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Preço recorde não é paraíso para agricultor brasileiro, diz Roberto Rodrigues

Ex-ministro da Agricultura explica que câmbio valorizado e alta nos custos dos insumos “roubam” parte dos ganhos dos produtores

Roberto Rodrigues: "Tendência dos preços dos alimentos é de queda no longo prazo"  (Agência Brasil)

Roberto Rodrigues: "Tendência dos preços dos alimentos é de queda no longo prazo" (Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2011 às 07h01.

São Paulo – A alta recorde nos preços dos alimentos no mundo inteiro não é necessariamente uma ótima notícia para os agricultores brasileiros, que sofrem com o câmbio valorizado e com a elevação nos custos dos insumos.

A avaliação é de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura no governo Lula, atual presidente do Conselho Superior do Agronegócio (COSAG) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e coordenador do Centro de Agronoegócio da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), que participa da edição desta segunda-feira (7) do programa “Momento da Economia”, na Rádio EXAME.

“Os produtores rurais do mundo todo que recebem em dólares estão ganhando muito mais do que os brasileiros porque o nosso câmbio está valorizado, o que inibe o nosso rendimento. (...) Além disso, quando os preços agrícolas sobem muito, os custos sobem mais. Imagine um trenzinho subindo um morro. A locomotiva é o preço agrícola e cada vagão é o preço do insumo – preço do adubo, da semente, da máquina e do alimento. Toda vez que a locomotiva está subindo, os custos também sobem. A perversidade do processo é que quando todo mundo planta, os estoques aumentam, a oferta cresce e a demanda é atendida rapidamente, a locomotiva chega ao topo e começa a descer o morro do outro lado. Há uma perversidade, que é um efeito ainda intermitente, que faz com que os custos continuem subindo enquanto os preços já estão descendo de modo que preços excessivamente altos não trazem vantagens de longo prazo. Podem até resolver um problema de um ou dois anos, mas não é uma boa coisa. No longo prazo, o que é importa é estabilidade de vendas e de preços e não flutuações malucas”, diz Roberto Rodrigues.

Apesar de alguns picos, explica o ex-ministro da Agricultura, os preços agrícolas apresentam tendência de queda ao longo dos anos por causa dos ganhos de produtividade em nível acima do avanço da demanda. Porém, atualmente, os preços estão acima da média histórica devido ao crescimento da demanda dos países emergentes, a problemas na oferta e à especulação financeira. “Se a premissa fundamental é de que os preços tendem a cair ao longo da história, até quando persistirá esse desequilíbrio? Vai depender de dois fatores fundamentais: o comportamento do clima nos próximos dois ou três anos e as políticas dos países produtores.”

O ex-ministro diz que o governo brasileiro está correto em combater a ideia do governo da França de criar estoques regulatórios de alimentos. “Toda vez que há forte intervenção estatal ocorre uma distorção de mercado. Cria-se uma perspectiva favorável no curto prazo, mas derrubam-se as estruturas de mercado no longo prazo, inibindo, portanto, o mecanismo de liberdade dos preços.”

Roberto Rodrigues cobra mudanças na Lei do Crédito Rural de 1965 para estabilizar a renda do produtor rural. “Faltam também infraestrutura para escoar a produção, investimento em tecnologia e uma política comercial muito mais consistente. O Brasil ficou apostando muito tempo na rodada de Doha, enquanto outros países fizeram acordos bilateriais.”

Na entrevista (para ouvi-la na íntegra, clique na imagem ao lado), o ex-ministro da Agricultura traça um amplo cenário da agricultura brasileira e mundial – uma aula para quem se interessa pelo tema.

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