Preparação do protesto em Brasília: acesso fechado, mas poucos manifestantes (./Agência Brasil)
Luiza Calegari
Publicado em 20 de julho de 2017 às 07h00.
Última atualização em 20 de julho de 2017 às 12h32.
São Paulo – Às vésperas do impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff amargava uma rejeição de 64%, segundo o Datafolha; atualmente, a rejeição ao governo de Michel Temer chega a 69%.
Nesta quinta (20), movimentos de esquerda prometem uma série de atos em diversas cidades brasileiras pela saída de Temer e em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar da presença confirmada do petista, a expectativa é de que os protestos desta quinta não encham as ruas como os atos pelo impeachment de Dilma.
EXAME.com ouviu três cientistas políticos para tentar explicar a aparente apatia dos brasileiros: Cícero Romão, da USP; Paulo Baía, da UFRJ; e Dawisson Lopes, da UFMG.
Uma sondagem do grupo de Pesquisas em Inteligência de Mercado da Abril, em parceria com a MindMiners, também forneceu alguns indicativos, a partir de entrevista com 500 pessoas, de todas as classes sociais e maiores de 18 anos.
De acordo com o professor Paulo Baía, da UFRJ, o momento atual é de uma espécie de ressaca de manifestações.
"Tudo leva a crer que as pessoas têm se manifestado nas redes sociais, que se mantêm informadas sobre a situação política do país, mas ainda não houve um grande catalisador capaz de levá-las às ruas", disse.
A percepção, no entanto, é de que manifestar-se muda pouca coisa. “O quadro de corrupção não muda com os protestos, e as pessoas acabam exercendo uma revolta individualizada”, opina Baía.
Além da rejeição aos sindicatos, apontada por Dawisson Lopes, da UFMG, e por 43% dos entrevistados na sondagem, uma justificativa específica se destaca: o medo da violência policial.
Ao contrário das manifestações pelo impeachment, nas quais a polícia não interveio, Lopes afirma que nos atos contra Temer e suas medidas é comum que as manifestações sejam dispersadas com gás lacrimogêneo.
Há medo da violência da polícia, discordância das ações dos próprios manifestantes e um outro aspecto mais psicológico: o receio de que novas mudanças piorem ainda mais o cenário político.
“Pode haver uma percepção de que as pessoas foram às ruas, teve o impeachment, mas a situação econômica está delicada, e o resultado de novos protestos pode ser ainda pior”, segundo Cícero Romão, da USP.
Embora a corrupção tenha aparecido na maioria das respostas dos entrevistados na pesquisa da MindMiners, a hipótese de Cícero Romão, da USP, é a de que essa não era exatamente a raiz dos protestos. Na visão dele, o que levou milhares às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff foi o sentimento contra o PT.
“Se fosse contra a corrupção, as mesmas pessoas estariam nas ruas contra o governo Temer também. Acho que na verdade, as classes médias, que normalmente vão às ruas, são muito mais tolerantes a um governo antipetista, qualquer que seja”, afirmou.