é para você que chegou ontem de Paris nesta porcaria de aeroporto. Minha preocupação é com o legado.
Em matéria de segurança, quais os conselhos que daria a um estrangeiro?
Paes: "Os conselhos são parecidos com os que recebo quando vou a Paris, guardadas as proporções, porque a taxa de criminalidade é mais baixa. Eu diria que podem passear pelas praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, nas favelas da Zona Sul e em algumas na Zona Norte, com a maior tranquilidade. Mas cuidado em subúrbios onde você pode ser assaltado. Eu não poderia dizer isso há cinco anos (antes do início do processo de pacificação do Rio, nr)".
Muitos dizem que o mítico estádio do Maracanã está sendo tão modificado que perdeu sua alma...
Paes:: Eu também adoro a nostalgia. Tenho nostalgia do Rio dos anos 50, do Copabana Palace daquela época, Rio balneário e tal. Eu frequentei o Maracanã a vida inteira, mas a sociedade evolui. Ele não apresentava as condições adequadas para um jogo de futebol com qualidade, para garantir o conforto do expectador. Se preservou a característica principal, a arquitetura externa. Agora, ninguém vai dizer que sentar em uma arquibancada desconfortável, de cimento duro, é a melhor coisa do mundo".
E se o católico e apaixonado por futebol que você é precisasse escolher entre encontrar o Papa ou ver o Neymar levantar a taça da Copa do Mundo?
Paes: "Não me deixe mal com o Papa. Mas, bom, o Brasil tem que ganhar essa Copa de qualquer jeito; e depois, vamos ter os dois, o Papa e o Neymar levantando a taça. Só espero que os franceses não estraguem esta festa".