De acordo com o MPF, Lula teria recebido R$ 3,7 milhões em propinas, por meio de três contratos da OAS (Evaristo Sá / AFP)
Marcelo Ribeiro
Publicado em 14 de setembro de 2016 às 19h43.
Brasília - Caiu como uma bomba a declaração do procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal e coordenador da força-tarefa, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o comandante máximo do esquema de corrupção. Mas, afinal, por que o MPF acredita que o petista chefiou a corrupção?
Lula foi denunciado à Justiça nesta quarta-feira (14), acusado de crimes de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, ex-presidente teria recebido R$ 3,7 milhões em propinas, por meio de três contratos da OAS. Além do petista, a mulher dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas foram denunciadas. Caberá à Justiça decidir se eles se tornarão réus.
Em coletiva de imprensa, Dallagnol afirmou que “as propinas foram pagas de forma dissimulada, com a compra e reforma de um apartamento tríplex em Guarujá e custeio do armazenamento de bens do ex-presidente”.
O promotor revelou ainda que existem 14 conjuntos de evidência contra o petista. “Ele foi o maior beneficiário do esquema”.
Lula e o tríplex
O MPF desconstruiu a alegação da defesa de que o ex-presidente não chegou a comprar o imóvel. Para isso, apresentaram documentos e rastrearam pagamentos que demonstraram que a OAS reservou o apartamento para o petista por vários meses e o reformou, sob a orientação de Marisa Letícia, conforme indicam mensagens extraídas do celular de Léo Pinheiro.
“Em se tratando de lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de se manter as aparências de licitude, não teremos aqui provas cabais de que Lula é efetivo proprietário no papel do apartamento. Pois, justamente, o fato de ele não configurar como proprietário do tríplex, da cobertura em Guarujá, é uma forma de ocultação de dissimulação da verdadeira propriedade”, afirmou Roberson Pozzobom, procurador.
A empreiteira, de acordo com laudos da investigação, gastou R$ 1,1 milhão em reformas, compras de móveis e de eletrodomésticos para o tríplex de Lula.
"Eles [Lula e Marisa] receberam a cobertura em pagamento de propina. Ela tem valor de R$ 1,5 milhão, e o valor que eles tinham pago era de R$ 340 mil."
Depósito de bens
Outra denúncia que recai sobre o ex-presidente conta com mais de 270 tópicos. De acordo com os procuradores, a autoria de Lula está evidenciada nos pagamentos efetuados pela OAS em favor da Granero para armazenagem de parte dos bens e pertences pessoais apontados como sendo de propriedade do petista.
“Soma-se a isso o fato de que os pagamentos da armazenagem dos bens pessoais pertencentes a Lula foi assumida por empresa que se beneficiou diretamente dos ilícitos praticados em desfavor da Administração Pública Federal, notadamente da Petrobras, e tinha uma dívida de propinas com esquema de governo e partidário (era uma das empreiteiras cartelizadas). Além disso, tal empreiteira era controlada por Léo Pinheiro, pessoa muito próxima de Lula”.
Segundo a Polícia Federal, a OAS desembolsou R$ 21,5 mil por mês, entre 2011 e 2016, para que bens de Lula ficassem armazenados em depósito da empresa Granero.
O escândalo da Petrobras
O esquema de corrupção envolvendo a Petrobras - chamado de "petrolão" - ganhou força quando Lula chegou à presidência, segundo Dallagnol. Isso porque ele teria papel determinante na nomeação de gerentes e diretores da estatal, como Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, que foram presos na Lava Jato.
"Lula nomeou diretores para atender interesses do PP e do PMDB. Há muitas evidências de que esse esquema era partidário, sendo gerenciado primordialmente pelo PT", apontou.
Além disso, o procurador disse que outra prova de que Lula era o líder do esquema foi a continuidade dos atos corruptos mesmo após a saída do ex-ministro José Dirceu do governo.