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Por que Dilma deve poupar a munição daqui para frente

Após alguns dias de ataques contra Marina Silva (PSB), tendência é que Dilma baixe o tom (e a artilharia) nos próximos dias - pelo menos até o segundo turno


	 Dilma Rousseff : tanto ela quanto Marina já estão de olho na estratégia para ganhar o segundo turno
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Dilma Rousseff : tanto ela quanto Marina já estão de olho na estratégia para ganhar o segundo turno (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 22 de setembro de 2014 às 10h15.

São Paulo – Depois de abraçar a Petrobras em um ato simbólico contra Marina Silva (PSB) e dar a entender que a adversária acabaria com as férias ou 13º salário, a tendência é que a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) diminua o tom daqui para frente – pelo menos, até o segundo turno.

“O que fica evidente é que o PT já assimilou que não adianta ficar criando mecanismo de apelação”, afirma Roberto Gondo, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente da Politicom, sociedade que reúne profissionais e pesquisadores de marketing político.

Afinal, segundo o especialista, a postura de ataque pode tanto render um crescimento meteórico nas pesquisas quanto garantir belo tiro no pé durante uma campanha eleitoral. “Dá brecha para a vitimização do adversário”, afirma. “Quem acusa sempre sai como o vilão da história”.

Tal brecha já entrou para a estratégia da campanha do PSB que, no último programa no horário eleitoral, recorreu ao passado humilde de Marina para rebater a acusação de que ela acabaria com o Bolsa Família.

Depois do dia 5 de outubro, quando acontece o primeiro turno, a eleição deve ganhar outra cara, de acordo com o professor. Não por acaso, a campanha do PSB está focando esforços nesta saga. Com o mesmo tempo na TV que o PT, o partido até escalou o cineasta Fernando Meirelles, que atuará como uma espécie de consultor dos programas televisivos da campanha.

Veja trechos da entrevista do professor a EXAME.com: 

EXAME.com: Já há indícios de que os ataques de Dilma contra Marina se esgotaram? 
Roberto Gondo: Quem bate muito fica em uma posição difícil. Essa é uma comunicação política estratégica que dá brecha para a vitimização do adversário – e a Marina já começou a se colocar nesta posição. 

O que fica evidente é que o PT já assimilou que não adianta ficar criando mecanismo de apelação porque vai acabar sendo conduzido para o segundo turno, que será a missão mais difícil que eles tiveram nos últimos 12 anos. O discurso inflamado é a maior conotação de desespero da campanha.

EXAME.com: Mais difícil que as eleições de 2002?
Roberto Gondo:
Sim. O Lula trabalhava com o mote de campanha de que a esperança iria vencer o medo – não tem como você ir contra essa estratégia. Hoje, você tem um partido exposto por mais de 12 anos, com inúmeras denúncias, e a Marina com uma possibilidade de convencer grande parte dos eleitores do Aécio. Esta é a campanha mais dor de estômago para o PT.

EXAME.com: Alguns especialistas têm falado que há duas possibilidades quando a campanha atinge este nível: ou o candidato incita a raiva ou o medo. Ao se posicionar como vítima, Marina tenta estimular a raiva dos eleitores contra Dilma?
Roberto Gondo
: Quando se [apresenta como] vítima, você fala que seu adversário está apelando desnecessariamente. Isso foi feito pelo Lula em 2006, com o Geraldo Alckmin.

Quem acusa sempre sai como o vilão da história. Além disso, tanto Marina quanto Dilma fizeram parte da base de governo. Quanto mais agride, mais ela coloca a própria história em jogo. Isso só prejudica o PT. 

Ao mesmo tempo, Marina tem um biotipo que induz à pena, enquanto Dilma parece ser mais turrona. Este conceito do corpo fala muito na construção da personagem. Isso é importante na reta final da campanha.

EXAME.com: O que rende mais voto: a raiva ou o medo?
Roberto Gondo:
Depende do contexto. A campanha do medo na eleição de 2014 é algo complexo porque está explorando a fragilidade da governabilidade [de uma eventual vitória] de Marina. Se você observar os eleitores, o percentual de pessoas que compreendem o sistema político brasileiro é baixo.

Em 2002, o medo que se tinha era de que o Brasil iria virar um país socialista, isso atinge muito mais ao eleitor. A não ser que eles criem uma estratégia agressiva de guerrilha, dizendo que a Marina vai acabar com o Prouni ou com o pré-sal. Aí, já entra no lado sujo.

EXAME.com: De certa forma, isso já está sendo feito.
Roberto Gondo:
Mas não é tão agressivo. Quando você ataca e vem defesa, só muda o voto de quem acompanha o contexto da campanha e assiste o horário eleitoral.

EXAME.com: Falar da Petrobras e de que a Marina irá mudar a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) assusta?
Roberto Gondo:
A Petrobras é emblemática, é vista como um patrimônio do brasileiro. Mas a ideia de que a Marina vai mudar a CLT atinge mais o eleitor do que a história da Petrobras. É só a Marina ir na televisão tranquilizar o eleitor que acabou [o medo].

EXAME.com: A campanha de Marina concentra esforços no segundo turno, quando terá o mesmo tempo de Dilma na TV. Isso, realmente, faz diferença?
Roberto Gondo: O segundo turno será outra eleição. Para Marina, já é uma vitória ir para o segundo turno emparelhada com Dilma. Isso vai facilitar a busca de recursos da campanha e visibilidade.

EXAME.com: Mais tempo na TV ainda faz diferença no voto?
Roberto Gondo:
Estamos falando de inúmeros perfis de brasileiros. Para um cara que vota no interior do Acre e não sabe o que está acontecendo, a televisão, para cargos majoritários, ainda faz muita diferença, principalmente no segundo turno.

EXAME.com: O esquema de corrupção da Petrobras será explorado no segundo turno?
Roberto Gondo
: A probabilidade é que não. Se os indícios de propina para o PSB forem provados teremos os dois partidos envolvidos com o escândalo. No segundo turno, não tem candidato pequeno para pôr fogo no circo.

EXAME.com: A campanha do Aécio fala de virada. O senhor acha isso possível?
Gondo:
Se a eleição fosse daqui três meses, ele teria condições de explorar mais o escândalo da Petrobras, já que o PSDB não estava no governo. Mas não vai dar tempo. Dentro da conjuntura atual, a possibilidade de virada é remota.

EXAME.com: Marina foi a única a mostrar um plano de governo até agora – que deu o que falar. Foi um erro apresentá-lo já que os outros dois principais candidatos não fizeram isso?
Roberto Gondo:
Plano de governo não dá voto, só abre brecha para que seus adversários ataquem você. Não foi erro, foi imaturidade de Marina. Ela foi pega de surpresa. Ao mesmo tempo tinha que cuidar de um problema dogmático dela, que é evangélica, observar o PSB e perseguir votos.

EXAME.com: E o discurso de terceira via de Marina?
Gondo:
Uma terceira via só se sustenta se você tem argumentos de adversidade. O governo tem que estar muito ruim para isso. Como os governos do PT e do PSDB não foram crassos, significa que o Brasil está indo pela comoção da identificação de Marina. As pessoas estão apostando em uma terceira via, querem mudar o que não está bom, mas nem sabem o que está ruim. 

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