(Sergey Pivovarov/Reuters)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 15 de janeiro de 2021 às 19h37.
Última atualização em 15 de janeiro de 2021 às 21h13.
Assim que começaram a sair os resultados de eficácia global das vacinas contra a covid-19, muitas dúvidas surgiram sobre o efeito delas e o quão imune uma pessoa fica à doença. Mesmo que a resposta de um imunizante seja mais baixa do que o outra, especialistas em saúde ouvidos por EXAME são unânimes ao afirmar que a melhor opção é sempre tomar a vacina, e, assim, reduzir a possibilidade de agravamento da doença, que pode levar à morte.
Segundo Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, a taxa de eficácia não deve ser uma questão de preocupação para a população, considerando que as vacinas foram testadas e aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“As pessoas não precisam e não devem se preocupar se a vacina fez efeito. O teste de anticorpos sorológico não é eficaz para saber se uma pessoa está imune. Ele pode ser um indicativo, mas não dá para bater o martelo. A única maneira de se proteger é a vacinação ser coletiva. Só funciona quando todo mundo se vacinar”, diz.
A médica infectologia do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, Rosana Richtmann, explica que o valor de eficácia global de uma vacina significa não só a imunização de uma pessoa, mas também a diminuição na possibilidade do agravamento da doença, caso tenha contato com o coronavírus.
“Qualquer vacina vai te deixar protegido de alguma forma. Do ponto de vista estatístico, a vacina da Pfizer, por exemplo, tem uma resposta melhor que a do Butantan/Sinovac, mas isso não significa que ela não é eficaz. A melhor vacina é aquela que estiver disponível. Se tivesse 30% de eficácia, eu já recomendaria tomar porque está diminuindo em 30% a possibilidade de uma pessoa ficar doente. É melhor do que nada”, explica.
A infectologista ainda pondera que qualquer proteção ajuda a desafogar os sistemas de saúde e evitar colapsos, como está ocorrendo com Manaus, no Amazonas. No caso da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan/Sinovac, metade das pessoas que foram vacinadas tiveram a doença na forma mais leve e nem precisavam de atendimento médico.
O médico Jaime Rocha, professor de infectologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), orienta ainda que mesmo que a pessoa já tenha sido diagnosticada com a covid-19 e esteja dentro de algum grupo de risco, ela deve, sim, se vacinar. Segundo ele, não há estudos suficientemente claros para determinar o quão imune uma pessoa fica após se contaminar com o coronavírus.
“Os testes sorológicos disponíveis [de RT-PCR, por exemplo] não foram feitos para avaliar a resposta de vacina, mas pode haver positivação de pessoas que foram imunizadas, com a presença de anticorpos. Isso também depende do tipo de vacina que for feito. Mas como regra geral, estes testes não estão indicados para este fim: saber se a pessoa está imune”, diz.
No fim de dezembro, o Hospital Israelita Albert Einstein lançou um teste capaz de identificar a presença de anticorpos neutralizantes contra o Sars-CoV-2, o vírus responsável pela covid-19.
Ainda não há consenso na comunidade científica a respeito deste tipo de teste. Os especialistas dizem que ele é comum em fases experimentais de vacinas para entender a resposta imune do organismo, mas não está claro qual valor seria o referencial no caso da covid-19, por ser uma doença nova.
“Este tipo de teste ainda é experimental, ninguém garante que ele vá identificar o nível que a pessoa ficou imune à covid-19”, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. “Em saúde pública a gente não faz este tipo de exame, para saber se a vacina funcionou. O objetivo da vacina é prevenir a doença e impedir a transmissão do vírus”, complementa.
Natalia Pasternak ainda destaca que este tipo de teste não é trivial. “É um teste muito específico para ser feito em massa. Se ele for feito em profissionais de saúde, que estão mais expostos, aí sim faz sentido”, diz.