Banco do Brasil conseguiu pagar o menor valor do mercado por uma auditoria (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 19 de novembro de 2010 às 07h05.
São Paulo - As quatro maiores auditorias do país (e do mundo) - PricewaterhouseCoopers, Ernst Young Terco, KPMG e Deloitte - cobram preços discrepantes para analisar os balanços dos bancos brasileiros. Uma análise das informações das instituições financeiras revela que os valores podem variar de 95 mil reais até 38 milhões de reais.
A informação reforça o clima de desconfiança com relação ao trabalho dessas companhias, cuja função é realizar minuciosa verificação dos números apresentados por seus clientes. Para isso, costumam dedicar equipes de dezenas de profissionais que permanecem semanas (ou meses) em uma empresa, apenas analisando seus dados. Desde a semana passada, o debate ganhou fôlego com a descoberta de que as inconsistências contábeis dos balanços do banco Panamericano haviam sido auditados e aprovados pela Deloitte.
É exigido que as companhias abertas passem por controles contábeis, financeiros e tenham suas demonstrações revistas por uma empresa especializada, como as quatro citadas acima. É aceitável que possa haver alguma diferença de preço caso uma empresa apresente um perfil de risco maior - fato que impacta diretamente o trabalho das auditorias. “Cada instituição financeira tem um perfil de risco diferente, o que exige que determinados aspectos de seus números recebam maior ênfase de análise”, afirma Fábio Coimbra, professor de Governança Corporativa e Gestão de Risco da FIA. Contudo, nada justifica um intervalo tão grande.
No caso dos 95 mil reais cobrados por um ano de auditoria contábil, a prestadora do serviço é a KPMG e o cliente, o Banco do Brasil – a maior instituição financeira do país, com 755 bilhões de reais em ativos. No ano passado, a mesma empresa havia cobrado 6,4 milhões de reais do BB por seus serviços. Em uma licitação promovida neste ano, cujo leilão ocorreu no início de novembro, bateu-se o martelo para o menor preço. De acordo com informações de suas assessoria de imprensa, o BB não soube o nome da auditoria até o final do pregão. O valor inicial lançado pela KPMG era de 19,6 milhões de reais. Outras duas empresas disputavam o cliente: a PricewaterhouseCoopers, com o lance mínimo de 12,5 milhões de reais e a Ernst Young, disposta a cobrar 6 milhões de reais. A KPMG, então, baixou sua oferta até impressionantes 95 mil reais, que lhe garantiu a vitória. O contrato ainda não foi fechado, mas, segundo o Banco do Brasil, sua quebra seria irregular.
Na avaliação de Juarez Domingues Carneiro, presidente do Conselho Federal de Contabilidade, a operação será investigada. “Queremos saber como o preço chegou nesse patamar. Não tem cabimento, em um trabalho especializado, haver uma licitação baseada em pregão”, afirma. Instituições menores que o Banco do Brasil, como o Itaú-Unibanco e o Bradesco, pagaram em 2009 mais de 30 milhões de reais nos trabalhos executados por auditores independentes. Segundo uma fonte ouvida pelo site de VEJA, o Itaú-Unibanco é uma das instituições que possui maior exposição a riscos de mercado no país, devido a substanciais posições em derivativos. Por esse perfil arriscado, pagou 38 milhões de reais à auditoria PricewaterhouseCoopers em 2009.
O Santander, que paga cerca de 6,5 milhões de reais para auditores independentes avaliarem seus números, afirmou ao site de VEJA, por meio de um comunicado, que “o valor dos trabalhos realizados pelas empresas de auditoria (...) variam de ano a ano em função da abrangência dos serviços prestados e que, por política interna, passam por aprovação pelo Comitê de Auditoria do banco”.
A disparidade de valores, chegando ao cúmulo de 95 mil reais, desperta a atenção para inúmeros questionamentos. Entre eles, a qualificação dos profissionais independentes que realizam os controles e o comprometimento das auditorias e de seus clientes com o detalhamento dos números avaliados. “A consequência mais óbvia é a perda de qualidade das auditorias, já que o trabalho tem sido feito por estagiários e os testes do balancete são ignorados por falta de equipe e tempo”, afirma uma fonte ligada a uma das auditorias citadas na reportagem. Enquanto faltar transparência e explicações em relação aos auditores independentes, sobrarão casos como o do Panamericano.