Funcionários manipulam carne em frigorífico da JBS (Diego Giudice/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2014 às 11h29.
São Paulo - Dezenas de milhares de empresas e pessoas já doaram para as campanhas eleitorais de 2014 até agora, mas a maior parte do valor total arrecadado pelos partidos vem de um seleto grupo de doadores.
Das 15.733 pessoas físicas e jurídicas que contribuíram com mais de R$ 100 para as campanhas na primeira prestação de contas, feita no início de agosto, apenas 32 delas foram responsáveis por 50% do total doado.
A maior doadora até a primeira parcial das contas foi o frigorífico JBS, que está bancando R$ 59 milhões em gastos de candidatos e partidos neste ano. Sozinha, a empresa representa 15% do total de R$ 390 milhões arrecadados de doadores que contribuíram com mais de R$ 100, conforme levantamento da Transparência Brasil e do Estadão Dados.
Em seguida, vêm a construtora OAS, a fabricante de bebidas Ambev e a construtora Queiroz Galvão, com R$ 17 milhões, R$ 16,7 milhões e R$ 11,3 milhões, respectivamente.
Além de empreiteiras e gigantes dos ramos de bebida e alimentos, o ranking das empresas que mais doaram têm empresas de telecomunicações (como a Telemont), do ramo hospitalar (Hospital 9 de Julho) e bancos (como o Safra).
Para Cláudio Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, a distância financeira entre os maiores e os menores doadores confere um poder desequilibrado de influência das grandes empresas sobre os candidatos que venham a ser eleitos.
"Essa é uma das principais deficiências do sistema brasileiro de financiamento eleitoral: a inexistência de um teto absoluto para as doações que uma empresa pode realizar abre as portas para o que se pode literalmente chamar de compra de influência sobre os candidatos."
A ONG não é contra a doação de empresas a políticos ou partidos, mas defende maior controle sobre as contribuições. Para Abramo, se houvesse limite para o total que uma empresa ou pessoa física pudesse doar, a distância entre os maiores e os menores se reduziria drasticamente, o que reduziria o poder de influência dos gigantes.
Fernando Filgueiras, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concorda. "Não devemos esperar, por parte dos doadores de campanha, inocência ou endosso entusiástico a esta ou aquela campanha. O que doadores esperam é poder de influência sobre decisões políticas e no formato das políticas publicas", observa.
"É evidente que ela cria uma distorção enorme na representação política e influência no jogo de poder, porque certamente estes doadores terão um acesso privilegiado no processo de decisão."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.