Parque do Ibirapuera está fechado desde o fim de março (filipefrazao/Thinkstock)
Clara Cerioni
Publicado em 22 de junho de 2020 às 21h10.
Última atualização em 22 de junho de 2020 às 21h59.
Com a flexibilização da quarentena já em curso em partes do estado de São Paulo, uma questão vem chamando a atenção: por que os parques seguem fechados?
As evidências científicas conhecidas até agora sobre o novo coronavírus apontam que o risco de transmissão é muito mais baixo em lugares abertos do que fechados.
No entanto, os parques, fechados no início de março junto com o resto dos estabelecimentos, seguem ignorados em um momento no qual os paulistanos já podem circular por comércio e shopping centers. Muitos destacam que a prática de esportes e caminhadas ao ar livre teria efeitos positivos importantes de saúde mental e física, especialmente após um isolamento tão longo.
Na semana passada, Carlos Carvalho, chefe do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo, disse que estava avaliando a abertura de parques de forma a garantir condições de segurança e o necessário distanciamento social.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira, 22, que está avaliando a abertura dos parques públicos no estado:
"É um tema que está sendo discutido neste momento junto com as prefeituras, a começar pela capital de São Paulo. E obviamente com a Secretaria de Meio Ambiente do estado. Não há uma decisão deliberada, mas o tema está em debate", disse ele no Palácio dos Bandeirantes.
O Plano São Paulo, que estabelece fases mais ou menos restritivas da quarentena de acordo com relevância econômica e risco de contágio, não lista em que fase os parques poderiam abrir.
Comércio de rua e shoppings podem funcionar a partir da fase 2, mas com limite de 20% da capacidade. Na capital, estes setores estão funcionando desde os dias 10 e 11 de junho.
O médico sanitarista e professor na Escola de Medicina da PUC do Paraná, campus Londrina, Gilberto Berguio Martin, explica que a probabilidade de contágio é muito maior nestes ambientes fechados.
"O vírus sobrevive mais onde não tem muita circulação de ar. Tanto é que a recomendação em casa é sempre deixar as janelas abertas. Além disso, em ambientes fechados, há a probabilidade de aglomeração", diz Martin que foi secretário da Saúde do Paraná durante a pandemia de H1N1, em 2009.
Ele avalia, no entanto, que com os níveis atuais de contágio até a abertura já feita até agora é arriscada demais e que será difícil convencer a população a retroceder caso seja necessária:
"Houve uma pressão por parte dos segmentos e gradativamente os governos foram cedendo", diz. "Essa discussão de que vai ter distanciamento e álcool em gel é apenas uma desculpa para justificar uma abertura na contramão da necessidade sanitária", completa.
Nabil Bonduki, professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e que foi relator do Plano Diretor de São Paulo, defende que os parques deveriam ter sido abertos antes dos shoppings e do comércio de rua, por serem lugares ao ar livre.
"É meio óbvio que os shoppings e o comércio têm interesse econômico e pressionaram o prefeito [Bruno Covas] e o governador. O estranho é abrir os parques depois de abrir os shoppings", diz.
Ele destaca, porém, que é preciso estabelecer regras e procedimentos para que a abertura destes espaços não implique maior risco de contágio:
"Seria necessário fazer algum tipo de controle de acesso, só um portão para entrada e outro com saída, e tempo máximo de permanência. Não faz sentido o Minhocão ficar totalmente deserto aos finais de semana", diz ele.
No Rio de Janeiro as praias foram fechadas no fim de março. Atualmente só é permitido caminhar, correr e andar de bicicleta na orla. Ficar na areia ainda está proibido. O Central Park, em Nova York, não chegou a ficar fechado, mas desde o relaxamento do isolamento social na cidade, a polícia controla o acesso, principalmente a parte chamada Sheep Meadow, onde tem um grande gramado.
Desde o começo de junho está em vigor uma nova etapa do Plano São Paulo, que estabelece as fases da quarentena. O estado foi dividido em 17 regiões que são avaliadas a cada duas semanas em quesitos como ocupação de leitos de UTI, variação de casos e de óbitos.
A escala vai de 1, a mais rigorosa, até a 5, a de abertura total. A capital e região metropolitana estão na fase 2, em que é permitida a abertura do comércio e shoppigns, com capacidade de 20% e somente por 4 horas.
A possibilidade de a capital avançar para a terceira fase será discutida e anunciada na sexta-feira, 26. Se houver piora, é possível um endurecimento da quarentena — como ocorreu em Campinas, por exemplo.
Mas se houver o avanço esperado, bares e restaurantes poderiam voltar a funcionar com capacidade reduzida na cidade a partir da segunda-feira, 29. Os parques? Não se sabe.