Brasil

PP arrecadou propina até em negócio com Viagra, diz doleiro

Alberto Youssef disse que o esquema de arrecadação de propina do PP via José Janene chegou a render comissionamentos sobre uma transação envolvendo o Viagra


	Alberto Youssef é escoltado: Youssef disse lembrar que o laboratório Pfizer era um dos envolvidos, "sendo a operação ligada ao medicamento Viagra"
 (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Alberto Youssef é escoltado: Youssef disse lembrar que o laboratório Pfizer era um dos envolvidos, "sendo a operação ligada ao medicamento Viagra" (Rodolfo Buhrer/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de março de 2015 às 22h26.

São Paulo e Curitiba - O doleiro Alberto Youssef - peça central da Operação Lava Jato - afirmou em sua delação premiada que o esquema de arrecadação de propina do PP via José Janene (PP-PR) - morto em 2010 - atuou também no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), chegando a render comissionamentos sobre uma transação envolvendo o medicamento Viagra.

"O PP possuía cargos importantes no Ministério da Saúde e na Anvisa, tendo recebido comissionamentos junto a laboratórios", disse Youssef, em depoimento no dia 21 de outubro de 2014, dentro de seu acordo de delação premiada - agora sem sigilo. Ele atribui a informação a Janene - o ex-líder do PP, que foi pego no mensalão do PT e desencadeou a origem da Operação Lava Jato.

Aos investigadores, Youssef disse lembrar que o laboratório Pfizer era um dos envolvidos, "sendo a operação ligada ao medicamento Viagra" - lançado no fim da década de 90. Composto de citrato de sildenafila, o Viagra é usado no tratamento da disfunção eréctil no homem.

O fármaco também é usado como medicamento para hipertensão pulmonar - nesse caso, a Lava Jato já investigava a atuação, em 2014 do doleiro, no Ministério, via laboratório Labogen.

Valores

A recordação sobre o caso do Viagra, segundo o doleiro, era "em especial por conta de Janene ter recebido amostras grátis desse medicamento e distribuído a amigos em tom de brincadeira".

Segundo ele, isso ocorreu entre 2002 e 2003. O doleiro declarou que recebeu "valores das mãos de Janene, acreditando que isso tenha ocorrido por quatro ou cinco vezes, totalizando cerca de R$ 1,5 milhão".

O dinheiro era recebido "em espécie e em reais, em São Paulo", em hotéis onde Janene se hospedava. Um deles, na Alameda Campinas, próximo a uma cantina italiana", detalhou o doleiro. Youssef contou que recebia e transportava até Brasília, "sendo os recursos entregues no apartamento funcional de Janene". Segundo ele, "a influência de Janene junto ao Ministério da Saúde tenha durado pouco tempo, entre 2002 e 2003, aproximadamente".

O doleiro citou que em 2003 o senador Humberto Costa (PT-PE), então ministro da Saúde, "manifestou contrariedade em relação à permanência do indicado de Janene junto ao Ministério da Saúde". O funcionário era Luiz Carlos Bueno de Lima, que Youssef não lembrou o nome, à princípio, mas acabou confirmando ser ele, o indicado de Janene, após ver foto do suspeito.

"Com a interveniência de Aldo Rebelo (PCdoB, ex-ministro dos Esportes do governo Dilma Rousseff), Janene aceitou que tal pessoa fosse desligada, todavia ressalvou que a mesma deveria pedir demissão e não ser demitida."

Lula

Costa teria desrespeitado o acordo e demitindo o indicado de Janene, que ficou indignado, sendo necessária a intervenção do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

"O então presidente Lula tinha conhecimento ao que sabe das indicações feitas por Janene perante o governo", declarou Youssef no capítulo sobre o Viagra.

O doleiro "diz não saber se Lula possuía algum conhecimento acerca do comissionamento envolvendo a Anvisa e Ministério da Saúde".

Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos, até a publicação desta reportagem. A assessoria do ex-presidente Lula informou que não responderia à citação de Youssef.

A Anvisa diz que não foi questionada pelas autoridades competentes sobre as supostas denúncias contidas no Termo de Colaboração e fará qualquer esclarecimento necessário no momento em que for acionada.

A Pfizer diz desconhece o teor das denúncias nega qualquer envolvimento em atividades ilícitas ou antiéticas que pudessem beneficiar Viagra ou qualquer produto da empresa, "bem como repudia condutas desta natureza".

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoDoleirosEmpresasEmpresas americanasEscândalosFraudesOperação Lava JatoPfizerRemédios

Mais de Brasil

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência