Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional em 2018: falas sobre Paulo Guedes, carreira como deputado e ditadura militar (Joao Cotta/TV Globo/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2022 às 16h31.
Última atualização em 22 de agosto de 2022 às 16h39.
O presidente Jair Bolsonaro participa nesta segunda-feira, 22, de entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Será a segunda participação de Bolsonaro na bancada do jornal. Em 2018, Bolsonaro já havia participado do Jornal Nacional, então como candidato que liderava as pesquisas.
A entrevista com Bolsonaro nesta semana faz parte de uma série de conversas que o Jornal Nacional promove com presidenciáveis antes da eleição. Como a EXAME mostrou, Bolsonaro deve ser acompanhado desta vez pelos ministros Paulo Guedes e Fábio Faria.
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Em 2018, Bolsonaro foi perguntado na entrevista sobre temas como equidade salário entre gêneros, segurança pública, economia e composição de seu gabinete, além de sua carreira como deputado até então. "Geralmente, quando se fala em família na política, são famílias enroladas em atos de corrupção. A minha família é limpa na política", disse em um dos momentos do programa.
A entrevista também teve menção à relação com o ministro Paulo Guedes, que Bolsonaro já apontava como seu escolhido para comandar a economia, o que depois se concretizou.
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Em momentos tensos da entrevista, Bolsonaro chegou a descumprir as regras combinadas com o jornal e mostrou um livro sobre a temática LGBTQIA+, além de falar sobre o apoio de Roberto Marinho à ditadura militar de 1964 e questionar o salário da jornalista Renata Vasconcellos.
Nesta segunda-feira, a entrevista com Bolsonaro começará novamente às 20h30 (veja aqui como assistir ao vivo). Os outros três candidatos mais bem colocados nas pesquisas também irão ao JN nesta semana: participam do jornal o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
Na primeira pergunta do programa, Bolsonaro foi questionado sobre o porquê de ter usado auxílio moradia se já tinha um apartamento em Brasília. O benefício é garantido aos deputados federais, como era Bolsonaro desde 1991. O então candidato também foi questionado sobre sua carreira na política e sobre ter construído seu patrimônio - então de R$ 2,29 milhões, hoje de R$ 2,32 milhões - por essa via.
"Portanto, ao longo de 27 anos, o que aconteceu foi que o senhor fez da política uma profissão. A questão é: o que é que o diferencia de tantos outros políticos que trilharam o mesmo caminho?", perguntou Bonner a Bolsonaro.
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"Geralmente, quando se fala em família na política, são famílias enroladas em atos de corrupção", respondeu Bolsonaro. "A minha família é limpa na política. Sempre integrei o baixo clero em Brasília. Se tivesse, na forma de fazer política, ocupado altos postos, com toda certeza eu estaria envolvido na Lava Jato hoje em dia", disse o então candidato.
"Se não aprovei muitos projetos, também evitei que péssimos projetos fossem avante em Brasília. E, por tabela, elegi os meus filhos, um federal em São Paulo, um vereador no Rio e outro estadual do Rio de Janeiro. Ninguém é obrigado a votar nos meus filhos, eles acreditam em mim."
Na ocasião, Bolsonaro também foi perguntado sobre a relação com Paulo Guedes, que já havia indicado na época da campanha que seria o ministro da Economia. O presidente usou na bancada do JN uma metáfora que voltaria a repetir ao longo da campanha e depois de eleito: a de que ele e o ministro Paulo Guedes estavam em um "namoro" e depois iriam para um "casamento".
"É quase que um casamento. Eu estou namorando o Paulo Guedes há algum tempo e ele a mim também", disse. "Eu às vezes me pergunto o que o senhor Paulo Guedes viu em mim. Ele já me respondeu: Vi sinceridade e vi confiança'".
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Quando perguntado sobre não ter garantia de que Guedes continuaria no governo até o fim, Bolsonaro citou indiretamente a separação do jornalista William Bonner com a apresentadora e jornalista Fátima Bernardes.
“Bonner, quando nós nos casamos, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna. E aconteceu um problema no meio do caminho, que não cabe a ninguém discutir esse assunto. Duvido, pelo que conheço de Paulo Guedes, e passei a conhecê-lo muito mais depois que comecei a conversar com ele, esse descasamento venha, esse divórcio venha a acontecer”, declarou.
Durante a campanha, Bolsonaro frequentemente chamou Paulo Guedes de seu "posto Ipiranga", ao afirmar que não entendia de Economia e que dúvidas deveriam ser perguntadas ao futuro ministro.
