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Pré-candidato à presidência, Rabello usa BNDES para se lançar

A classe política e econômica tem acusado o presidente do BNDES de usar o banco para impulsionar sua imagem

Rabello: ele deixará a presidência do BNDES menos de um ano após assumir o cargo (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Rabello: ele deixará a presidência do BNDES menos de um ano após assumir o cargo (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de março de 2018 às 11h38.

Brasília - As pretensões eleitorais do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, têm sido alvo de críticas dentro do governo.

A avaliação tanto da ala econômica quanto da política é que ele tem usado o banco para impulsionar sua imagem. A um mês de deixar a instituição para tentar a candidatura ao Palácio do Planalto, Rabello quer promover uma reestruturação no banco.

Vai criar uma nova diretoria com o objetivo de aproximar o contato com pequenos produtores e já anunciou redução de juros nos empréstimos.

Segundo apurou o Estadão / Broadcast, a intenção de mexer no alto escalão aumentou o descontentamento dentro do próprio BNDES. O "timing" é equivocado, dizem fontes do banco, já que ele está prestes a sair.

O executivo, que é amigo do presidente Michel Temer, também tem posado como um dos patrocinadores de uma linha bilionária de financiamentos com recursos do BNDES para Estados e municípios investirem em segurança pública - um dos temas que devem ser centrais na campanha deste ano.

Mesmo com vários governos regionais impedidos de contratar novos empréstimos, por causa da situação financeira ruim, Rabello acenou com uma solução: usar um "pouco de criatividade" para acessar os recurso.

A declaração foi mal recebida na área econômica por remeter à época da "contabilidade criativa" que manchou a gestão das contas públicas no governo Dilma Rousseff. Durante o mandato da petista, o BNDES foi usado para turbinar os empréstimos a Estados com uma linha de R$ 20 bilhões, o que contribuiu para agravar o endividamento de alguns deles.

Para uma fonte da área econômica, a sinalização feita por Rabello tende ao populismo e é chamativa para ganhar votos. O BNDES, no entanto, adota critérios mais duros que o próprio Tesouro Nacional na concessão de financiamentos.

No dia do anúncio dos recursos, em 1.º de março, integrantes do banco foram surpreendidos pelas falas de Rabello. Os trabalhos têm sido intensos para viabilizar as operações antes de o processo eleitoral impedir os desembolsos, o que ocorrerá a partir de 1.º de julho.

Reestruturação

Na quinta-feira, 8, o presidente do BNDES admitiu, durante um evento em São Paulo, a criação de uma nova diretoria no banco, para aproximar clientes e fornecedores.

Mas segundo apurou o Estadão/Broadcast, a estruturação em estudo é bem mais ampla e envolve outros postos da cúpula do banco.

A dança das cadeiras vai ocorrer a pouco tempo do prazo que Rabello tem para deixar a presidência do BNDES, que é 7 de abril. Ontem, ele indicou que mantém a disposição de se lançar candidato, mesmo que contra Temer. Por isso, o momento é considerado inadequado.

O temor entre os integrantes da cúpula do banco é que isso atrapalhe o funcionamento da instituição, já que seu sucessor pode querer fazer outras mudanças.

No Planalto, a saída de Rabello é dada como certa, o que ameniza a pressão para retirá-lo após uma série de embates com o governo. O maior deles foi quando se posicionou contra a substituição da taxa de juros dos financiamentos do BNDES, um projeto da equipe econômica.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, um dos "candidatos" à vaga é o atual presidente do Ipea, o economista Ernesto Lozardo, também amigo de Temer. Ele já participa do grupo de trabalho do governo para discutir o futuro do banco de fomento.

Na área econômica, a preferência é pelo secretário de Acompanhamento Fiscal do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, e pelo secretário Executivo do Ministério do Planejamento, Esteves Colnago, que é presidente do Conselho de Administração do BNDES.

Mansueto também integra o conselho. Os nomes de dois diretores do BNDES, Carlos Thadeu de Freitas e Carlos da Costa, também estão na disputa.

Indicações

A briga pela sucessão de Rabello está enredada com a substituição de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, outro membro do governo que pretende concorrer ao Planalto.

Nos bastidores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer apadrinhar o novo nome do titular do BNDES, mas o líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), também reivindica a indicação.

Rabello deixará a presidência do BNDES menos de um ano após assumir o cargo. Ele foi nomeado em maio de 2017, em substituição à economista Maria Silvia Bastos, que pediu demissão do comando do banco.

Na época, era filiado ao Novo, partido que deixou no início de outubro para ingressar no PSC. Por ser de perfil liberal, a filiação do executivo a um partido com perfil mais conservador gerou surpresa inclusive no círculo mais próximo de Rabello de Castro. Ele, no entanto, sempre se justificou dizendo estar "bem ambientado" no PSC.

A reportagem tentou contato com Rabello durante o dia de quinta, mas não teve retorno. O BNDES diz que não comenta eventuais decisões de caráter pessoal do presidente ou de qualquer membro da diretoria.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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