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Por que uma onda de ataques agora pode não ser interessante para o PCC?

Ações coordenadas em 2006 foram reação à transferência de Marcola para o interior do estado. Doze anos depois, chance de PCC repetir ataques é baixa

PCC: dessa vez, a facção está com outras prioridades e não deve fazer ataques coordenados (Josemar Goncalves/Reuters)

PCC: dessa vez, a facção está com outras prioridades e não deve fazer ataques coordenados (Josemar Goncalves/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2019 às 12h38.

São Paulo — Em 2006, o Primeiro Comando da Capital (PCC) levou menos de dois dias para organizar o maior ataque de uma facção criminosa já registrado em São Paulo.

O gatilho para os atos de violência foi a transferência de seu líder máximo, Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, para um presídio em Presidente Venceslau (612 quilômetros de São Paulo). Na mesma operação, outros 700 criminosos ligados à facção também foram deslocados de unidade.

Naquele ano, durante quase uma semana, os brasileiros assistiram atônitos a agentes de seguranças sendo mortos, dezenas de ônibus incendiados, delegacias alvo de tiros e megarrebeliões em presídios. Durante dias, a capital ficou paralisada.

Doze anos depois, a transferência de Marcola na semana passada para um presídio federal em Porto Velho (RO), a 1.700 quilômetros de Presidente Venceslau, colocou a população e as autoridades novamente em alerta. Outros 21 membros da facção também foram enviados para detenções federais.

Apesar da tensão, seis dias depois da operação, a expectativa de especialistas em segurança pública ouvidos pela reportagem é de que a onda de ataques de 2006 não volte a se repetir.

"As organizações sempre avaliam as consequências a partir de experiências do passado. Do ponto de vista do PCC, o momento é diferente, não faz mais sentido ir para o 'tudo ou nada'", explica Camila Nunes Dias, especialista em PCC e co-autora do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil" (Todavia, 2018).

Se por um lado, os ataques de 2006 favoreceram a imagem do PCC — que foi elevado ao patamar de um dos maiores grupos organizados do país, por outro, a onda de violência também trouxe um saldo negativo para a facção.

Segundo documentos interceptados pela polícia em 2018, os atentados impactaram os negócios da organização, que teve que correr para recuperar as perdas com a venda de drogas.

Em doze anos, a facção se tornou mais sofisticada e profissionalizada. "O PCC se alastrou por outros estados, cresceu e está fazendo negócios com traficantes de países vizinhos. Para eles, que já se consolidaram como uma grande facção, não é bom negócio trocar tiro com polícia, mas sim fazer esquemas. Quanto mais organizado, menos violento", diz Tulio Khan, especialista em segurança pública que trabalhava na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em 2006.

Mesmo assim, nas primeiras horas após a transferência dos membros do PCC para presídios federais, a  Secretaria de Segurança Pública (SSP)do estado lançou uma operação especial com o objetivo de liquidar possíveis reações da facção. Durante 24 horas, foram mobilizados 21 mil policias militares para atuarem em mais de três mil pontos estratégicos da cidade. De acordo com a SSP, nesse período, 326 pessoas foram presas.

Na sede do Ministério Público de São Paulo (MPSP), por exemplo, a segurança foi reforçada. "O acesso [de pessoas no prédio] nunca foi tão controlado", resume um funcionário que, por motivos de segurança, preferiu não ser identificado.

Na madrugada desta segunda-feira (18), dois suspeitos de envolvimento com a facção foram mortos ao tentar realizar um suposto atentado contra a Polícia Militar, perto do Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, segundo revelou o portal Vice. De acordo com a reportagem, os criminosos foram interceptados pelos policiais após uma denúncia anônima. 

"Nos próximos dias, é possível que aconteçam casos esporádicos, como rebeliões isoladas, roubo de carga e de carro forte para gerar receita mais rápida. Mas uma reação coordenada tem menos risco neste momento", afirma Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum de Segurança Pública.

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