Ao JN, Bolsonaro também citou, na resposta sobre o ministério, que seria "o único" com independência para escolher o gabinete.
"E olha só Bonner, pode ter certeza, eu sou o único desses que estão aí com chance de chegar que vai ter isenção para escolher os seus ministros, não vai pedir bênção e nem vai estar preso a indicações políticas, que os ministros geralmente trabalham para os seus partidos políticos", disse.
Em um dos momentos mais tensos da entrevista, o presidente Jair Bolsonaro questionou a apresentadora e jornalista Renata Vasconcellos sobre seu salário na TV Globo, ao ser perguntado, por ela, sobre se tinha políticas para equidade de salários entre os gêneros.
Vasconcellos perguntou acerca de uma declaração de Bolsonaro sobre não empregar mulheres com os mesmos salários de homens.
"Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais…", disse Bolsonaro sobre Vasconcellos e Bonner na bancada.
Na ocasião, Bolsonaro foi respondido pela jornalista que "meu salário não diz respeito a ninguém".
"Sim, eu poderia até como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos, porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos, e eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário". "O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu", disse a jornalista.
Outro ponto da entrevista lembrado com frequência foi quando Bolsonaro mostrou, ao vivo, um livro sobre a temática LGBTQIA+ e disse que temas considerados impróprios por ele estavam sendo discutidos com crianças nas escolas. Na ocasião, essa era uma das acusações do então candidato do PSL aos governos do PT.
Bolsonaro alegou que um suposto "kit gay" estava sendo distribuído nas escolas e que livros como os que ele mostrava estavam em "bibliotecas públicas", afirmação que era incorreta.
No fim, os apresentadores afirmaram a Bolsonaro que o candidato não poderia mostrar o livro na bancada, conforme regras combinadas previamente.
Em outro momento, perto do fim da entrevista, que durou cerca de 30 minutos, Bolsonaro foi questionado por William Bonner sobre uma citação de seu então candidato a vice, Hamilton Mourão (hoje vice-presidente).
Mourão havia dito que “os poderes terão que buscar solução. Se não conseguirem, chegará a hora que nós teremos que impor uma solução”, e Bolsonaro foi questionado sobre "que solução seria essa".
O candidato respondeu que "isso aconteceu em 64", fazendo referência ao golpe que deu início à Ditadura Militar no Brasil, quando não houve eleições presidenciais e a população não escolhia seus presidentes, regime que perdurou até 1985.
"Os militares chegaram lá, os militares chegaram, chegaram, não, foram eleitos presidente da República por cinco mandatos, está certo? As palavras dele estão em consonância com que grande parte da sociedade fala e ele teve a coragem de externar isso daí, e ele agora é o militar da reserva", disse Bolsonaro. Ao ser questionado sobre o fato de a tomada de poder militar em 1964 ser considerada como um golpe - nas falas de Bonner, por "historiadores sérios" -, Bolsonaro relembrou uma fala do proprietário da Globo, Roberto Marinho.
Marinho chamou a ditadura de "revolução democrática" em 1984. "[...] deixa os historiadores para lá. Eu fico com Roberto Marinho, o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1984", disse Bolsonaro. "Já houve editorial sobre isso, o senhor certamente está informado", respondeu Bonner.
Após a entrevista, o Jornal Nacional leu uma nota afirmando que, em 2013, O Globo publicou um editorial que "reconheceu que o apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro". Ao final da entrevista, como a outros candidatos, o programa concedeu a Bolsonaro um minuto para falar sobre o que o candidato queria para o futuro do Brasil.
"Nos últimos 20 anos, dois partidos mergulharam o Brasil na mais profunda crise, ética, moral e econômica. Vamos juntos mudar esse ciclo, mas para tanto precisamos eleger um presidente da República honesto, que tenha Deus no coração, patriota, que respeite a família, que trate com consideração as crianças em sala de aula, que jogue pesado no tocante à insegurança em nosso Brasil, una o nosso povo", finalizou Bolsonaro.
Além dos canais da TV Globo, o Jornal Nacional com Bolsonaro também será transmitido simultaneamente online:
Além de Bolsonaro, a semana terá entrevista com os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas. As entrevistas ocorrerão ao longo de toda a semana, na seguinte ordem:
22/8 (segunda-feira): Jair Bolsonaro (PL)
23/8 (terça-feira): Ciro Gomes (PDT)
25/8 (quinta-feira): Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
26/8 (sexta-feira): Simone Tebet (MDB)
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