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Por que a reforma ministerial de Dilma ficou mais difícil

Para especialistas ouvidos por EXAME.com, Operação Lava Jato deve atrasar formação da nova equipe de ministros de Dilma Rousseff

Posse dos ministros de Dilma Rousseff em 2011: compor nova equipe será mais difícil  (Roberto Stuckert Filho/PR/Creative Commons)

Posse dos ministros de Dilma Rousseff em 2011: compor nova equipe será mais difícil (Roberto Stuckert Filho/PR/Creative Commons)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 19 de novembro de 2014 às 11h37.

São Paulo – Com um Congresso Nacional mais fragmentado a partir de 2015, a missão de Dilma Rousseff (PT) para costurar a sua nova equipe ministerial já não era fácil. Agora, sem certeza de quem integra a lista dos políticos envolvidos no suposto esquema de corrupção na Petrobras, a tarefa se tornou mais difícil, segundo cientistas políticos consultados por EXAME.com.

“Como é que você vai montar um governo se não sabe com quais políticos contar?”, questiona Roberto Romano, professor titular de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Se Dilma indica nomes comprometidos pelas delações será um desastre. Mas se ela segurar a reforma para depois de sua posse também será catastrófico”.

Os atuais ministros tinham até ontem para colocar seus cargos à disposição da presidente, mas o pedido de demissão da ex-ministra da Cultura Marta Suplicy na última semana adiantou o processo. No último domingo, a presidente Dilma afirmou que todos os membros da equipe já tinham tomado uma atitude semelhante.

A expectativa era de que a presidente anunciasse os primeiros nomes da sua equipe já esta semana. Contudo, para analistas ouvidos pela reportagem, a reforma pode não vir tão cedo. “Há um tempo, [o doleiro Alberto] Yousseff disse que se falasse o que sabia, não haveria eleição. Podemos atualizar isso afirmando que, com o que ele falou, fica muito difícil compor um novo governo”, diz Romano.

Além do risco de indicar supostos envolvidos no esquema, o desenho da nova equipe ministerial é determinante para a garantia da governabilidade do novo mandato petista. 

“Se o PT realmente estiver muito envolvido nos escândalos da Petrobras, o governo ficará fragilizado e vai precisar do apoio dos outros partidos para fazer um controle de danos das consequências dessas investigações”, afirma Pedro Floriano Ribeiro, coordenador do Centro de Estudos de Partidos Políticos da Universidade Federal de São Carlos (UFScar).

Ou seja, a tendência é que a petista fique ainda mais dependente de sua base aliada. E isso significa que Dilma precisará ceder e abrir mais espaço para os partidos da coalizão em seu governo. “Sem fazer concessões, não tem como governar”, diz Ribeiro.

Mas esta prática tem um efeito colateral: quando se concede muitos ministérios para tantos partidos com diferentes projetos políticos, a atuação do Executivo Nacional pode ficar comprometida. “A agenda do governo fica amarrada, ele tem dificuldade para implementar políticas públicas e eventuais reformas”, afirma o professor da UFScar.

Para Carlos Pereira, professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV), o tamanho da base aliada de Dilma e a maneira como ela coordenou o governo de coalizão explicam parte dos problemas do primeiro mandato da petista.

“Quanto maior o número de parceiros, quanto mais heterogêneos eles forem, e quanto menos poder for compartilhado com eles, maiores serão os problemas de coordenação e as derrotas no Congresso. Ela cometeu estes três erros”, afirmou em entrevista a EXAME.com publicada no final de outubro.

Sem levar em conta os ministros que não são ligados oficialmente a nenhum partido, o PT possui filiados em 15 dos 39 ministérios. O PMDB ocupa apenas 3 pastas. Este descompasso é uma das explicações possíveis para a disputa pela presidência da Câmara e a “insurgência” do partido no Congresso.

Apesar de estar entre os principais partidos citados pelos delatores do escândalo da Petrobras, o partido do vice-presidente da República Michel Temer continua uma peça fundamental para o desempenho do novo governo de Dilma. Segundo Romano, o PMDB, mesmo com todos os problemas, ainda é a "espinha dorsal da base aliada". Sem ele, ninguém consegue governar. 

“Isso tudo torna a composição do novo ministério uma operação de engenharia política extremamente delicada”, diz Romano. “Eu não sei se a presidente tem essa delicadeza para montar esta equipe com uma estratégia adequada”. 

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